Quero parabenizar Ulisses Capozzoli pelo texto. Tenho acompanhado todo o noticiário – nacional e o de Rondônia – sobre o assunto e de fato ninguém falou do Massacre do Paralelo 11. A senadora Fátima Cleide, de Rondônia, em cujo gabinete trabalho, falou nisso em discurso na semana passada. Silêncio absoluto. Os que cobrem o Senado preferem tratar das picuinhas entre Renan Calheiros e José Sarney, da briga pela presidência do Senado ou do disse-me-disse em torno do caso Waldomiro. A ignorância da nossa imprensa é grande mesmo. E estão, lamentavelmente, tratando os índios como os grandes vilões. A imprensa de Rondônia, então, nem se fala. Parabéns pelo texto, e concordo plenamente: garimpeiros e índios são vítimas da insensibilidade e da ignorância das autoridades e do chamado (será?) Quarto Poder.
Maraemidi Paraguassu, jornalista, Brasília
Como sioux e cheyennes
A história do massacre dos cintas-largas foi bem recordada por Ulisses Capozzoli. A atuação da imprensa em relação à luta com os garimpeiros está parecendo a da imprensa norte-americana quando os sioux e os cheyennes venceram o capitão Fetterman, dando a este e a seus homens o mesmo tratamento que tinha sido dado a mulheres e crianças cheyennes em Sand Creek, no ano de 1863.
Ricardo Antônio Lucas Camargo, advogado, Porto Alegre
O afã do imediatismo
Muito acertada a postura do senhor Ulisses Capozzoli no tocante ao destrato da imprensa com os cintas-largas e demais comunidades indígenas. Sou jornalista recentemente formado e em meu trabalho de conclusão trabalhei com as questões indígenas nacionais. Faz pensar, tal postura, que o jornalista de hoje tornou-se acefálico e no afã do imediatismo aliena-se da história… Triste essa nossa realidade. Morei com os xavantes no Xingu e por lá eles enfrentam problemas semelhantes.
Thiago Pérez, jornalista, São Paulo
Defesa, não massacre
Enviei a carta abaixo à Folha
Altevir Correia da Silva, auxiliar de escritório, Umuarama, PR
Gostaria que a Folha citasse o massacre do Paralelo 11 ocorrido na década de 60 na mesma região. Isso levaria o leitor saber um pouco mais sobre o que os índios vêm sofrendo nessa região. Acho que o termo ‘massacre’ não deve ser usado, ‘em defesa’ seria mais apropriado.
Preconceituosos e desinformados
A matéria é oportuníssima não só para realmente informar a gênese do conflito envolvendo os índios cintas-largas e os garimpeiros, como também denunciar a falta de profissionalismo da maior parte da imprensa no trato desses assuntos. O editorial do jornal O Estado de S. Paulo, de 21/4/04, além de parte do comentário da jornalista Dora Kramer na mesma edição, são a face da imprensa preconceituosa e desinformada. Infelizmente, a única coisa que a sociedade não-índia ensinou aos índios foi o uso da violência. Os índios que hoje querem explorar áreas da União, pois área indígena não é propriedade dos índios, que são tão somente usufrutuários, aprenderam essa atividade com os não-índios que, há cinco séculos, mais nada fazem do que dilapidar o patrimônio natural do território brasileiro.
Quando só os não-índios exploravam ilegalmente aquelas áreas para retirar diamantes e contrabandeá-los, tendo os índios como mão-de-obra escrava, tudo ia bem, obrigada. Cheguei até a assistir reunião no Congresso Nacional, reclamada por criminosos do garimpo, que exploram inconstitucionalmente aquelas áreas em Rondônia, buscarem ‘legalização’ do que não é passível de ser legalizado. Senador pelo estado de Rondônia se prestou a tanto. No momento em que os índios descobrem que eles poderiam explorar sozinhos, tornam-se assassinos. Infelizmente, muitos daqueles índios já perderam seus traços culturais essenciais e absorveram o que há de mais abjeto da ‘cultura ocidental’ predatória. E, neste momento de percepção de ausência de autoridade, tentar assimilar a radicalização do movimento dos sem-terra com os conflitos em área indígena é tentar confundir a opinião pública, colocando tudo no mesmo balaio.
De há muito que as áreas de ocupação tradicional dos índios, e que são patrimônio da União, é fundamental repetir, são exploradas indevidamente, e por gerarem ganhos inimagináveis são fator de instabilidade, por um lado, mas fonte de riqueza fácil de outro. O explorador firma-se financiando campanhas eleitorais. Tem sua voz no Parlamento e em muitos integrantes do Poder Executivo em municípios, governos estaduais e no governo federal. Enquanto as áreas indígenas permanecerem não demarcadas e, se demarcadas, não tiverem as comunidades indígenas qualquer tipo de apoio para o uso e manejo adequado de suas áreas, continuarão, desta forma, à mercê dos mesmos exploradores e criminosos.
Relembrar o denominado Massacre do Paralelo 11 é da máxima importância para bem situar o problema e se buscar a solução em outras bases. Os índios, na sua esmagadora maioria, não podem e não devem ser confundidos com os Stédiles da vida, bem como com os narcotraficantes que dominam a Rocinha. Quem esbraveja contra os índios deve estar querendo proteger os garimpeiros e/ou quem os explora. E por qual razão?