A “Folha” teria errado ao escolher a manchete principal na edição de domingo, 22 de novembro e, arrependida, decidira sepultar o assunto? A verdade é que ao longo das duas semanas seguintes o jornalão se recolheu e não emitiu um pio sobre o assunto. Não é usual em ambientes onde impera a transparência.
Finalmente na edição dominical de 6/12 (p. A-14), abriu-se a gaveta e dela saltaram os novos lances da prometida ação do Ministério Público Federal para cassar a concessão de emissoras de rádio e TV de propriedade de parlamentares.
O novo capítulo é pífio, quase um recuo: “STF julgará caso de políticos radio-difusores”. Trata-se de uma consulta protocolada na suprema corte pelo PSOL e pela “Intervozes” sobre a legitimidade de parlamentares serem simultaneamente concedentes e concessionários.
Ora, se o Ministério Público Federal considerou esta duplicidade um claro conflito de interesses e iniciou um inédito conjunto de ações para atalhar a aberração, esta consulta classificada como ADPF, Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, não consegue esconder seu intuito apaziguador. A ABERT, ou qualquer outra corporação empresarial, não recorreria a estratagemas mais sutis.
Alguma coisa anda mal quando um jornal com a força e o prestígio da “Folha” produz manchete tão assertiva, logo recolhe-se em silêncio monástico e quinze dias depois retorna com postura tão meiga e compreensiva.
Numa situação com igual dubiedade, o tele-novelista William Shakespeare cunhou sua celebrada sentença – “Há algo de podre no reino da Dinamarca”.
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Alberto Dines é jornalista, escritor e fundador do Observatório da Imprensa