Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Silêncio inaceitável

Os jornais capixabas mantêm seus leitores desinformados sobre denúncias e informações que, desde sexta-feira (30/3), foram divulgados pelo sítio Congresso em Foco, de Brasília, e repercutidas no capixaba Século Diário.


A matéria traz acusações que envolvem o governador reeleito do estado, Paulo Hartung, e o ex-vice-governador Lelo Coimbra, atual deputado federal.


Trata-se de silêncio inaceitável, que só favorece a desinformação. A matéria do Congresso em Foco faz um levantamento minucioso de dados sobre o processo que apura a morte do juiz Alexandre Martins de Castro Filho, ocorrida em 24 de março de 2003, e aponta inconsistências e ausências de informações importantes.


A repórter do Congresso em Foco – sítio dirigido por um jornalista capixaba que já brindou jornais do Espírito Santo com prêmios importantes – na verdade apenas coligiu informações e entrevistou , ou tentou entrevistar, várias pessoas supostamente envolvidas ou que têm informações que ajudariam a elucidar o crime.


O verdadeiro esforço de apuração, levantamento de dados, checagem e confrontação das contradições foi feito por militantes da ONG Justiça Global. É incrível como, no Espírito Santo de hoje, a apuração de fatos mais difíceis e complexos ou não é feita, ou é feito por ongueiros absolutamente desprotegidos. Jornais e jornalistas preferem o conforto do silêncio.


Manchete tardia


As denúncias sobre envolvimento do governador Paulo Hartung e do deputado federal Lelo Coimbra – que, aliás, ofereceu informações esclarecedoras e consistentes à repórter do Congresso em Foco – não podem continuar indisponíveis ao cidadão capixaba que lê, vê ou ouve jornais.


Importante ressaltar que a matéria de Brasília cita o caso do ‘grampo’ supostamente equivocado da Rede Gazeta, que conta com a TV Gazeta, repetidora da TV Globo, os jornais A Gazeta e Notícia Agora, entre outros veículos. O grampo se deu durante dois meses em 2005, e por duas vezes foi requisitada sua continuidade. Ao todo, foram cerca de 6 mil telefonemas interceptados, sobretudo dos 200 jornalistas da empresa.


Surpreendente, sob todos os aspectos, a maneira complacente com que a empresa trata a questão. Apenas quando o caso se tornou público, ganhou a manchete de A Gazeta. Uma empresa jornalística ser grampeada durante meses e tratar o assunto de maneira incompatível com a repulsa que o episódio provocou é não apenas inadmissível e intolerável, mas incompreensível.

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Jornalista, professor da Universidade Federal do Espírito Santo