Acabou o horário de verão, permanece intacto o espírito do verão – desânimo, modorra, inapetência. Nossa mídia não conseguiu recuperar-se do tremendo esforço de janeiro – a catastrófica tromba d’água na região serrana do Rio – e passadas seis semanas continua derrubada, mortiça, exangue, olhos quase fechados.
O trambique aplicado por Sílvio Santos no Banco Panamericano se mostrou muito maior do que o inicialmente anunciado. Os relatórios recentemente liberados sugerem manipulação de resultados, operações maquiadas, má-fé, irresponsabilidade, dolo.
A Folha de S.Paulo tentou levar o assunto para a primeira página implicando nominalmente o maior acionista do banco, Silvio Santos. Não colou. O governo finge que não é com ele porque qualquer punição ou providência mais rigorosa envolverá fatalmente o governo anterior – visivelmente complacente com o mais popular apresentador de TV e dono da instituição.
A Febraban, teoricamente a maior interessada em sanear o mercado financeiro, faz de conta que nada aconteceu, foi apenas um acidente de percurso, sem prejuízo para os depositantes. Mas o prejudicado foi o contribuinte. Não importa: bancos precisam ser confiáveis, mesmo que banqueiros mereçam o xilindró.
A mídia é a grande responsável pelo encobrimento do vultoso desfalque. Silvio Santos não é apenas um apresentador de TV, é um empresário de comunicação, faz parte do exclusivíssimo CDV – Clube dos Donos da Verdade. A desmoralização de um, avacalharia o resto. Eles se detestam, mas precisam conviver e sobreviver. Se o conglomerado de Silvio Santos quebra e o seu principal acionista vai prestar contas na Justiça, cria-se um precedente perigoso.
Graças à disponibilização do acervo da Folha, este observador encontrou numa das primeiras edições do ‘Jornal dos Jornais’ (2/9/1975) alguns dados interessantes sobre a concessão dos canais ao SBT pelo governo Ernesto Geisel e como foram transferidos bens e equipamentos da falida TV Continental para as emissoras de Silvio Santos. Esta incrível história de favorecimentos começou num governo de direita e continua, quase 40 anos depois, num de esquerda. Silvio Santos é um craque.
Apologia a várias mãos
Ronaldo Luiz Nazário de Lima é mais do que craque, é um Fenômeno. Com algumas lágrimas choradas na hora certa e diante da audiência apropriada reverteu um inexorável processo de decadência e encerrou a carreira gloriosamente. A mídia brasileira adora lágrimas, inclusive a mídia esportiva, teoricamente durona, viril.
Sem investigar, todos engoliram aquela história da disfunção da tiróide que impedia o tratamento contra a obesidade. Sem conferir com o que já haviam escrito anteriormente, as melhores penas do jornalismo esportivo puseram-se a saudar o ‘profissional disciplinado’ que não faltava aos treinos, nem furava as concentrações. As convulsões no dia da final contra a França em 1998 mal foram lembradas. A lastimável forma física exibida na derradeira partida (contra o Tolima) não foi mostrada na reportagem sobre a sua despedida. Estragaria o espetáculo e o espetáculo é o que movimenta hoje a cobertura esportiva.
Irrepreensível a trajetória de Ronaldo Fenômeno: gols inesquecíveis, desempenhos gloriosos, articulação ímpar. Seu passado não está em discussão, seu presente, sim. Sua queda não foi trágica como acontece com tantos em tantas modalidades. Caiu bilionário. Por isso é que esta success-story precisou ser maquiada: o talentoso jogador escreveu o sinopse e o grosso da mídia a enfeitou.
Que preguiça…
No final da tarde da sexta-feira (18/2), a região metropolitana de São Paulo sofreu duas horas debaixo de uma tormenta com muito granizo e fortes ventos. Parte da cidade ficou sem luz, sem telefone, sem internet. Ruas encheram, o trânsito deu um nó. A confusão prejudicou o fechamento dos jornais de sábado e de domingo, também a impressão das revistas semanais. Em alguns bairros os serviços só foram restabelecidos na manhã seguinte. Mas nesta manhã seguinte – sábado (19) – os jornalões metropolitanos saíram sem referências ao acontecido na véspera.
Complô? Verão = cansaço, indolência, moleza.