Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Sinais de paz e apelos à guerra

A imprensa brasileira comemora a intervenção da Organização dos Estados Americanos, que reconheceu oficialmente a invasão do território equatoriano pelo exército da Colômbia, mas evitou antecipar uma condenação ao governo colombiano. Segundo os jornais, a decisão rápida e equilibrada diminui a tensão militar, restringindo a crise ao ambiente político, onde predomina a negociação e não as armas.


A cobertura é mais ou menos homogênea, mas claramente os jornais paulistas, o Estadão e a Folha, demonstram possuir estruturas mais especializadas para a cobertura internacional.


O Estado de S.Paulo sempre procurou manter uma equipe de redatores especializados, embora tenha perdido alguns profissionais mais experientes nos últimos anos. A Folha demonstra possuir agilidade na cobertura de detalhes, embora perca na visão de conjunto dos fatos.


Afeganistão e Iraque


Um exemplo dessa diferença pode ser percebido na cobertura que os dois jornais fazem da reunião da Organização dos Estados Americanos.


O Estadão usou os serviços de três agências internacionais e dois jornalistas de sua equipe. Priorizou a estratégia adotada pelos representantes diplomáticos, de restabelecer o princípio da inviolabilidade territorial, que condena a Colômbia e agrada o Equador, mas sem estabelecer punição para os colombianos.


A Folha usou apenas seus recursos próprios e cuidou de preservar os detalhes observados por seu enviado à reunião em Washington, para dar aos leitores um gostinho de exclusividade.


O Globo, teoricamente o jornal brasileiro com mais recursos de captação e tratamento das notícias, por pertencer ao maior grupo de comunicação do país, é o único diário a tomar partido explícito, na direção oposta à que é indicada pela decisão da OEA. Num daqueles minieditoriais infiltrados no meio do noticiário, o jornal carioca defende o direito da Colômbia de invadir países vizinhos para combater as Farc.


É a mesma justificativa usada pelo presidente dos Estados Unidos, George Bush, para ações militares no Afeganistão e no Iraque. Mas não é o tipo de abordagem que contribui para o ambiente de paz e prosperidade que os latino-americanos vinham buscando antes do incidente no Equador.