Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Sobre mentir e omitir

A mentira, hoje, não é pornograficamente explícita. A mentira “cabeluda”, chula, despudorada, adquiriu um supremo refino de embalagem. A verdade foi travestida no mix dos requintes verbais e das imagens aproximadas capazes de fundar o império das verossimilhanças.

O fato é uma fatia servida ao sabor da opção empresarial para interpretar o que deve ou não deve ser notícia. Em um jornalismo marcado pelo mercado, vale o que aparenta. A vida só “existe” se for “confirmada” pela interpretação filtrada da sua “existência”. O que acontece só adquire a sobrevida da existência pela ótica filtrada na edição: e, aí, o intermediário trata pelo lado que melhor atenda sua tendência. Cada coisa recebe potencial injeção de “sentido” segundo outros sentidos.

Daí tanto repórter ventríloquo que reporta, bípede amorfo, apenas a pauta determinada. Passivo. Nada que altere o script determinado pelas chefias. Eis a nova mentira: a omissão!

Aldous Huxley criaria um termo para tal camufla-língua-gem em seu repertório desidratado que chamou “novilíngua” do tal Mundo Novo: o imposto sob lavagem emocional (opressão das imagens de conexão fácil); verborrágica pelo oral (saturação narcótica até “virar verdade”); pelo “pseudo-cientificismo” das premissas equivocadas que viram argumentos “sérios” ao serem fundamentadas em pesquisas tendenciosas; pela farsa da informação farta (o muito do mesmo que nada significa).

Com isso, mentir, hoje, é fundamentalmente omitir. É contar pela metade. É diluir e tornar ralo qualquer possibilidade de magnífica e tônica substância capaz de nos fazer libertários em consciência individual e relação coletiva. É perder o pôr-do-sol no esplendor ao vivo e correr para tentar ver os “melhores momentos” na TV.

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Jornalista