Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Solução de todos os problemas?

Li com muita atenção a maioria dos artigos publicados neste Observatório da Imprensa sobre a TV Pública, especialmente os do mestre Alberto Dines. Os que li, infelizmente, não trataram da questão sobre como será escolhido o quadro funcional: se por nomeações políticas ou concursos públicos. Não se trata de questiúncula. Pode ser que outros textos façam menção ao assunto, mas não tive oportunidade de lê-los.


A única coisa certa até agora é que a panelinha do ministro da Comunicação, Franklin Martins, está formada. A tiracolo, o ex-comentarista das TVs Globo e Bandeirantes levou vários coleguinhas com os quais trabalhou. Até aí, normal. Quem assume cargo de tamanha expressão quer ter ao seu lado gente competente, conhecida e de confiança.


Ocorre que Martins assumiu a área de comunicação do atual governo para fazer as coisas andarem em sua totalidade, não apenas num setor específico. Ou a Comunicação do governo se resume à TV Pública e à Secom? Como fica a comunicação nos ministérios, eternamente relegada a segundo, terceiro plano? Nada mudou. E, se houve alguma mudança, foi para pior.


Salário da patota dá gosto


Em novembro do ano passado tivemos um artigo publicado neste OI sobre o desejo do governo em comunicar-se melhor. Mas, na ocasião, lembramos que essa idéia só iria prosperar se a Secretaria de Comunicação voltasse sua atuação também para os ministérios e órgãos da estrutura federal. Que a Secom saísse do casulo planaltino e olhasse mais a sua volta. O setor se fechou mais ainda. Ficou incomunicável.


Alertamos também que a comunicação nos ministérios é deficiente, já que o assessor da área é nomeado pelo ministro e deixa o cargo quando o titular é exonerado, a pedido ou de ofício. Não há continuidade do trabalho. Os assessores são nomeados para cuidar da imagem do ministro, no máximo. O restante da comunicação fica órfão a cada mudança de ministro.


Muitos podem entender este texto como uma defesa do corporativismo. Pode ser. Mas um corporativismo justo, honesto, de quem busca o reconhecimento há anos e se vê diante de um novo projeto, sem que o governo tenha conseguido melhorar ou resolver outros bem anteriores e bem mais simples.


Mas o atual chefe da Secom só tem olhos para a TV Pública. Ao contrário do que tem dito a presidente da Empresa Brasileira de Comunicação, Tereza Cruvinel, os gastos da emissora pública já começaram. Martins está muito bem assessorado. E o salário da patota dá gosto: coisa de R$ 10 mil para cada um.


Com a palavra, o ministro


Do outro lado estão os técnicos em comunicação social do governo. Todos concursados, qualificados. Pior: muitos deles estão deixando o governo para trabalhar em outros poderes. Faz mais de cinco anos que lutam pela reestruturação da carreira. Em vão. O salário médio de um especialista em comunicação concursado é de R$ 2.000. Há hoje cerca de 300 deles, entre jornalistas, relações públicas e publicitários. Ao invés de propor primeiramente a reestruturação da carreira já existente, Martins virou as costas para ela.


A função de Franklin Martins no governo, até onde se sabe, não é apenas a de colocar em funcionamento a dita TV. As atribuições são mais amplas. Ou o cargo ocupado por ele é o de ministro da TV Pública? As demais coisas seguem paradas. Só se fala em TV Pública na Secom, como se a comunicação do governo se resumisse a isso.


E o modo amador de comunicar dos ministérios, ficará no mesmo? E o entra e sai de assessores de imprensa, a cada mudança na pasta, continuará sem freios? Cadê a tão comentada política de comunicação integrada? A TV Pública vai ser a solução de todos os males dessa área no governo? Com a palavra, o atual responsável pela Secom, senhor TV Pública, o ministro Franklin Martins.

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Jornalista, Brasília, DF