Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

STF dá o tom da mídia

 

O editor do Consultor Jurídico em Brasília, Rodrigo Aidar, falou na sexta-feira (3/8) sobre a cobertura jornalística do primeiro dia do julgamento do mensalão.

Rodrigo Haidar Eu acho que a imprensa fez a cobertura possível diante dos debates de ontem [quinta, 2/8], retratou bem o que aconteceu, porque ontem, a despeito da questão técnica que foi julgada, o que se viu foi um clima muito tenso, e os ministros gastando um dia inteiro de sessão para julgar uma questão de ordem. A cobertura da imprensa, é claro, foi puxada por isso, e como não houve mais debates técnicos, a não ser a leitura do relatório depois, eu acho que a imprensa fez a cobertura possível desse primeiro dia, dia bastante tenso, com os ministros todos armados – e isso foi bem retratado pelos jornais – e prestes a explodir a qualquer momento. O julgamento começou com um debate acalorado e um ministro acusando o outro colega de deslealdade.

Você acha que vai haver uma certa teatralização por parte dos próprios juízes?

R.H. Eu acho. Eu acho que o próprio Supremo está fazendo com que a imprensa cubra esse julgamento como um espetáculo, porque o Supremo criou o clima de espetáculo em torno desse julgamento, a partir de pequenas coisas e grandes, desde as credenciais especiais para poder entrar no plenário, dos advogados, da imprensa, de tudo, até os grandes debates que estão se dando no Supremo e o nervosismo deles. Esse clima de teatro está sendo criado pelo próprio STF, e ao manter esse processo com 38 réus no Supremo − isso que já foi decidido, e foi debatido ontem de novo −, o Supremo atrai para si esse clima que está dando o tom do julgamento, pelo menos até agora. Vamos ver se quando começarem as defesas esse clima de teatro fica mais ameno.

Sai Brito, entram Barbosa e Lewandowski

Uma pergunta sobre uma preocupação que não aparece nos jornais: como vai ser a sucessão do ministro Ayres Brito?

R.H. A sucessão vai ser muito pesada, porque em novembro toma posse na presidência do STF o ministro Joaquim Barbosa, e o seu vice é ninguém menos do que o ministro Ricardo Lewandowski, e todo mundo sabe que o ministro Joaquim Barbosa tem alguns problemas de saúde sérios, e se ausenta às vezes do STF por conta deles, então vai ter mais rodízio do que é feito comumente entre o presidente e o vice no comando da corte. Eu não sei se essas feridas vão ter cicatrizado até essa troca de comando.

Ainda mais em se considerando que, como você me disse numa conversa anterior, o julgamento talvez não termine nos prazos imaginados.

R.H. Não, não, aquela previsão que se fez quando eles montaram esse cronograma, de que poderia terminar em agosto, é uma previsão muito ingênua, de alguns dos próprios ministros. Como se viu, em uma questão de ordem eles levaram a tarde discutindo. Quando começarem os votos com os 33 advogados querendo esclarecer questões de fato na tribuna, é impossível que esse julgamento termine antes de setembro, e isso numa previsão muito, muito otimista. Eu acho que ele vai até as eleições.

E, portanto, logo depois há essa troca de presidentes.

R.H. E como se viu no primeiro embate entre o ministro Joaquim Barbosa e o ministro Lewandowski, vai [haver] um ponto e contraponto que deve se estender por todo esse julgamento. Quando ele acabar, na minha estimativa ali para final de setembro, outubro, um mês depois se troca a presidência do STF, e aí vai ficar um clima meio ruim na Suprema Corte, eu acredito.

 

>> Demorar muito é bom para os réus?

Uma questão que precisará ser agora trabalhada pela imprensa consiste em tentar avaliar se o prolongamento do processo favorece ou não réus que são candidatos, ou continuam na vida política, e seus respectivos partidos. Se pode atrapalhar em alguma medida o trabalho do governo. Mas, ao mesmo tempo, a mídia e seu público, em graus variáveis de aprofundamento e sofisticação, poderão se ver diante de um debate muito rico que envolve questões constitucionais, institucionais e políticas. Entre elas, o financiamento das campanhas eleitorais, que é um dos grandes atrativos para corruptos e candidatos a corruptos.