O economista Ladislau Dowbor, consultor de diversos organismos da ONU e professor-titular no Programa de Pós-Graduação em Economia da PUC-SP, tem realizado estudos sobre economia solidária há muitos anos. Ele mantém um ativo site de informações sobre temas relacionados ao desenvolvimento sustentável e é animador de uma rede internacional de pesquisadores e profissionais que acompanham as mudanças na economia, na política e nas tendências de comportamento da sociedade globalizada. Dowbor acha que a imprensa tradicional vai continuar encolhendo inexoravelmente, até caber num nicho de poder.
O raciocínio do professor leva em conta o fato de que a conectividade aberta pela tecnologia da informação está gerando uma dinâmica de comunicações extremamente poderosa. ‘Vai haver uma mudança de cultura na base da sociedade, que está se espalhando de uma maneira muito mais rápida do que a gente pensa’, aposta. Parte da nova mídia está sendo apropriada pelos protagonistas tradicionais dos meios de comunicação, mas a virtual infinidade de canais cria a possibilidade de que, progressivamente, venha a predominar um novo modelo, no qual a propriedade do conteúdo passa para o leitor-protagonista.
‘Continuamos a ver só a mídia tradicional, jornais, revistas, televisão e rádio. Mas o conhecimento direto é extremamente poderoso’, observa. Não é por outra razão que onde não há interesse pela democratização da informação tenta-se bloquear o acesso à rede, uma vez que o controle de emissoras de rádio e TV e de periódicos impressos é muito mais fácil. Nos lugares onde não há um poder político centralizador, o mercado tenta fazer esse controle, procurando dominar os múltiplos meios. No longo prazo, isso será impossível, afirma Dowbor.
Informativos online
Ele e outros pensadores, como o economista Ignacy Sachs, acham que a imprensa tradicional cumpriu seu papel e exerceu seu poder de influência enquanto o sistema econômico o permitiu e justificou. Com as mudanças provocadas pelos problemas ambientais, políticos e sociais, expandidos pelo próprio fenômeno da globalização, o sistema econômico se vê diante da necessidade de mudar algumas práticas e a comunicação direta com seus públicos de interesse começa a se tornar muito atraente.
‘A incompetência da intermediação não acontece apenas em termos técnicos, mas também porque [a imprensa tradicional] redireciona a informação de acordo com os interesses dos anunciantes’, afirma Dowbor. ‘O dilema que está se colocando é: a que ponto precisamos desses intermediários que cobram pedágio sobre os processos de informação?’ Em sua opinião, a tentativa de grandes grupos de se apropriar, como controladores, dos novos meios, impedindo que a informação siga adiante, ‘é uma visão antiga, e vai explodir na mão deles’.
Os sinais de que alguns conglomerados empresariais preferem progressivamente usar a rede mundial de computadores para se dirigir à opinião pública estão disponíveis a todo momento. Os grandes bancos multinacionais que vão discutir as oportunidades de negócios abertas pelo aquecimento global, durante o mês de setembro, em Londres, por exemplo, primeiro se dirigiram ao público diretamente, através da internet. Mais de um mês depois de iniciada a comunicação do evento através de informativos online, os press-releases ainda não haviam sido despachados para a mídia impressa ou para a televisão. Os veículos que publicaram alguma nota a respeito foram provavelmente pautados pela internet.
Conjuntos lógicos e integrados
Todas as grandes empresas de relações públicas e assessoria de imprensa oferecem aos seus clientes, em alguns casos, estratégias de comunicação alternativa que ignoram a existência da mídia tradicional, ou a colocam em plano secundário. Na gestão de crises, por exemplo, a internet já é considerada o meio mais adequado para o posicionamento da organização.
Um dos destaques da próxima conferência da Associação de Relações Públicas da América, marcada para 19 de junho em Nova York, é a chamada mídia social. Blogs, vlogs, iPods, SMS, e, agora o MMS – do inglês multimedia message system – são expressões que rapidamente ocupam a linguagem dos mais jovens, habituando-os a um novo universo de comunicação e afastando-os ainda mais dos meios tradicionais.
Esses recursos começam a ser sistematizados para compor conjuntos lógicos e integrados, por meio dos quais a informação pode ser passada a milhões de pessoas simultaneamente, com texto, imagem fixa e em movimento e som. Para organizá-los e compor um veículo de informação, basta um tecnólogo e meia dúzia de jornalistas, que nem precisam estar fisicamente juntos. Esse é o cenário citado por Ladislau Dowbor.
Quem vai querer pagar o pedágio da opinião centralizada?
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Jornalista