Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Tintim, o intrépido repórter na China

Tintim, o lendário repórter criado pelo desenhista belga Hergé (Georges Remi), acaba de embarcar para uma nova aventura na China. Nove anos depois de ter sido publicado legalmente pela primeira vez no país, o famoso quadrinho ganhou uma edição renovada.

Pela primeira vez, as andanças de Tintim e seu fiel cachorro Milu foram traduzidas diretamente do original em francês – no lugar da versão inglesa, usada até então –, para dar novo impulso ao personagem que chegará aos cinemas em 2011, num filme de Steven Spielberg. Ainda não será desta vez, porém, que os chineses verão publicada a coleção na íntegra. Como fez há nove anos, a censura oficial proibiu ‘Tintim no país dos sovietes’, primeira das 23 histórias criadas por Hergé, por seu caráter anticomunista.

Dupond e Dupont viraram Dubang e Dupang

O trabalho de tradução foi feito ao longo de três anos por Wang Bingdong, professor de francês da Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim.

Os detetives Dupond e Dupont viraram Dubang e Dupang. Os impropérios do capitão Haddock foram traduzidos em expressões como ‘Tian da lei pi’ (‘Que os céus te castiguem e um raio te fulmine’). O tradutor, de 75 anos, foi ajudado em algumas passagens pelo francês Pierre Justo, colecionador de edições estrangeiras de Tintim que vive na China.

– A tradução foi uma experiência magnífica e gratificante. Eu era fã das histórias quando era jovem e, agora, rejuvenesci com Tintim e suas aventuras – disse Wang, durante a apresentação em Pequim da nova coleção das aventuras do personagem.

Os relatos do intrépido repórter apareceram pela primeira vez na China de forma pirata, na década de 1980, com o processo de abertura lançado por Deng Xiaoping.

Tinham formato de pequenos livros e eram impressos em preto e branco. Em 2001, foi comercializada a versão oficial pelo Grupo de Publicações e Imprensa para Crianças, a mesma que lança agora a nova tradução.

Além da censura a ‘Tintim no país dos sovietes’, a coleção teve problemas em 2001 também com ‘Tintim no Tibete’, que foi traduzido como ‘Tintim no Tibete chinês’. Pequim quis, assim, reivindicar o pertencimento da região do Himalaia para a China. Em 2002, porém, retificou o título devido às petições da editora belga Casterman, detentora dos direitos, que pediu a troca ‘não por razões políticas, mas simplesmente para defender a autenticidade do original’.

China é o único país que Tintim visitou duas vezes

Os mangás japoneses dominam o mercado das histórias em quadrinhos na China, mas os editores de Tintim confiam que a volta do herói belga dará nova força às suas vendas.

– É um mercado de tamanho considerável – disse Louis Delas, diretor da Casterman. – Claro que há um aspecto comercial, mas também se trata de render tributo a Hergé e a um lugar que ele adorava.

A China é o único país não fictício que Tintim visitou duas vezes em suas peripécias pelo mundo. Em ‘O lótus azul’, ele viaja a Xangai, na década de 1930, e se põe ao lado dos chineses durante a ocupação japonesa, o que sempre despertou simpatias de Pequim.

Mas não o suficiente para que seja aceito seu anticomunismo russo.

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Do El País