Desde 2001, ano marcado pelos atentados terroristas de 11 de setembro, houve um aumento significativo no número de cenas de tortura no horário nobre da TV americana, afirma a organização Human Rights First (HRF). Segundo Jill Savitt, um dos diretores do grupo, tais cenas chegaram ao ponto de inspirar a vida real: interrogadores americanos no Iraque estariam imitando o que vêem na televisão, como cenas protagonizadas por Jack Bauer, personagem interpretado pelo ator Kiefer Sutherland no seriado 24 Horas.
Recentemente, o HRF levou interrogadores militares aposentados a Hollywood para conversar sobre suas preocupações sobre a vida imitando a arte com produtores das séries 24 Horas e Lost, noticia David Bauder [AP, 11/2/07]. Tony Lagouranis, ex-especialista do exército americano que interrogou prisioneiros de Abu Ghraib, afirmou ter presenciado cenas de tortura já mostradas no seriado 24 Horas. Certa vez, seus colegas pediram a um tradutor iraquiano para fingir que estava sendo torturado para assustar um prisioneiro, depois de ter assistido a uma cena semelhante em DVD.
A televisão, no entanto, não é a única que influencia tais atos. Segundo Lagouranis, muitos interrogadores são jovens, recebem pouco treinamento e são pressionados por superiores a extrair informações de prisioneiros a qualquer custo – e o mais rápido possível.
Antes, apenas os vilões
Antes de 2001, as poucas cenas de tortura no horário nobre da TV geralmente mostravam os vilões como torturadores, analisa Savitt. Em 1996 e 1997, não houve cenas de tortura em tais horários na programação televisiva, segundo dados do Parents Television Council, grupo que monitora a TV nos EUA. Em 2003, foram registradas 228 cenas do tipo, com aumento de cerca de 100 cenas entre 2004 e 2005.
Para Howard Gordon, produtor executivo do 24 Horas, o programa pode estar apenas refletindo o medo nacional do terrorismo e da guerra no Iraque, com os americanos tolerando mais cenas de violência no horário nobre. ‘Talvez, em algum nível, isto seja uma expressão de nossa raiva e de nosso desamparo’, opina.
A HRF espera, no entanto, que cenas de tortura não sejam de modo algum toleradas. ‘Não tentaremos nunca censurar ninguém. Não diremos nunca a Hollywood o que fazer, mas estamos tentando dizer a eles como funciona um procedimento interrogatório – o que é bem diferente do mostrado na TV, pois é um processo que requer sutileza, paciência e tempo. Se isto os fizer mudar de atitude, será uma conquista’, afirma Savitt.