O consumidor terá de pagar no mínimo 15% da fatura do cartão de crédito a partir de junho 2011. Seis meses depois, a parcela mínima será de 20%. Além disso, haverá dois tipos de cartão, um básico e um com programas de recompensas, e as empresas emissoras só poderão cobrar cinco tarifas. Estas mudanças foram sacramentadas quinta-feira (25/11) pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). São itens de um grande pacote de mudanças no sistema de cartões de crédito. As novidades interessam a milhões de consumidores, muitos deles com acesso recente aos mercados. Curiosamente, o assunto mereceu no dia seguinte chamadas muito discretas, quase invisíveis, na Folha de S.Paulo e no Estado de S.Paulo.
O Globo nem chamada publicou na capa, mas dedicou ao tema toda a primeira página do caderno de Economia. Nenhum outro grande jornal deu tanto destaque ao assunto. E o caso do Globo é mais que especial: a capa da edição foi preenchida integralmente com a megaoperação contra a bandidagem. Três fotos emolduraram a manchete dramática: ‘O Dia D na guerra ao tráfico’.
Trabalho diferenciado
Há uma velha conversa na imprensa brasileira sobre cobrir mais os assuntos de interesse diário e tangível do mundo privado – pessoas e empresas. Se isso fosse levado a sério, as chamadas teriam sido muito mais fortes do que foram naquele dia, descontando-se, é claro, a situação diferenciada da imprensa fluminense.
Na mesma semana, a formação da equipe econômica foi um dos grandes assuntos de todos os meios de comunicação. Na maior parte da cobertura não houve muita diferença entre os jornais. Todos anunciaram ao mesmo tempo a escolha do economista Alexandre Tombini para a presidência do Banco Central, o convite a Guido Mantega para continuar na Fazenda e a escalação de Míriam Belchior para o Planejamento. Confirmados os nomes, os três deram entrevista coletiva na quarta-feira (24/11), em Brasília, e falaram sobre rigor e austeridade. Novamente os jornais deram matérias parecidas.
Na quarta à noite, no entanto, Guido Mantega revelou, numa declaração à TV Globo, a intenção de usar um índice expurgado para a política de metas de inflação. Só o Estado de S.Paulo mencionou esse detalhe, quase de passagem, e só o Estado, na sexta-feira, saiu com uma boa suíte da história, expondo a proposta do ministro, explicando o uso do chamado núcleo de inflação pelos bancos centrais e apresentando opiniões de economistas. Se não foi um furo em sentido rigoroso, foi pelo menos um belo trabalho diferenciado.
Desafio para a nova direção do BC
Uma das melhores matérias exclusivas da semana foi a entrevista do Valor, publicada na sexta-feira (26/11), com o embaixador do Irã, Mohsen Shaterzadeh. Ele acusou os bancos brasileiros de atrapalharem o comércio bilateral pela recusa de oferecer crédito às exportações do Brasil para seu país. Se as dificuldades persistirem, ameaçou o embaixador, o Irã poderá recorrer a outros fornecedores, principalmente de carne. Em dez anos, as vendas de carne brasileira para o mercado iraniano passaram de US$ 292 milhões para cerca de US$ 2 bilhões, valor estimado para este ano. As sanções impostas pelas Nações Unidas e pelos Estados Unidos são o grande problema. As sanções não incluem o comércio de alimentos, mas bancos com interesses nos Estados Unidos tentam evitar retaliações. Comentário adicional: o Irá dificilmente conseguiria encontrar um produtor de carne para substituir o Brasil como fornecedor, mas não há como desprezar o problema e o governo tem certamente de pensar no assunto. Um bom tema para acompanhamento.
Os sinais de inflação novamente acelerada foram registrados por todos os grandes jornais do Rio e de São Paulo. A cobertura foi, de modo geral, eficiente e apontou as pressões inflacionárias como um provável primeiro desafio para a nova direção do Banco Central, em janeiro.
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Jornalista