O jornalismo nasceu para informar. Para levar às pessoas todas as notícias de interesse público. Nasceu para denunciar, criticar. A publicidade foi criada para vender. Vender um produto, uma marca, um conceito. São duas atividades muito diferentes, mas que normalmente vêm juntas nos meios de comunicação.
Uma linha espessa e gritante. É isso que deve existir entre essas duas áreas de atuação. O leitor, o ouvinte ou o telespectador devem enxergar de forma clara quando se trata de um e quando se trata do outro. Ou pelo menos é assim que deveria ser. Mas alguns profissionais vêm esquecendo de todas as intermináveis aulas de ética da faculdade.
Em todos os cursos de graduação de Jornalismo este assunto é debatido à exaustão. Não é, nem nunca será, função do jornalista vender qualquer coisa. Confundir o leitor misturando publicidade e notícia é um absurdo. Entretanto, é isso que alguns jornais e revistas vêm fazendo por aí.
Determinadas revistas publicam matérias falando de necessidades humanas, e na página seguinte trazem propaganda de um produto para suprir esta falta. Isso é ético? Na minha opinião, não. Mas, pelo menos neste caso, notícia e propaganda estão separadas. O que é inadmissível é o leitor ler uma publicidade achando que está lendo matéria de jornal.
Pois eis que abro o jornal esportivo Lance de segunda-feira, 8 de março, e me deparo com páginas deprimentes. Após comentar todos os detalhes do clássico Vasco x Fluminense, o jornal traz uma página inteira com matérias aparentemente feitas pela assessoria da Petrobras. A página é diagramada no padrão do jornal, assim como os textos são redigidos de forma parecida com as matérias do Lance. A única sutil diferença em relação às demais páginas é o logotipo da Petrobras no alto, à direita. Quantos jornais não oferecem espaço para logotipo, como recurso comercial? No caso, os textos tratam de eventos esportivos promovidos ou patrocinados pela empresa. Em nenhum lugar da folha se lê o indispensável aviso ‘informe publicitário’.
Falência e esquecimento
Para piorar o que já estava ruim, no rodapé da página vem um endereço eletrônico. É o site do Lance com um página dedicada à Petrobras.
Isso é justo com o leitor? Quem paga R$ 1,25 (preço do jornal Lance no Espírito Santo) para ler matérias sobre esporte sabe que também está lendo anúncios? Sabe que lhe estão sendo empurradas goela a baixo campanhas de marketing?
Quem analisa de forma superficial o periódico pode achar que estou exagerando. Afinal, é uma página que traz textos sobre esportes, assim como todas as outras deste jornal. No entanto, acreditem: não é exagero! Vivemos uma época em que se pagam milhões por anúncios na TV, nos jornais impressos, no rádio, na internet. As empresas investem muito dinheiro para que o maior número de pessoas vejam suas marcas, seus produtos, seus logotipos. É uma briga de cachorro grande. Vender anúncios assim, em forma de matéria, é enganar o leitor. É fazer com que o leitor compre o conceito de uma empresa sem saber que está fazendo isso.
A quem cabe fiscalizar tudo isso? É legal? É ético? A empresa está errada por não informar que se trata de um anúncio. Mas o erro imperdoável é do jornal. Um jornalista que trai seus leitores de forma tão sutil não merece credibilidade. Pode até ser que este jornal ainda tenha uma boa vendagem, mas o leitor não é bobo. Não se deixa enganar. Com o tempo percebe que não vale a pena gastar seu suado dinheiro com publicações assim. E o destino certo desses periódicos é a falência e o esquecimento. Para alegria de todos que prezam um jornalismo bem feito, de qualidade, e que, acima de tudo, respeita seu leitor.
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Estudante de Jornalismo na Universidade Federal do Espírito Santo