As duas horas e dez minutos de depoimento do ministro Antonio Palocci devem ser examinadas como fato gerador de notícias e, também, fato ‘jornalístico’. Todos os fatos são teoricamente geradores de notícias, porém nem todos acionam discussões sobre o jornalismo.
Palocci fez manchetes, discutiu manchetes e, de quebra, ainda ensinou aos comunicólogos e estadeiros (aqueles que dirigem o Estado mas não são estadistas) como se presta contas à sociedade de forma ágil, transparente e competente.
A entrevista do ministro da Fazenda foi uma resposta às acusações que contra ele começaram a aparecer nos últimos dias e produziu uma reversão – ou pelo menos uma pausa – no bombardeio de denúncias que galvanizam o país há 100 dias.
Mas a este Observatório da Imprensa interessa apenas explorar os preciosos filões midiáticos abertos pelo ministro. Enquanto a grande imprensa cotidiana envolve-se nos desdobramentos econômicos, políticos e judiciais do pronunciamento, não se pode perder de vista que o ministro, entre outras coisas, confirmou a tese de que hoje a discussão política envolve obrigatoriamente uma discussão sobre o noticiário político (ou a comunicação política).
Palocci discutiu os procedimentos da imprensa de forma objetiva, pertinente e democrática (aqui caberia dizer republicana) – enquanto o presidente Lula, quando veste o uniforme de crítico da mídia, investe de forma generalizada, impertinente e ameaçadora (aqui caberia dizer caudilhesca).
Exclusivo! Exclusivo!
Antes de tratar da entrevista convém registrar um dado histórico: no sábado (20/8), os mancheteiros da grande imprensa nacional, afinal, descobriram o ponto-e-vírgula. Aprenderam a colocar o contraditório nas manchetes, oferecer ao leitor as duas versões da mesma informação. Mas ainda não aprenderam a desvencilhar-se das armadilhas dos verbos.
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Folha de S.Paulo: ‘Ex-assessor diz que Palocci exigia propina para o PT; ministro nega‘**
O Globo: ‘Ex-assessor envolve Palocci em corrupção; ministro nega‘**
O Estado de S.Paulo: Palocci é acusado de receber propina; ministro nega‘Cabe o ao leitor escolher o verbo mais justo. Porém, o fato deflagrador da inédita entrevista dominical foi a chamada de capa da Veja – ‘Denúncias atingem Palocci’ – ao lado da foto do ministro meio escondido atrás de uma porta. Seguem-se 11 páginas de uma bombástica reportagem com a transcrição parcial dos grampos de conversas do ex-assessor Rogério Buratti com empresários, e mais seis páginas com declarações manuscritas do doleiro Toninho da Barcelona sobre suas relações cambiais com o PT.
O ministro Palocci procurou responder a todas as questões levantadas pela matéria da Veja. Não atacou a revista (sequer citou o seu nome) muito menos extrapolou ou generalizou, apenas discutiu o teor do que foi veiculado a seu respeito.
Mas cabe examinar aqui a crescente estridência das edições do semanário e avaliar se, a médio prazo, este clima paroxístico não favorece a saturação do público e contribui para a criação de um clima de generalizado ceticismo que, fatalmente, incluirá a própria imprensa.
Veja, com uma audiência que provavelmente equivale à soma dos competidores, não precisaria dos artifícios cênicos ou retóricos para manter-se à frente na competição sabática dos semanários. Inaugurou a temporada de escândalos com o vídeo da propina nos Correios, revelou os empréstimos ao PT avalizados por Marcos Valério e poderia dispensar-se do frenesi concorrencial se mantivesse periodicamente esse padrão.
Neste último fim de semana, três dos quatro semanários estão dominados por trepidantes ‘exclusividades’: Veja com os grampos contra Palocci, IstoÉ com os grampos contra astros do futebol e CartaCapital, para não parecer que defende o governo, apelou para três exclusivos (dois deles contra a oposição). Época venceu a tentação depois do vexame do exclusivo da semana anterior, quando requentou e aspeou matérias alheias.
O engraçado dessas supostas exclusividades é que os próprios semanários encarregam-se de quebrá-las quando as compartilham com os grandes jornais um ou dois dias antes da publicação.
Aquém da notícia
Depois das duas bombas programadas para explodir em sextas-feiras consecutivas, e depois 14 sábados mal-assombrados, não restou ao ministro Palocci outra alternativa senão quebrar o tabu dos domingos. Além de lavrar um tento em matéria de defesa pessoal e conceitual, o ministro prestou um enorme favor ao jornalismo pátrio: acabou com o vácuo noticioso do fim de semana e estabeleceu um precedente que pode tornar a nossa imprensa diária efetivamente diária – e as emissoras all news efetivamente noticiosas, todo o tempo, todos os dias. Com isso criam-se condições para acabar com as cascatas escritas às quintas e sextas para serem publicadas no domingo e segunda.
A imprensa retribuiu em parte: no dia seguinte concedeu manchetes favoráveis ao ministro mas não conseguiu mobilizar um único editorialista para oferecer aos leitores o indispensável contraponto analítico ou opinativo. Raros os colunistas que na segunda-feira deram-se ao trabalho de comentar o excepcional evento do dia anterior (Fernando Rodrigues e o plantonista do ‘Painel’, na Folha; Ilmar Franco, Helena Chagas, Ancelmo Góis e o economista Paulo Guedes, no Globo; Ribamar Oliveira no Estadão). Carlos Heitor Cony, na Folha, escreveu o seu texto na sexta-feira quando Palocci passava pelo corredor polonês, mas foi publicado na segunda quando o ministro estava sendo saudado pela iniciativa.
Uma imprensa ensandecida, de repente, entregou-se a um estranho torpor. Num caso como este, o senso de urgência não deveria limitar-se apenas ao entrevistado. A mídia fala em crise há três meses mas não assumiu um comportamento emergencial.
Poucas vedetes do jornalismo brasiliense deram-se ao trabalho de participar da entrevista, perderam ótima oportunidade para brilhar porque os entrevistadores perguntaram apenas o óbvio. As respostas é que foram providenciais.
Nenhum dos repórteres tentou replicar, um deles chegou a fazer quatro perguntas juntas totalmente dissociadas.
Nenhum grande veículo do eixo Rio-São Paulo conseguiu mobilizar no sábado à tarde algum de seus ‘nomões’ da área de política ou economia para ir a Brasília na manhã de domingo.
Nenhum jornal reproduziu na segunda-feira (22/8) as críticas de Palocci ao desempenho da imprensa, o que configura uma clara manipulação do noticiário. O ministro tratou da imprensa em três momentos – inclusive na exposição inicial – ao longo de pelo menos seis minutos. Mas a Folha pegou pesado ao comparar a organização e a fluidez da entrevista do ministro com os encontros do presidente Lula com a imprensa [veja notas na seção Entre Aspas, desta edição].
Este foi um caso em que a imprensa ficou aquém da notícia. E a notícia era a imprensa.
O ministro e a mídia
Trechos da entrevista coletiva do ministro Palocci em 21/8/05, no Ministério da Fazenda, em Brasília, nos quais comenta o papel da imprensa na divulgação das acusações de Rogério Buratti. Transcrição: Camilla Rizzo, Samuel Kobayashi e Tathiana Targine.
O que gostaria de dialogar com vocês diz respeito a algumas matérias que jornais, revistas do mais alto respeito têm veiculado nos últimos três dias. São matérias fruto dessa mesma investigação que os promotores de São Paulo fazem em relação à pessoa de Rogério Buratti e de empresas. Essas revelações, informações e matérias vindas de gravações ou de e-mail procuram mostrar que o Rogério Buratti fazia lobby no Ministério da Fazenda através de assessores meus.
Os grampos
Na sexta-feira uma repórter de uma revista do país enviou um e-mail para o meu assessor Juscelino Dourado dizendo a ele o seguinte, por escrito: ‘E-mails enviados por você, Juscelino, revelam a encomenda de um aparelho de grampos telefônicos a pedido do ministro Palocci. Para que o ministro Palocci queria grampos?’ Juscelino respondeu à revista: ‘Causou-me perplexidade as informações, pois são absolutamente falsas. Nunca troquei esses conteúdos de e-mail com qualquer pessoa, em qualquer época. O conteúdo é um absurdo e acho que vocês estão sendo enganados com informações fraudadas e caluniosas. Gostaria de ajudá-la, e para isso solicito que você me envie o conteúdo que você diz ter para que a revista Veja não seja vítima de uma fraude e para que eu não seja acusado por uma notícia falsa’.
A jornalista recebe esse e-mail e volta a escrever: ‘Senhor Juscelino, os e-mails não foram enviados por você, mas por pessoas ligadas ao ministro Palocci que se referem a você como responsável pela compra de grampos telefônicos a pedido do ministro’, e não envia os e-mails. Juscelino responde de novo: ‘Nego veementemente que esse assunto sequer tenha sido tratado por mim e pelo ministro Palocci ou por qualquer pessoa em nosso nome. Afirmo se tratar de uma fraude e que deve ser tratada com responsabilidade e seriedade’. Essa foi a comunicação havida entre a jovem da revista e o Juscelino Dourado.
O que sai na revista: ‘Os investigadores, no entanto disseram a eles que um documento chamava a atenção – um e-mail no qual Dourado, em nome do chefe, pede a Buratti que compre um aparelho para grampear telefones celulares’. Esta mesma notícia está reproduzida em dois jornais no dia de hoje. Esses são os procedimentos, essas são as formas com que essas informações estão sendo transmitidas pelos procuradores para os órgãos de imprensa.
A agenda
Também em uma revista esse final de semana, através de quatro eventos de escuta telefônica realizada pela Polícia Civil, provavelmente do estado de São Paulo, procura demonstrar que Rogério Buratti agendava reuniões no Ministério da Fazenda comigo e mostram quatro trechos de reportagens que comprovam, segundo a revista, que Rogério Buratti tinha um esquema na minha agenda para receber pessoas ligadas às empresas de saneamento de coleta de lixo no estado de São Paulo. O primeiro desses e-mails é uma queixa do Sr. Rogério Buratti sobre o Ministério da Fazenda e sobre a maneira como nós divulgamos notas quando surgiram denúncias relativas ao caso Gtech. Não há nenhum encontro marcado nessa nota.
No segundo e-mail, a revista não deixa claro de quem se trata, mas hoje os jornais deixam claro. É um sócio de Rogério Buratti que pede para ele verificar se consegue retirar documentos na Receita. Ele fala à pessoa: ‘Pede para ele ligar ao chefe de gabinete’. Essa é a atitude que foi registrada, e é traduzida como se fosse uma maneira de Rogério Buratti agendar empresários comigo.
As reuniões
Uma terceira revelação da revista (degravação) diz que Rogério Buratti falava com o senhor Luiz Cláudio e dizia: ‘Olha, ele estará em Ribeirão Preto amanhã. Você marcou alguma coisa com ele? Precisa ligar para o chefe de gabinete dele’. Essa é a informação. De novo não se marca reunião nenhuma e eu digo, fui a Ribeirão Preto e não me reuni com nenhuma empresa de saneamento nesta e em nenhuma outra visita que fiz a Ribeirão Preto. A quarta prova que a revista apresenta é também uma gravação que diz: ‘Olha, neste dia, nesta segunda está previsto o encontro do gigantão com o mestre no Rio de Janeiro porque é dia da posse da CVM’. Algum ex-funcionário da CVM diz que eu estarei no Rio de Janeiro e farei, considerando que mestre possa se referir a mim. Gigantão não me parece que se refere a mim. Mestre, alguns disseram que se refere a mim. No dia que fui à posse da CVM no Rio de Janeiro fui especificamente para a posse, e não recebi nenhuma empresa de saneamento do estado de São Paulo ou de qualquer outro estado. Portanto, as quatro provas que a revista apresenta com mecanismos em que a agenda era feita com influência do Sr. Rogério Buratti sequer os nomes são identificados e eu digo, em nenhuma dessas ocasiões eu me reuni com empresas de saneamento.
Gostaria de ressaltar a vocês esses aspectos das matérias e do acontecido de sexta-feira, porque acredito que nenhum agente público pode estar acima de qualquer questionamento. Não me considero acima de qualquer questionamento, considero que estou aqui para realizar o trabalho que fui convocado a fazer pelo presidente Lula, e estarei sempre à disposição de qualquer órgão de justiça que queira verificar um ou outro procedimento do Ministério da Fazenda.
A imprensa livre
Tenho dito diante dessa grave crise política que nós devemos acreditar e fortalecer as nossas instituições porque elas são permanentes, nós não somos. Elas darão condições para que a economia brasileira e para que a democracia brasileira avance e produza resultados diante de desafios como esse. O Brasil é uma grande democracia, tem imprensa livre e assim deve ser um país com uma grande democracia. E nós devemos valorizar a imprensa livre, a apuração que ela faz com competência. Nós devemos valorizar as instituições democráticas do Brasil que apuram questões como essas, assim como seus procedimentos de votação e legislação que são fundamentais para o avanço do país.
A ‘República de Ribeirão’
Quero fazer uma breve consideração sobre registros que alguns jornais fizeram quando se referem a, por exemplo, ‘O ministro montou a República de Ribeirão’. E citam a presença de quatro, cinco, seis pessoas em vários ministérios como se eu tivesse montado para o Ministério da Fazenda uma república de pessoas exclusivamente da minha confiança pessoal. Eu sei que vocês conhecem a equipe do Ministério da Fazenda, vocês sabem que eu vim para cá entre outubro e novembro de 2002, trabalhei com uma equipe de transição de governo, representando o presidente Lula, e interagindo com a equipe do presidente FHC, montei essa equipe a partir de pessoas técnicas.
O Coaf
No início desse problema político, em determinado momento, uma das revistas, se não me engano foi a revista Época, trouxe uma comunicação do Coaf que falava de depósitos em conta bancária das empresas acusadas. Aquela comunicação que a revista trouxe, não sei se era a Época, a informação estava correta, não tinha nada a questionar da informação, ela se tratava de uma informação que o Coaf tinha dado ao Ministério Público um ano antes, estava à disposição do Ministério Público em 2003, antes das coisas acontecerem.
Então não é fato que o Coaf ou o Banco Central saíram atrás do problema. Um ano antes de acontecer eles já forneciam dados aos procuradores sobre essas empresas. Não quero dizer também que os procuradores não estiveram atento ao problema. Imagino que o procurador que em 2003 recebeu um dado do Coaf dizendo que uma determinada empresa de publicidade tinha feito saques em dinheiro maiores que 100 mil reais ele certamente não pensou nesse tipo de situação que hoje nós vemos. Não digo por isso que ele falhou, mas lá em 2003 já funcionava esse sistema de informação adequadamente.
‘De qualquer jeito’
O que mais tem sido noticiado hoje, eu considero um grande absurdo, mas não quis tratar assim na minha fala inicial porque não quero usar palavras fortes, mas dizer que eu estaria comprando equipamentos de escuta através do Rogério Buratti para mim é uma coisa bastante inadequada, bastante desprovida de qualquer elemento que encontre respaldo na realidade, foi negada veementemente à jornalista que fez o pedido, foi pedido a ela que desse o e-mail que inicialmente ela disse que era do Juscelino, aí no segundo e-mail ela disse que não era dele, aí no terceiro não mandou o e-mail. A gente tem que ter cuidado com essas coisas porque a reputação das pessoas… imagina o Juscelino, chefe do gabinete do Ministério da Fazenda, comprando aparelhos de escuta. É evidente que ele teria sido demitido no minuto em que isso aconteceu, mas no minuto em que eu fiquei sabendo disso perguntei a ele diretamente e ele disse que esses e-mails eram falsos, que não eram dele.
Eu o conheço, ele não é uma pessoa com esse tipo de índole e esse ministério não se presta a esse tipo de coisa. Agora, eu sou obrigado a ler a matéria, a trazer as comprovações para vocês e vou fazer isso com serenidade. Se as pessoas informam de qualquer jeito depois de três e-mails trocados que o Juscelino comprou aparelho de escuta, o que é que eu posso fazer? Posso apenas apelar a vocês pela verdade.
As ‘notinhas’
Eu fui oferecer ao procurador-geral do estado de São Paulo: se querem me investigar eu colaboro com a investigação, o que eu não posso, como ministro da Fazenda, é ficar vendo notinhas em jornal, porque vocês sabem como são as coisas, vocês trabalham em órgãos da imprensa, o Sr. Rogério Buratti foi gravado durante oito meses, aí em um dia sai uma informação, no outro dia sai outra, um dia falam que o Juscelino ia comprar um aparelho, em outro falam que o ministro marcou uma agenda, aí eu comecei a ficar preocupado com tudo isso, não é possível que os órgãos de apuração trabalhem com oito meses de gravação soltando notas pela imprensa. Aliás, muitos dos órgãos de vocês me procuraram há um ano atrás. Ninguém publicou nada.
‘Regras legais’
Que eu vá a Ribeirão estava em todos os órgãos de imprensa de Ribeirão Preto, é uma informação encontrada nos nossos jornais, que eu ia ao Rio na posse da CVM estava nos jornais, estava na minha agenda. Então se a pessoa ligou – ‘Olha ele vai ao Rio e tal pessoa vai encontrar com tal pessoa’ – o que eu tenho a ver com isso? Que relação pode ser feita com a agenda do Ministério da Fazenda e com esse tipo de conversa? Isso, resultado de oito meses de gravação.
Autoridades que pegam a fita de um depoimento, nas condições em que foi feita, e transmitem órgãos de imprensa estão ferindo a lei. Então houve inobservância de regras legais.
Banco Próspero
Foi publicado não sei se no seu jornal ou em outro sobre ligações que tiveram como objetivo agendar uma reunião. Eu procurei o chefe de gabinete e perguntei a ele por que naquela época das ligações não houve reunião com o Banco Próspero. Naquela época das ligações informadas pelo jornal. Perguntei ao Juscelino, que me disse que um diretor do Banco Próspero que é presidente da Bolsa Mercantil do Rio de Janeiro, se não me engano chama-se Edson, não me engano não, chama-se Edson. Ele é diretor do banco e presidente da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.
Ele pediu uma audiência quatro meses depois desse episódio citado na reportagem. Eu o recebi aqui. Aliás, eu informei à imprensa. Pedi – quando veio a informação de vocês de que havia alguma conversa telefônica, falando em agenda num determinado mês. Eu informei que naquele período não houve, e que um diretor do banco que é presidente da Bolsa do Rio de Janeiro… veio como Bolsa de Valores, mas eu sei que era do Banco Próspero – e quis informar isso para que não houvesse qualquer dúvida, porque a mesma pessoa não iria falar, não é outra pessoa, não, é a mesma pessoa, esteve aqui comigo quatro meses depois desse episódio. Ele solicitou a agenda ao chefe de gabinete.
‘Muito rigor’
Todos nós temos que olhar tudo isso com muito rigor. O que eu fiz dando esta entrevista hoje foi procurar oferecer a vocês ao invés de informações atravessadas, precipitadas, informações claras, objetivas de tudo que pudesse se referir a minha pessoa e ao meu ministério. Se vocês tiverem daqui a dois ou três dias outras questões enviem que nós vamos responder a tudo, absolutamente tudo. Eu não quero que fiquem dúvidas sobre os procedimentos da minha pessoa e do ministério. Eu penso que em ministério de alta sensibilidade não pode deixar que pairem nuvens de dúvida sobre os seus procedimentos institucionais e pessoais das suas autoridades.
Eu quero aqui estabelecer um compromisso com vocês de que tudo que for necessário ser esclarecido será cabalmente esclarecido. Eu só não posso provar o que não houve. Em alguns aspectos tem… por exemplo, um dia aqui dizem que estava na Bolsa de Valores e que recebi um senhor, amigo do Juscelino, que estava operando… Esse eu tenho como provar que não aconteceu porque estava aqui em Brasília, fiz cinco reuniões aqui em Brasília.
Aliás, o jornal que falou também falou que não sabe quem é. Assim como aqueles três que a revista trouxe, que eu me encontrei a pedido do Buratti. Dos quatro, três a revista fala que não sabe quem é. E fala que eu devo ter me encontrado… E como é que eu posso esclarecer que não encontrei o senhor Enio, por exemplo, de quem nunca ouvi falar? Ou o senhor Gigantão? Se alguém me disser quem é o senhor Gigantão eu vou poder dizer se encontrei ou não.
‘E vira verdade’
Assumo um compromisso de serenidade com o país, não quero pedir jamais e nunca autorizei um assessor de imprensa desse ministério a pedir a vocês que deixem de publicar qualquer coisa que nos desagrade, qualquer coisa.
Nosso cuidado é sempre no sentido de que publiquem quando as coisas estiverem devidamente apuradas. Que se evite falar alguma coisa que saiu em outro órgão, porque, como mostrei a vocês, esse caso do aparelho de escuta é extremamente estranho para minha pessoa.
Fiquei supersurpreendido, estava eu atrás de aparelho de escuta… Foi publicado numa revista depois de contestado, foi publicado por dois outros jornais e assim vai. Vai indo e não adianta falar. Não adianta a pessoa negar cabalmente. Não adianta pedir ‘me dê o e-mail’, aí fala, ‘não, não é seu’. Quem sabe se existe? Talvez exista, talvez não exista. Mas quem disse? Ah, não disse. Então está publicado. Aí um publica um dia, dois publicam no outro e vira verdade. Então, a partir de terça-feira essas coisas apareceram eu comprei equipamentos de escuta. Não sei para escutar quem. O único aparelho de escuta que eu tenho em casa é o estetoscópio, que escuta coração. É a única coisa que eu uso em escuta na minha vida profissional.
Agora eu tenho que responder a barbaridades porque elas acontecem. Então eu espero que a gente possa, nesse próximo período, conversar sobre tudo. Até sobre informações que não tenham o menor interesse para mim, mas pode ter para vocês. Que possa ser uma informação singela, mas que eu vou dar.
O deputado Berzoini
Eu não vou criticar a entrevista do deputado Berzoini. Não vou criticá-lo. Ele tem o direito de, diante de uma informação como a que recebeu naquele momento, ter uma reação da forma como ele teve. Eu não me considero ofendido. Ele foi duro, mas não foi ofensivo. Ele tem o cuidado de quem está de quem está atuando numa situação bastante difícil e sabe que vai ter que suplantar um desafio extremamente duro e ele tem reagido a pedir esclarecimento de tudo.