‘A revista Veja vem assim há algum tempo, mas acho que chegou ao limite da podridão da imprensa, chegou ao limite. Não sei se um jornalista que escreve uma matéria daquela tem a dignidade de dizer que é jornalista. Ele podia dizer que é bandido, mau caráter, malfeitor, mentiroso. (…) Os leitores pagam a revista, são induzidos a assinar e não merecem as quantidades de mentiras que a Veja tem publicado.’ (Presidente Lula, 14/5/2006, sobre a revista NÃO-Veja).
Faço minhas as palavras e a indignação do presidente Lula. Mas pode haver mais do que só mentiras na revista NÃO-Veja. Parece já haver, além das mentiras e do enlouquecimento, também algum… medo. E não só em NÃO-Veja… Freud explica.
Observo porque é uma coisa que me parece interessante, que a Veja, hoje, é o segundo veículo, em apenas alguns dias, que recorre ao expediente de antecipar, na matéria-mentira, o que o veículo parece JÁ SABER o que os leitores dirão, movidos por indignação que, nos dois casos, parece ter sido antecipada. Só o medo, que eu me lembre, explica esse tipo de explicação antecipada, prévia, preventiva.
A NÃO-Veja, como a Rede Globo, já me parecem estar dando sinais de insegurança. Em uma palavra: de medo. Explico melhor:
Semana passada, no sábado, quando, no Jornal Nacional, houve aquele esquentamento prévio da matéria que só estaria no jornal, oficialmente, no dia seguinte, o William Waack (ou o repórter, não lembro), como que avisou aos telespectadores de que a matéria teria algo de falso, de forçado, ou de super-editado. Ele disse, aproximadamente, o seguinte: ‘O texto da entrevista foi submetido a Sílvio Pereira, que leu tudo e disse que aquilo correspondia à verdade’.
É muito esquisita essa explicação prévia, não é? Ou bem o jornal publica e se responsabiliza até pelas mentiras que publique… ou não há fala de repórter que garanta que o entrevistado tenha revisto e confirmado alguma declaração. O entrevistado só é responsável pelo que tenha dito, quando disse e se disse. O veículo é responsável pelo que publica. Não há meio de o veículo garantir-se previamente, apenas porque diga que o entrevistador confirmou a entrevista. Ora bolas! Mais um pouco, por aí, teremos de ler duas notícias ou ouvir dois telejornais: uma/um com o fato noticiado; a outra/outro com a confirmação assinada pelos personagens ouvidos pela reportagem. Mas… que papo é esse?! Só Freud explica!
Onda de mentiras
Hoje, na Veja, conforme matéria da Reuters, observa-se a mesma tentativa de confirmar preventivamente o que a revista publica. Segundo a Reuters:
‘A revista informou que tentou comprovar a veracidade dos dados e que o material apresentou inúmeras inconsistências. Mas nenhuma suficientemente forte para eliminar completamente a possibilidade de os papéis conterem dados verídicos’.
Calma no Brasil! Muita calma nessa hora! Aí tem coisa!
Primeiro, é claro que, em imprensa que já não esteja totalmente pirada, nada se deve publicar sem, antes, comprovar-se a veracidade dos dados. É isso, dados comprovados ou não há o que publicar (porque a revista pode ser processada, pode ser fechada, pode ser empastelada ou pode perder leitores e anunciantes, em uma palavra, pode perder grana). Em todos os casos, dos dados, publicam-se só os que tenham sido comprovados. É isso. Outra vez, soaram todos os sinos na minha cabeça de psicanalista-lingüista democrática, pela segunda vez, em apenas alguns dias: sim, sim, brasileiros, Deus existe e está de olho na mídia brasileira! Tá provado!
É bastante razoável a gente começar a trabalhar com o dado – interessantíssimo e totalmente novo no Brasil em 500 anos – de que até a Globo e até a revista NÃO–Veja já estejam começando a preocupar-se seriamente com a montanha de mentiras, besteiras, loucuras, calúnias e bobajol plantado que têm publicado ultimamente. Freud, assim, explica os cuidados preventivos, antes de cada nova onda de mentiras publicadas. A Globo e a revista NÃO-Veja podem, sim, estar começando a dar sinais de que estão com medo de nós. Grande Freud!
Lula chama de ‘criminosa’ reportagem sobre conta no exterior
SAO PAULO (Reuters) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou neste sábado como criminosa reportagem publicada na edição deste final de semana na revista Veja em que ele aparece como possível titular de uma conta no exterior com depósitos de 38,5 mil dólares.
‘A Veja não traz uma denúncia, a Veja traz uma mentira… Eu só posso considerar isso um crime praticado por um jornalista ou por uma revista, e eu não posso comparar isso a jornalismo’, afirmou o presidente a jornalistas em Viena, onde participou da 4a Cúpula de América Latina e Caribe-União Européia.
‘Eu não acredito que dentro da revista Veja tenha uma única pessoa que tenha 10 por cento da dignidade e da honestidade que eu tenho. Sabe, eu não posso admitir isso, não pode. É uma ofensa ao presidente da República, é uma ofensa ao povo brasileiro’, afirmou Lula ao ser abordado por jornalistas no saguão do hotel em que está hospedado.
Ele afirmou que ainda não leu toda a reportagem e que, portanto, não sabe ainda que ação tomar.
A reportagem cita documentos que teriam sido compilados a mando do banqueiro Daniel Dantas, do banco Opportunity, que formariam um dossiê produzido para que ele pudesse se defender ‘da perseguição do governo Lula por rejeitar pedidos de propina’, segundo a Veja.
A revista reproduziu uma lista com nomes de pessoas que estão ou que já estiveram no governo, incluindo valores que estariam depositados em nome destas pessoas em contas no exterior.
O nome do presidente Lula aparece ao lado de um saldo de 38,5 mil dólares, mas não constam nome do banco ou número da conta.
Também aparecem os nomes, ao lado de possíveis contas, do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e dos ex-ministros José Dirceu, Antonio Palocci e Luiz Gushiken, entre outros.
A revista informou que tentou comprovar a veracidade dos dados e que o material apresentou inúmeras inconsistências. ‘Mas nenhuma suficientemente forte para eliminar completamente a possibilidade de os papéis conterem dados verídicos’, disse a reportagem.
‘Sinceramente é de uma leviandade, de uma grosseria que um ser humano comum não pode admitir, quanto mais um presidente da República’, disse ele.
‘A Veja vem assim há algum tempo, mas acho que chegou ao limite da podridão da imprensa, chegou ao limite. Não sei se um jornalista que escreve uma matéria daquela tem a dignidade de dizer que é jornalista. Ele podia dizer que é bandido, mau caráter, malfeitor, mentiroso’, disse.
‘É até constrangedor um presidente da República saber que tem uma mentira dessa grosseria numa revista que deveria respeitar os seus leitores. Os leitores pagam a revista, são induzidos a assinar e não merecem as quantidades de mentiras que a Veja tem publicado.’
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Lingüista, São Paulo