Em nota oficial distribuída no sábado (23/7), reproduzida abaixo, o deputado e ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu de Oliveira criticou o trabalho de veículos jornalísticos que, de acordo com sua avaliação, promovem um ‘linchamento moral’ contra ele. O deputado do PT de São Paulo reclama explicitamente da revista Veja, dos jornais Correio Braziliense e Folha de S.Paulo, e do Jornal Nacional, da Rede Globo. O telejornal global deu destaque à nota na edição do mesmo sábado, apontando os trechos mais incisivos e respondendo o ex-ministro com um editorial lido pelo jornalista Renato Machado. O texto da matéria do JN está apresentado nesta página, em seguida à íntegra da nota do deputado. Na seqüência, carta de Eduardo Jorge Caldas Pereira, ex-secretário-geral da Presidência da República, publicada no ‘Painel do Leitor’ da Folha de S.Paulo, sobre pouco destaque dado pelo jornal à nota de Dirceu.
O linchamento moral ao qual estou sendo submetido nas últimas semanas é de uma covardia jamais vista na história política deste país. A frustração por não encontrar uma única evidência concreta de minha participação nas ilicitudes investigadas pelo Congresso Nacional, pela Polícia Federal e pelo Ministério Público tem levado parte representativa da imprensa brasileira a fazer o jogo dos meus adversários políticos. Estou sendo sumariamente condenado em praça pública, sem direito de defesa.
Na competição sem freios pelas denúncias, qualquer referência a mim promove a notícia do cesto de lixo para a manchete do dia. Citações desconexas de pessoas sem credibilidade são transmitidas como verdade à opinião pública, sem que meus argumentos sejam sequer levados em conta na apuração. A revista Veja faz isso três vezes na edição 1.915, de 27 de julho de 2005. Nas reportagens ‘A chantagem’ e ‘O petróleo é deles’, minha contestação foi completamente ignorada. Na reportagem ‘Fábrica de fraudes’, sequer fui ouvido.
Veja apresenta pessoas que supostamente teriam feito tráfico de influência como meus ‘representantes’. Assume como verdade o fato, mesmo após eu ter dito que ‘nunca autorizei ninguém a usar meu nome’ para abrir portas no governo. Lembrei ainda que isso foi dito em relação ao ex-subchefe de Assuntos Legislativos da Casa Civil Waldomiro Diniz, mas o depoimento do próprio denunciante Carlinhos Cachoeira na CPI dos Bingos provou o contrário.
Veja também me coloca como interlocutor de conversas entre o ex-presidente da Câmara deputado João Paulo Cunha (PT-SP) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em suposta operação para ‘acalmar’ o empresário Marcos Valério. A reportagem não registrou que neguei ter conversado sobre esse assunto. Na outra reportagem, a revista me acusa de ter ‘acertado’ a edição de uma medida provisória para beneficiar o banco BMG. Não me deu a oportunidade de, além de negar o fato, argumentar que a liberação do crédito consignado para trabalhadores, aposentados e pensionistas do INSS, objeto da MP, foi solicitada pelas centrais sindicais, aprovada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, referendada pelos Ministérios da Fazenda e da Previdência Social e aprovada pelo Congresso Nacional.
A mesma falta de consideração e respeito aos princípios básicos do jornalismo ocorreu com reportagem de igual teor do jornal Correio Braziliense, publicada em 17 de julho passado. Também fui vítima da mesma anomalia na exibição e publicação de reportagens com citações ao meu nome em conversas interceptadas de fraudadores do INSS. Meu patrimônio moral foi massacrado em duas reportagens que totalizaram mais de 13 minutos no Jornal Nacional da TV Globo, que só no terceiro dia informou seus telespectadores que os denunciantes eram pessoas envolvidas com a máfia do INSS que tinham o objetivo de atingir quem estava moralizando o órgão. A versão inicial foi reproduzida por toda a imprensa, mas a outra foi quase completamente ignorada.
Em outras vezes, apesar de ser ouvido na apuração da reportagem, minhas afirmações e argumentos são registrados apenas como obrigação formal. Nesta semana ocorreram dois casos. A Folha de S.Paulo considerou como dívida o reembolso de adiantamentos de despesa feito por mim ao PT, mesmo sendo esclarecida previamente. Outros veículos da imprensa reproduziram a mesma versão. Poucos tentaram me ouvir. Os que o fizeram também desconsideraram a informação correta.
Outro caso semelhante ocorreu novamente com o Correio Braziliense. Mesmo depois de sustentar que não conhecia um determinado diretor de finanças de um fundo de pensão e que os controles sobre a indicação de cargos não apontavam que a indicação partiu da chefia da Casa Civil ou do PT, a reportagem assumiu como inteira verdade apenas a palavra de outras fontes, que não se sabe qual interesse podem ter para me desmoralizar.
Em razão desse comportamento inadequado de parte da imprensa brasileira, me dirijo à opinião pública do país para afirmar mais uma vez: não me envergonho de nada que fiz nos 30 meses em que permaneci no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Espero ser tratado com respeito, ponderação e justiça nesse processo político de desmoralização, que busca justificar minha condenação sumária em um Tribunal de Exceção.
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Jornal Nacional
Texto da matéria ‘Críticas à imprensa’, exibida em 23/7/2005 e
disponível aquiO ex-ministro chefe da Casa Civil, deputado José Dirceu, divulgou nota em que critica duramente o trabalho da imprensa brasileira. O deputado cita a revista Veja, a Folha de S.Paulo, o jornal Correio Braziliense e a TV Globo.
Na nota, o deputado José Dirceu diz que vem sendo submetido a um linchamento moral nas últimas semanas – o que chama de uma covardia jamais vista na história política deste país. De acordo com a nota, a frustração por não encontrar uma única evidência concreta da participação dele nas ilicitudes investigadas pelo Congresso Nacional, pela Polícia Federal e pelo Ministério Público tem levado parte representativa da imprensa brasileira a fazer o jogo dos seus adversários políticos.
José Dirceu diz que está sendo sumariamente condenado em praça pública, sem direito de defesa. O deputado diz ainda que, na competição sem freios pelas denúncias, citações desconexas de pessoas sem credibilidade são transmitidas como verdade à opinião pública – sem que seus argumentos sejam sequer levados em conta na apuração.
O ex-ministro cita diversas matérias publicadas pela revista Veja, pela Folha de S.Paulo e pelo Correio Braziliense. E cita ainda a exibição e publicação da reportagem com citações ao nome dele, em conversas interceptadas de fraudadores do INSS.
José Dirceu diz que seu patrimônio moral foi massacrado em duas reportagens que totalizaram mais de 13 minutos no Jornal Nacional da TV Globo, que, só no terceiro dia, informou seus telespectadores que os denunciantes eram pessoas envolvidas com a máfia do INSS, que tinham o objetivo de atingir quem estava moralizando o órgão.
A versão inicial, segundo a nota, foi reproduzida por toda a imprensa, mas a outra foi quase completamente ignorada. O ex-ministro diz que, outras vezes, apesar de ter sido ouvido na apuração das reportagens, suas afirmações são registradas apenas como obrigação formal.
O ex-ministro diz ainda que, em razão desse comportamento inadequado de parte da imprensa brasileira, se dirige à opinião pública para afirmar mais uma vez que não se envergonha de nada que fez nos 30 meses em que permaneceu no governo do presidente Lula. E que espera ser tratado com respeito, ponderação e justiça nesse processo político de desmoralização, que busca justificar sua condenação sumária em um tribunal de exceção.
Direito de resposta
A TV Globo jamais discutirá o direito do deputado José Dirceu – ou de quem quer que seja – de criticar o trabalho da imprensa brasileira. É um direito dele. Coisa totalmente diversa, porém, é acolher as críticas como justas.
No que diz respeito à TV Globo, o ex-ministro se equivoca. Já no início da primeira reportagem, foi dito que a personagem da denúncia era acusada de participar de um esquema de fraudes na Previdência.
É preciso relembrar: 11 meses antes de o atual escândalo político vir à tona, duas ex-auditoras fiscais do INSS dizem, em conversa telefônica, que Delúbio Soares, mensalmente, recolhia uma mensalidade na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), com o objetivo de evitar que empresas do Rio de Janeiro fossem fiscalizadas.
As auditoras diziam que o esquema era do conhecimento de José Dirceu. Embora em poder da polícia havia meses, o teor da conversa só agora foi divulgado. Como as investigações que a CPI do Congresso Nacional, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados e a Polícia Federal dizem justamente respeito à denúncia de pagamento de mensalão, com dinheiro obtido de propinas, a gravação da conversa das duas auditoras fiscais ganhou importância.
A Firjan e o governo negaram as denúncias e isso foi amplamente registrado nas reportagens aqui exibidas. Procurado na época, o ex-ministro limitou-se a divulgar uma curta nota, negando as acusações.
Aliás, este tem sido o comportamento dele, que vem sistematicamente se negando a falar com a imprensa. É um direito dele. Essa atitude, porém, tira dele legitimidade para acusar a TV Globo de não lhe conceder o direito de defesa.
A TV Globo continuará fazendo um bom jornalismo e procurando ouvir todos os que – de fato – queiram falar.
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Carta à Folha
Copyright ‘Painel do Leitor’, Folha de S.Paulo, 25/7/2005
‘Quero manifestar a minha estranheza pela falta de reação deste jornal à nota distribuída pelo ex-ministro José Dirceu e que – apesar de mencionada na edição online da Folha – não teve a sua íntegra publicada na versão impressa que tem circulação nacional. Somente a sua leitura permitiria ao leitor deste jornal ver em toda a sua extensão o cinismo desse senhor. Alegar que está sendo linchado em público sem direito de defesa beira as raias do ridículo. Em primeiro lugar, porque ele foi durante muitos anos o chefe da turba que linchou todos os adversários políticos – mesmo quando tinham pleno conhecimento de falta de razões objetivas para tal. O caso Eduardo Jorge – e a confissão do ex-senador José Eduardo Dutra, em entrevista, da falta de motivos objetivos para ele – bem como a atuação do PT são uma prova disso. Além do mais ele continua, apesar de as investigações já terem mostrado a falsidade das imputações, a acusar sem provas seus inimigos, como se vê quando se refere a FHC e a José Serra. Como, portanto, pretender outro tratamento? Em segundo lugar, o sr. José Dirceu saiu do palácio exatamente para se defender e até hoje não foi capaz sequer de ir à tribuna ou comparecer a uma das instâncias que investiga o caso para apresentar sua versão. Portanto, se não se defendeu, dispondo da tribuna e dos ‘convites’, é porque não tem como…’
Eduardo Jorge Caldas Pereira, ex-secretário-geral da Presidência da República (São Paulo, SP)
Nota da Redação – O comunicado de José Dirceu não foi publicado em todas as edições porque foi enviado apenas na noite de sábado, 23/7.
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Deputado federal (PT-SP)