Os principais jornais brasileiros, aqueles que produzem a agenda pública, têm dois pontos de convergência nas edição de quarta-feira (16/6): na política e no futebol.
Na política, a imprensa afirma, em unanimidade, que o presidente da República sancionou o reajuste de 7,7% para as aposentadorias maiores que um salário mínimo apenas por interesse eleitoral, para não prejudicar sua candidata à sucessão.
No futebol, é quase um coro a reclamação contra o desempenho da seleção brasileira na partida contra a Coreia do Norte, considerada a mais fraca equipe a disputar a Copa do Mundo na África do Sul.
O Globo é o mais explícito. Em manchete na primeira página, decreta: ‘Para ajudar Dilma, Lula nega orientação da equipe econômica’.
Os jornais deixam em segundo plano o fato de o presidente ter mantido o sistema de cálculo da aposentadoria com o fator previdenciário, cuja extinção havia sido aprovada no Congresso, justamente por recomendação de seus ministros da área econômica. Mas os jornais já haviam decidido há alguns anos que a única motivação de um presidente da República em ano eleitoral é a própria eleição, então ficamos assim.
Presença constante
Quanto ao resultado medíocre do time dirigido pelo técnico Dunga, que sofreu aquele que será provavelmente o único gol da equipe norte-coreana em toda a Copa, a unanimidade dos jornais coincide com o que se ouviu nas ruas e com as avaliações de comentaristas do rádio e da TV.
O time brasileiro fez o que se espera do estilo Dunga: praticou um jogo previsível, sem criatividade, burocrático.
Como previsível era a decisão do presidente da República, e como previsíveis são todas as manchetes dos jornais quando falam da disputa eleitoral.
Visto pelas lentes da imprensa, o país que fez fama por sua criatividade parece ter perdido a capacidade de surpreender: as denúncias de outras campanhas são requentadas e até mesmo o ex-secretário do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Eduardo Jorge Caldas Pereira, que hoje é vice-presidente-executivo do PSDB, volta ao noticiário no papel de vítima de investigações obscuras.
Os dossiês anunciados pelos jornais e pela revista Veja ainda não se materializaram. Mas todos sabem que eles vão continuar cruzando a mídia até as eleições, assim como a bola tem que passar pelos pés de Kaká toda vez que seleção brasileira vai ao ataque.