A coluna de domingo de Deborah Howell, ombudsman do Washington Post [4/5/08], foi tomada por crianças. Os temas infantis, entretanto, não tinham o tom leve e colorido da infância: Deborah tratou de dois assuntos que geraram crítica e controvérsia na última semana. O primeiro deles foi um caso de plágio em um concurso de poesia infantil organizado pelo Post; o segundo, a publicação de uma foto polêmica de um garotinho morrendo em Bagdá, vítima da guerra.
Os poemas vencedores do concurso do Post foram publicados na semana passada. Dois deles, submetidos por crianças como sendo originais, na verdade não o eram, como observaram 17 leitores. O concurso existe há quatro anos e é realizado durante o mês nacional da poesia. Este ano, 1.150 poemas foram inscritos na competição. A editora Marylou Tousignant, responsável pela KidsPost, seção dedicada ao público infantil, anunciou o concurso no dia 26/3, deixando claro que apenas trabalhos originais seriam aceitos. Cada um dos vencedores e seus pais foram chamados por Marylou, para que ela pudesse ter garantias de que todos os trabalhos eram originais. Como precaução extra, os poemas foram pesquisados também no Google.
Curiosamente, quem descobriu a fraude foi Hannah Engle, uma menina de 10 anos de idade. Hannah leu um dos poemas ganhadores, escrito também por uma menina de 10 anos, e o achou familiar. Ela comentou o assunto com sua professora, Sharon Riley, que decidiu levar os alunos à biblioteca da escola. Lá, eles encontraram o poema ‘One Out of Sixteen’, de Shel Silverstein – parecido com a poesia vencedora. Pesquisando na rede, Sharon e os alunos descobriram ainda que outro poema vencedor, ‘Eraser’, supostamente escrito por uma menina de seis anos, era extremamente semelhante ao ‘The Eraser Poem’, de Louis Phillips.
Marylou decidiu então chamar as duas meninas e seus pais. A editora e a mãe da menina de seis anos acham que ela não entendeu o que seria original, pois mudou algumas palavras do poema de Phillips. Já a menina de 10 anos confessou para Marylou que mentiu. O pai dela desculpou-se e pediu a Deborah para dizer a sua filha o quão sério é um plágio. O jornal imediatamente publicou uma correção. ‘Estou envergonhada e triste, mas não sei o que mais poderíamos ter feito’, disse Marylou. Para o concurso do ano que vem, ela sugeriu que Hannah e sua turma ficassem responsáveis por verificar a originalidade dos poemas vencedores.
Foto polêmica
Uma foto http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2008/04/29/AR2008042900560_2.html (ver slideshow) de uma criança sendo carregada de sua casa destruída após um ataque aéreo americano em Bagdá, publicada na primeira página do Post, recebeu críticas de 20 leitores. A legenda informava que o menino, Ali Hussein, havia morrido no hospital. Alguns leitores consideraram a informação contida na legenda de mau gosto e, para outros, a foto teve motivação política.
Segundo a subeditora de fotografia, Bonnie Jo Mount, imagens de guerra são freqüentemente publicadas pelo jornal, porém nelas não aparecem vítimas do conflito, e sim veículos destruídos e mísseis. ‘A criança ferida refletiu a morte de civis e estava relacionada às notícias daquele dia. Temos a responsabilidade de informar nossos leitores. Isto significa publicar algumas imagens que podem deixar as pessoas desconfortáveis’, explica. O editor-executivo Leonard Downie Jr. é sempre cauteloso com este tipo de foto, mas achou especialmente importante a publicação desta. ‘Nós somos capazes de mostrar o impacto humano da guerra sobre os iraquianos. Decidimos que esta era uma ocasião rara com uma poderosa imagem e optamos por publicá-la’, contou.
Deborah, a princípio, achou a foto inapropriada para a primeira página, mas depois reconsiderou sua opinião, já que a imagem mostra que não são apenas soldados que morrem na guerra. A ombudsman comparou o poder da mensagem com a da conhecida foto de uma menina correndo nua durante a Guerra do Vietnã, em desespero, com o corpo queimado por napalm.