Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Uma saída fácil para driblar a crise

Jornais do interior, sobretudo os da Região da Campanha, no extremo Sul do Rio Grande do Sul, têm achado maneiras controversas de driblar a crise que assola o meio impresso. É o caso, por exemplo, da contratação de estagiários de jornalismo, sem pouca experiência e em início de curso para trabalhar como repórteres.

Em Bagé, os dois jornais que circulam na cidade são exemplo disso. Um deles, o Minuano, de propriedade da universidade local e escorado na Escola de Comunicação, chega a levar acadêmicos do segundo semestre às redações. Argumenta ser nela que o aluno aprenderá as artimanhas do jornalismo. Até pode ser. Mas depois de estar apto e confiante no texto que será apresentado aos leitores. Do total de ‘repórteres’ que cobrem o grosso das notíciais de geral – são 4 – apenas um é formado. Os outros variam entre o terceiro e o sexto período de curso.

Claro, os mais conservadores diriam ser mesmo na redação que se aprende a escrever. Antigamente era assim. As pessoas, lá pelos seus 17, 18 anos, sem ter muito o que fazer, passavam os dias lendo e, com isso, pegavam gosto pela escrita. Pode-se citar vários deles: Ricardo Kotscho, Eduardo Martins, Alberto Dines, com certeza, entre outros.

Hoje, porém, a historia é outra. Lê-se menos. Recebe-se imensa carga de informação todos os dias. Daí o baixo nível dos textos – há exceções, como sempre – publicados em diversos jornais, ainda mais aos que me refiro: os de Bagé.

O outro periódico, o Correio do Sul – de grande tradição, data de 1914 –, também caiu nessa. A começar pelo dono. Sem ser jornalista, é quem acaba dizendo o que é noticia ou não. Escreve, inclusive. E ainda assina.

Quem sai perdendo, como sempre, é o leitor. Deixa de receber boa leitura, e passa a comprar jornais de circulação nacional, casos de Zero Hora e Correio do Povo, por exemplo. Talvez o motivo principal da baixa vendagem constatada nos últimos tempos.

Futuro condenado

Para piorar, não têm a mínima noção do que vem a ser uma pauta. Nas ditas ‘reuniões’, colocam um assunto no quadro e sequer comentam com os repórteres abordagens e pontos de vista sobre o material que será buscado. Limitam-se, quando muito, a dizer o local onde será realizado tal evento, quando o fazem.

O pobre estudante sai desinformado normalmente, pois também não lê nada de manhã, o que acarreta um mau texto. E mais: quando volta à redação e redige a matéria não raro tem sua atenção chamada a respeito do que escreve.

Outro ponto importante a ressaltar é a cobertura dada à chamada comunidade – como gostam dessa palavra. São todos jornais da comunidade, porém pouco fazem para ajudá-la. Dificilmente se vê alguma reportagem especial, sobre qualquer tema. Vivem de releases de assessoria de imprensa ou de notícias construídas em cima de reclamações contra ela. Diria mais: 80% do que é veiculado por eles advêm da Prefeitura Municipal.

Embora o Minuano tenha um editor formado há pelo menos 10 anos, inclusive professor da Faculdade de Comunicação (Facos), em Bagé, não foge desse contexto.

Cada um dos repórteres chega a produzir de cinco a seis noticias por dia. Muitas delas sem muita utilidade – somente para preencher espaço. Seu futuro está condenado à prática de um jornalismo sem questionamentos, sem pontos de vista, sem fundamentação e analogias. Água com açúcar, pode-se dizer. Lide tradicional (acontece hoje, às 19h…), essas coisas. Ainda bem que muita gente não vê isso.

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Estudante do 8º semestre de Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social da Universidade da Região da Campanha (Urcamp), Bagé, RS