Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Vantagens e desvantagens nas entrevistas de candidatos

Entre os dias 7 a 10 de agosto, o Jornal Nacional promoveu a primeira rodada de entrevistas com os principais candidatos à presidência da República. O telejornal fez o mesmo nas eleições de 2002 e alguns pesquisadores trataram de analisar as entrevistas. Ana Paula de Siqueira Saldanha defendeu a tese de que o telejornalismo ‘requalifica’ a política. ‘A requalificação resulta de práticas telejornalísticas que subordinam as falas dos candidatos a um processo de inteligibilidade orquestrado pelo próprio telejornalismo’ (Saldanha, 2003, p. 26).

Seguindo tendência semelhante, Fausto Neto (2003, p. 119) defende que o campo político, já sem as ‘condições de produção da visibilidade de sua discursividade na esfera pública, agora parece perder, igualmente, as condições de sua própria enunciação’, pois elas estariam, atualmente, ‘sob o controle do campo da mídia’. Correndo o risco da simplificação, necessária a este texto, podemos dizer que ambos criticam os jornalistas por terem, de certa forma, exigido dos candidatos determinadas falas que eles, se pudessem, não usariam. Nesta perspectiva, as entrevistas acabam por enfatizar aspectos que os candidatos preferem não abordar.

Atenção constante

Ainda que concordemos com os argumentos dos pesquisadores, parece-nos importante destacar que, caso os entrevistadores não perguntassem sobre os temas delicados e polêmicos envolvendo as candidaturas dos presidenciáveis, eles igualmente seriam criticados. Tanto em 2002 quanto nesta primeira rodada de entrevistas de 2006, fica evidente que os jornalistas estão fazendo um tipo de entrevista que Cremilda Medina (2000, p. 18) nomeou de ‘entrevista de confronto’. Nestes momentos, ensina a professora, ‘o jornalista deve denotar habilidade de mediador, instigador e investigador, porta-voz das dúvidas do senso comum’.

Geraldo Alckmin foi questionado sobre a insegurança em São Paulo, Heloisa Helena precisou se desculpar por suas falas e defendeu o socialismo, Cristóvão Buarque teve que relembrar sua derrota nas urnas e Lula, as denúncias de corrupção no governo. Se, por um lado, os quatro principais candidatos foram condicionados a tratar de determinados assuntos de suas trajetórias políticas, por outro lado, em que outro lugar da televisão o telespectador veria seu candidato falando diretamente sobre estas questões senão no espaço jornalístico?

Não estamos aqui defendendo o telejornal ou seus jornalistas. Trata-se, apenas, de chamar a atenção para a complexidade do problema. Refletir em que medida a imprensa ‘requalifica’ ou retira as ‘condições da enunciação’ do campo da política merece nossa constante atenção porque, a depender de como a cobertura das eleições avance, corremos o risco de ouvir e ver apenas os aspectos mais negativos das candidaturas. Apenas com informações que desqualificam a política, quem perde é a democracia.

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Professor universitário, pesquisador do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (Cult/UFBA), autor da tese de doutorado ‘Os estudos sobre mídia e eleições presidenciais no Brasil pós-ditadura’