Tuesday, 12 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Veja ajuda a colocar imprensa sob suspeita

Exatamente há um ano, por meio da Veja e em seguida do Fantástico, começava a mais prolongada e intensa crise política brasileira. O ‘vídeo da propina’ não foi um trabalho estritamente jornalístico da revista: foi filmado nos Correios por um espião profissional a serviço de um empresário prejudicado em licitações. A revista apenas o transcreveu. Mas abriu as comportas de um mar de escândalos comprovados em CPIs e depois pela Procuradoria Geral da República.


Um ano depois, a mesma Veja coloca a imprensa numa situação constrangedora ao veicular denúncias sem qualquer indício concreto, e ainda por cima envolvendo a pessoa do presidente da República e alguns de seus ex-ministros. A matéria da última edição da Veja não apenas compromete a revista de maior circulação do país, mas respinga no resto da imprensa no exato momento em que a palavra de ordem é colocar sob suspeita o jornalismo brasileiro – justamente por causa dos seus acertos.


Primeiro foi o ex-governador Garotinho, depois o ex-secretário geral do PT Silvio Pereira, depois o presidente da Bolívia Evo Morales, depois o senador Ney Suassuna flagrado pela Operação Sanguessuga e, finalmente, a CNBB – todos colocaram o trabalho da imprensa sob suspeita.


E estavam errados, felizmente. Mas a lamentável façanha da Veja pode colocar tudo a perder. A diligência de muitos pode ser prejudicada pela irresponsabilidade de alguns. O presidente Lula, legitimamente indignado, colocou a culpa num repórter a quem se referiu com pesados adjetivos. O presidente também errou: a culpa nunca é de um repórter mas, sim, daqueles que determinam o que sai ou não sai publicado.


Desta vez a imprensa, além de noticiar a aberração, deve se manifestar contra ela. De forma candente. A solidariedade entre as empresas jornalísticas desta vez não pode impedir que a imprensa manifeste coletivamente o seu repúdio à difamação e às calúnias.