Os dois jornalões paulistas voltaram a servir-se no domingo do material (teoricamente exclusivo) fornecido por Veja sobre as andanças do irmão do presidente, Vavá Inácio.
No Estado de S.Paulo (pág. A 7) e na Folha (pág. A 14) foram reproduzidas com grande destaque as mesmas revelações de Veja divulgadas no dia anterior (págs. 54-56).
Não se pretende aqui discutir o teor da reportagem do semanário mas o sistema de recorte & cola (ou clonagem) ressuscitado na imprensa brasileira.
Nada impede que um veículo procure dar seqüência ao noticiário de outro (no jargão, fazer suíte ou repercutir). Ao contrário, é prova da sua agilidade. Mas a mera colagem dos elementos principais de uma matéria sem qualquer dado novo configura a prática da reprovável de cruzada ou campanha. Sobretudo quando se trata de denúncia.
O órgão veiculador considerou a matéria suficientemente amparada em dados e apta para ser publicada. Problema dele e de seus controles de qualidade. Mas chama a atenção o fato de que os dois veículos ‘reprodutores’ (no grupo dos maiores do país) tenham desistido da sua capacidade de investigar e aceito uma matéria alheia que não passou pelo seu corpo de repórteres. Veio de fora. Como releases, matérias de favor ou o famigerado ‘a pedidos’.
Fazer barulho é uma conseqüência natural da atividade jornalística. Mas esquecer que a atividade jornalística exige uma busca particular de circunstâncias significa abdicar da metade de suas obrigações funcionais.
Momentos históricos
A matéria ‘A volta do abominável ‘A Pedidos’‘. publicada na edição nº 350 (11/10) deste Observatório, mereceu reparos da direção de jornalismo da TV Globo:
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O ‘vídeo da propina’ não foi compartilhado entre Veja e o Fantástico (do domingo), mas entre Veja e o Jornal Nacional do mesmo sábado. Não foi o semanário que a ofereceu: a iniciativa coube à Central Globo de Jornalismo, que divulgou um trecho.**
O áudio da entrevista de Roberto Jefferson publicada pela Folha foi reproduzido no mesmo dia pela Globo. A Folha não se recusou a cedê-la.Pedir ou oferecer matérias exclusivas, segundo este Observador, é ato que não difere muito da antiga prática do ‘A Pedidos’. Compreende-se a legítima vibração em participar de uma façanha profissional de outro veículo. Principalmente em momentos destinados a entrar na história. É preciso, porém, não esquecer que a fabricação de bolas de neve, sem qualquer acréscimo factual, pode significar uma renúncia ao jornalismo e resignação à mera função de comunicar. Há diferenças.