Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Veja

INTERNET
Camila Antunes

Para brilhar no YouTube

‘Cerca de 65 000 vídeos são adicionados ao site YouTube diariamente entre os quais fazem mais sucesso as produções caseiras. Especialistas do cinema e da TV ensinam técnicas de roteiro, filmagem e edição a quem quer lançar um filme na rede.

Com a criação dos serviços de compartilhamento de vídeos na internet, algumas produções amadoras alcançaram um público inimaginável. O maior hit do site YouTube, que mostra um americano dançando ao som de músicas conhecidas, foi visto por 32 milhões de pessoas. O curta nacional Tapa na Pantera, em que uma atriz finge ser uma velhinha viciada em maconha, foi replicado mais de 1 milhão de vezes. Qual a fórmula de sucesso desses vídeos? ‘Não há uma resposta fechada. A internet é o veículo ideal para a experimentação de novos padrões de imagem, diferentes dos que estamos acostumados a ver na TV’, diz o videomaker Demian Grull. No entanto, é necessário conhecer o que é padrão antes de criar. VEJA conversou com especialistas e selecionou algumas regras básicas de filmagem.

ROTEIRO

• Os melhores filmes são os que têm um bom personagem. A base de uma história é o conflito que ele vive

• ‘Não escreva um roteiro tentando passar uma mensagem. O que interessa é contar uma história’, diz o cineasta Rubens Rewald

• Uma técnica para fazer a criatividade fluir é demarcar o espaço da história que pode se passar num barco, por exemplo

• ‘Na dramaturgia, menos é mais’, diz Rewald. Conte sua história da maneira direta

SOM

• Em geral os microfones internos das câmeras não são bons. Vale a pena investir em um melhor. ‘Pior do que imagem ruim é som que não está bom’, diz o diretor de filmes Tadeu Jungle

• Apesar de ser mais discreto, o microfone de lapela capta mais ruído que o de mão

• Ligue um fone de ouvido à saída de áudio da câmera para ter uma noção real do som capturado pelo microfone. Barulho de vento e de carro costuma atrapalhar as gravações

LUZ

• Recomenda-se, antes de começar a gravar, filmar uma folha de papel branco para corrigir a receptividade da câmera às cores. As filmadoras costumam ter um botão próprio para fazer esse ajuste, chamado white balance

• Um isopor ajuda a rebater a luz para minimizar sombras que aparecem em gravações externas, especialmente quando o sol está forte

• Uma fonte de luz que venha por trás da pessoa que fala (como, por exemplo, um abajur) ajuda a dar volume à cena . ‘A TV tende a deixar as pessoas chapadas junto ao fundo’, diz o videomaker Allan Lico

ENQUADRAMENTO

• A regra dos três terços da fotografia vale também para filmagens: divida a tela em três linhas horizontais imaginárias. O personagem principal deve ficar na porção superior da tela – e não centralizado, com uma faixa de céu ou de ‘vazio’ preenchendo a imagem

• Para quem está começando a filmar, recomenda-se o uso do monopé. Ele é melhor do que o tripé, pois dá mais flexibilidade para movimentar a câmera. É também mais vantajoso do que filmar com a câmera na mão, o que geralmente resulta em imagem tremida

• Não abuse do zoom. Prefira andar com a câmera. Especialistas dizem que o zoom só deve ser usado quando ele faz sentido na narrativa – por exemplo, quando se quer dar a idéia de ‘entrar na cabeça’ do personagem

TRILHA SONORA

• Para reprodução caseira, não há problema em usar músicas de gravadoras. Mas, se for colocar o vídeo na rede, é preciso cuidado com direitos autorais. O YouTube vem sofrendo uma série de processos de gravadoras pelo uso indevido de trilhas sonoras. Acordos feitos entre alguns sites e gravadoras, entretanto, já disponibilizam efeitos sonoros e música para serem usados de forma gratuita, como os encontrados no site www.currenttv.com

EDIÇÃO

• Mesmo as câmeras mais baratas possuem diversos recursos de edição de imagem. ‘Mas eles devem ser usados com cuidado, pois se acaba prestando mais atenção no efeito do que na cena’, diz a cineasta Mariana Fresnot

• Uma boa história pode ser contada em cerca de dois minutos. ‘Dez minutos é o limite, já que usuários da internet não relutam em fechar a janela do browser quando se sentem entediados’, diz Tadeu Jungle

Ele é repórter, câmera e diretor

Allan Lico, 25 anos, trabalhou como ‘repórter abelha’, ou videorrepórter, na rede Cultura. Lá, aprendeu a operar a câmera ao mesmo tempo em que apurava a reportagem. Há dois anos, ele montou uma produtora de vídeos e passou, também, a dirigir os programas que faz. Seu exemplo mostra como está mais fácil – e mais barato – tornar-se um profissional do vídeo

Gasto de Lico para montar uma produtora profissional: 25 000 reais. ‘Só comprei equipamentos profissionais. Se investisse nos melhores acessórios e câmeras para amadores, o custo cairia para cerca de 8 000 reais – e o resultado já seria satisfatório.’

Como são montados os filmes: no computador.

Ele usa o programa Final Cut, da Apple. ‘Investi num software porque preciso de mais recursos. Os computadores novos, contudo, já vêm com um programa básico de edição. É o caso do Windows Move Maker e do Apple iMove.’

A filmadora que ele recomenda: Panasonic GS150P. ‘Tem tecnologia comparável à das profissionais na captação das cores, com três sensores chamados de CCD. Um recebe os tons verdes, outro os azuis e o outro capta os vermelhos.’

O que diferencia a produção amadora da profissional, segundo Lico: ‘O cuidado na gravação, especialmente com o áudio.’



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O noveleiro da web

‘O fotógrafo João Godoy, 23 anos, mantém há dois anos um programa em seu blog na internet (www.videolog.tv/jaum). ‘No começo, apresentava um reality show malfeito, gravado pela webcam de meu quarto ou por uma câmera fotográfica digital’, diz. Agora ele pilota uma filmadora digital e dirige uma novela, já acessada por 200 000 pessoas. Godoy aponta alguns segredos que o ajudaram a conquistar público na internet:

• Por meio de comunidades do Orkut, do site em que posta os vídeos e de portais de televisões estrangeiras, Godoy conheceu profissionais que trabalham com locução, edição e efeitos visuais. ‘Eles me orientaram a mudar a cara do programa’

• Godoy convidou um grupo de teatro amador de sua cidade, Caçapava, para fazer a novela. ‘Gravamos aos domingos, já que este trabalho não tem remuneração para ninguém’

• Os temas tratados por Godoy abordam o cotidiano dos adolescentes e a internet. O seriado Livro da Amizade conta a história de pessoas que ele conheceu pelo sistema de mensagens Messenger

Está na hora de mostrar sua arte

Para divulgar um vídeo na internet é preciso seguir alguns procedimentos simples: cadastrar-se como usuário, carregar o vídeo na página e classificá-lo com palavras relacionadas a seu tema, a fim de que possa ser encontrado pelo mecanismo de busca. VEJA comparou os sites mais utilizados pelos brasileiros.

www.youtube.com

Tempo máximo do vídeo: 10 minutos

Quanto tempo leva para ser publicado: até 24 horas, pois são milhares de vídeos incluídos por dia

O diferencial: é o site que recebe maior número de acessos mundialmente ideal para quem deseja que o vídeo se torne popular

www.video.google.com

Tempo máximo do vídeo: 25 minutos*

Quanto tempo leva para ser publicado: o vídeo será checado e, por causa disso, pode levar alguns dias para ser aprovado

O diferencial: possuir o mecanismo de busca do Google e não ser tão concorrido como o YouTube

www.videolog.tv

Tempo máximo do vídeo: 15 minutos*

Quanto tempo leva para ser publicado: de 5 a 15 minutos

O diferencial: a maior parte dos vídeos é produzida pelos usuários (não são gravações da TV). Os brasileiros são maioria nesse site

www.dailymotion.com

Tempo máximo do vídeo: 30 minutos*

Quanto tempo leva para ser publicado: 15 minutos

O diferencial: ideal para conferir os vídeos que estão sendo feitos na Europa, onde o site tem forte audiência

* Em alta resolução, equivalente a 512 kbps

A força do Brasil no Youtube

3° lugar é a colocação do Brasil no ranking dos países que mais acessam o YouTube, atrás de Estados Unidos e Japão

30% dos brasileiros que acessaram a rede visitaram o site YouTube em setembro

50% foi o crescimento do número de acessos no último mês

26 minutos é o tempo médio que um brasileiro passa no site a cada mês

Fonte: Ibope/ NetRatings

Com reportagem de Marcos Todeschini’



TELEVISÃO
Marcelo Marthe

Novelas subversivas

‘A ousadia: num subúrbio em que os desvios morais se escondem sob as aparências, uma dona-de-casa (Mary-Louise Parker) sustenta a família vendendo maconha – e isso é mostrado sem condenações

Num episódio da série Weeds, a dona-de-casa Nancy (Mary-Louise Parker) descobre que seu filho adolescente anda consumindo ecstasy. Como manda o figurino, ela dá uma dura no garoto e o adverte sobre os perigos das drogas. O problema é que Nancy tem um amplo telhado de vidro. ‘Qual a sua autoridade para me criticar? Você pode não usar, mas vende drogas’, retruca o rapaz. O diálogo expõe a condição da personagem. Ela é uma viúva e mãe como tantas outras do subúrbio conservador onde vive. Mas extrai o sustento da família de uma atividade ilícita – o tráfico de maconha. Weeds segue uma tendência em alta nos seriados americanos: a exploração de temas espinhosos e desvios de caráter. O público tem sido receptivo a atrações, digamos, abusadas como essa. Cada episódio de Weeds atrai quase 2 milhões de espectadores, índice respeitável para a TV a cabo nos Estados Unidos. É claro que muita gente preferirá manter distância dos temas e cenas vistos no seriado. Além disso, não custa lembrar, é recomendável que os pais fiquem atentos. Não à toa, o canal pago GNT exibe as aventuras de Nancy – que entram em sua segunda temporada a partir desta quinta-feira – quase à meia-noite.

Como notou certa vez o escritor checo Milan Kundera, a ficção é um terreno em que os julgamentos morais são suspensos. Pois bem: os seriados americanos estão levando esse preceito ao pé da letra ao debruçar-se sobre um amplo espectro de temas, das drogas ao sexo, da política à conduta pessoal. Mais que por tocar em pontos sensíveis, o que chama atenção neles é a ausência de condenações. Nancy é apresentada como uma heroína das mais simpáticas. Ainda que seja capaz de empunhar uma arma ou se prostituir para um chefão do tráfico apenas para quitar dívidas.

Um marco nesse tipo de abordagem foi o surgimento de Família Soprano, em 1999. O programa mostra um mafioso que tem inquietações como as de qualquer pessoa – transgredir a lei ou matar são só detalhes de sua rotina. Desde então, a TV foi invadida por uma leva de heróis sem caráter. O protagonista de 24 Horas é um agente que se vale de métodos nada ortodoxos para combater o terrorismo (a dubiedade, nesse caso, é um reflexo óbvio do estado de espírito americano depois dos atentados de 11 de setembro). Outro exemplo é o médico misantropo vivido pelo inglês Hugh Laurie em House. Abriu-se espaço, ainda, para séries que expõem sem pudor assuntos explosivos, como The L Word, que escancara a intimidade de um grupo de lésbicas, e Nip/Tuck, um retrato do mundo da cirurgia plástica carregado de libertinagem.

Uma explicação para o sucesso de Weeds é que, em vez de se identificarem com os personagens, os espectadores sentem alívio em constatar que suas vidas são bem menos periclitantes que as deles. A comédia oferece uma visão cáustica dos rincões suburbanos dos Estados Unidos. Por baixo da modorra desses locais, insinua-se, só há gente desajustada. O contador e sócio de Nancy no negócio das drogas é uma autoridade do lugarejo. Há ainda uma vizinha que faz a linha certinha, de quem a traficante tenta esconder seus esquemas. Mas Celia, a figura em questão, é uma mãe monstruosa que despreza a filha por ser gordinha – já foi capaz de pôr laxante em seu lanche escolar. De tão pressionada, a garota resolve viver uma relação lésbica com uma amiguinha. A atriz Elizabeth Perkins, aliás, está impagável no papel dessa mãe azeda. Só não rouba mais a cena porque o desempenho de Mary-Louise Parker não fica nada a lhe dever (ela inclusive ganhou o Globo de Ouro pelo papel). Nancy pode ser uma bandida. Mas tem carisma.’



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Elas Avançam O Sinal

‘FAMÍLIA SOPRANO (HBO)

A ousadia: oferece uma visão humanizada de um clã mafioso, para o qual o crime e a violência são tarefas casuais do dia-a-dia

HOUSE (Universal)

A ousadia: o protagonista é um médico misantropo que vê os pacientes como objetos de estudo. É, ainda, um viciado em remédios – e, quem sabe, drogas ilícitas

24 HORAS (Fox)

A ousadia: em nome da guerra ao terrorismo, o agente Jack Bauer (Kiefer Sutherland) mata e tortura suspeitos – com a anuência do presidente americano

THE SHIELD (AXN)

A ousadia: o seriado policial tem como ‘heróis’ tiras que matam sem prestar contas à Justiça e são coniventes com o tráfico de drogas e a corrupção

THE L WORD (Warner)

A ousadia: o lesbianismo é abordado sem meios-tons. Principalmente nas cenas de sexo, que são para lá de escancaradas

NIP/TUCK (FOX)

A ousadia: no drama sobre o mundo da cirurgia plástica, a moral sucumbe ao hedonismo e à libertinagem. O corpo humano é reduzido a uma dimensão patética: um amontoado de sangue, vísceras – e pelancas’



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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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