Procurado pela Interpol, pela Justiça da Suécia, alvo de centenas de ameaças de morte, o australiano Julian Assange está no olho do furacão. Ainda assim, demonstrou tranquilidade durante toda a entrevista concedida por chat ao El País na noite de sábado (4/12). Porém, ele continua a se esquivar de responder às perguntas relativas a seus problemas com a Justiça sueca (onde é acusado de crime sexual). Diz que tem sofrido terríveis dores de cabeça e reconhece que os últimos dias têm sido extremamente difíceis.
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Você e os demais integrantes da sua organização têm adotado medidas de segurança depois de receberem ameaças de morte. De onde elas vêm?
Julian Assange – Recebemos centenas de ameaças de morte específicas de soldados do Exército dos Estados Unidos. Para nós, isso não é novidade. Já nos acostumamos a ignorar ameaças de extremistas islâmicos, ditadores africanos etc. O que preocupa mais desta vez é que as ameaças foram estendidas a nossos advogados, aos meus filhos. Porém, o mais grave são as conclamações para que sejamos sequestrados e executados feitas por membros das elites americanas. Elas vão desde o pedido do senador John Ensign para que o Senado nos declare ‘ameaça transnacional’ até os pedidos para que sejamos assassinados feitos por Marc Thessian, o homem que escrevia os discursos de Bush.
Como os seus filhos têm sido ameaçados?
J.A. – Prefiro não dar ainda mais ideias falando deles. No entanto, alguns sites de extrema-direita fizeram um chamado para que eu seja atacado por meio do sofrimento dos meus filhos. Eu já temia que uma coisa assim aconteceria desde abril. Por isso, desde então, venho me mantendo afastado da minha família.
‘Há algo `estranho´ neste caso e isso é óbvio’
Quanta gente tem ajudado sua organização nesses dias?
J.A. – A organização permanece muito forte. Temos muito apoio, mas também recebemos muitos ataques. Estes vão de calúnias a questões legais. Há dezenas de pessoas ajudando, montando réplicas do site, mas esse é um processo trabalhoso. No entanto, se existe uma batalha entre o Exército americano e a preservação da História, temos que assegurar que a História vencerá.
Este é o maior vazamento de informações? É o mais relevante?
J.A. – Este é o maior. São 265 milhões de palavras. É o mais relevante também, cobre as questões mais importantes de cada país. É mais significativo do que os referentes ao Afeganistão.
Para você, quais serão as consequências deste vazamento?
J.A. – É cedo para saber. As ondas de choque ainda começam a se espalhar pelo mundo. Mas acredito que o WikiLeaks será um marco divisor da geopolítica. Olha, você só pode me fazer mais duas perguntas. Preciso sair.
Você disse à revista Time que Hillary Clinton deveria se demitir, se ficar comprovado que deu ordens a diplomatas americanos para espionarem as Nações Unidas. Mas se for isso mesmo, não deveria ser Barack Obama quem deveria renunciar?
J.A. – Toda a cadeia de comando de onde partiram essas ordens deveria se demitir, se os Estados Unidos querem ser vistos como uma nação com credibilidade, que cumpre as próprias leis. Obama deveria deixar claro se tinha conhecimento dessas ordens. Se tinha, deveria sair.
É verdade que a Scotland Yard tem conhecimento de sua localização e que você está disposto a conversar com as autoridades suecas?
J.A. – Há algo ‘estranho’ neste caso e isso é óbvio.
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Jornalista