O tema de Deborah Howell em sua coluna de domingo [20/11/05] não poderia ser outro. Bob Woodward ocupou a atenção da imprensa americana na última semana ao revelar seu envolvimento no polêmico (e longo) caso do vazamento da identidade secreta da agente da CIA Valerie Plame. Nada mais óbvio que a ombudsman do jornal onde ele trabalha há mais de três décadas abordasse o assunto.
Deborah critica o fato do jornalista ter escondido a informação do editor-executivo do Post, Leonard Downie Jr., por tanto tempo, critica o fato dele ter comentado e opinado sobre o caso Valerie Plame em programas de televisão, e critica, acima de tudo, a atual posição de prestígio que ele mantém no jornal.
Segundo a ombudsman, centenas de leitores escreveram se dizendo irritados e desapontados com a revelação. O mesmo sentimento pôde ser encontrado entre as pessoas que compartilham a redação com Woodward. A credibilidade do Post foi abalada, diz Deborah. O mais preocupante é que a questão, defende ela, não atinge apenas a credibilidade do jornal; atinge o jornalismo como um todo.
‘Desde que Woodward e Carl Bernstein deram o furo de Watergate há mais de 30 anos, eles se tornaram heróis para muitos. Woodward é parte do DNA da redação do Post. Ele é considerado um repórter implacável, agressivo e extremamente forte do establishment de Washington’, afirma ela, para destacar que nada disso justifica a liberdade de que ele goza no jornal.
Enquanto, oficialmente, tem o cargo de editor administrativo assistente, Woodward não possui tarefas administrativas. ‘Ele vem e vai quando quer, na maioria das vezes escrevendo seus best-sellers sobre os bastidores do poder, e responde apenas e diretamente ao editor-executivo Len Downie’, diz Deborah. Talvez seja esta liberdade que tenha levado Woodward a crer que não fazia nada de errado ao esconder até de seu próprio chefe que – assim como Judith Miller, presa por se recusar a revelar sua fonte, e os outros jornalistas obrigados a depor – tinha recebido informação sobre Valerie Plame antes dela ir parar na imprensa pelo colunista Robert Novak.
Woodward testemunhou no início da semana passada depois que sua fonte – que permanece sob sigilo – revelou ao promotor Patrick Fitzgerald com quem tinha conversado sobre Valerie Plame. Dois dias depois, o Post publicou uma declaração de Woodward, explicando o caso. Na redação, os ânimos esquentaram quando o jornalista se negou até a responder a questões de repórteres de seu próprio jornal. Na caixa de e-mails da ombudsman, surgiram centenas de mensagens com centenas de críticas e desafios. ‘Este é um teste para vermos se a lealdade do jornal por Bob supera sua lealdade aos leitores’ dizia uma delas. Até os que se diziam admiradores de Woodward afirmaram que ele deveria ter ‘feito a coisa certa’.
Muitos leitores acham que o jornalista deve ser demitido ou disciplinado. ‘Isso é ridículo’, afirma Downie Jr. ‘Nosso leitores ganham muito com a profundidade de seu trabalho. Seu trabalho e confiabilidade superam um erro’. O editor-executivo é categórico, mas concorda que Woodward deveria ter lhe contado o que sabia e não deveria falar publicamente sobre a investigação. ‘Ele é realmente famoso, e não pode deixar de sê-lo. Mas ele não é maior que o jornal. Por vontade própria ele se desculpou e reconheceu seus erros’, concluiu.
Ainda com pedido de desculpas, Deborah acredita que, depois da revelação da semana passada, é preciso que haja alguma mudança de comportamento no Post. ‘Woodward deve ter um editor; todo repórter precisa de um’, diz ela. ‘Um editor precisa saber no que ele está trabalhando e com quem ele fala. O Post precisa supervisionar mais. Woodward precisa da base que um bom editor dá’.
Para resumir sua opinião, Deborah afirma que ‘é preciso haver regras claras, para os leitores e para a redação, sobre o trabalho de Woodward no Post. Ele deve operar sob as regras que governam o resto da equipe – mesmo sendo ele rico e famoso’.