Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Woodward também sabia

Mais uma reviravolta no caso Valerie Plame. Após dois anos de investigações para descobrir quem vazou para a imprensa a identidade secreta da agente da CIA e mulher do ex-diplomata Joseph Wilson, o promotor Patrick Fitzgerald descobriu mais um jornalista americano envolvido no caso.


Bob Woodward – sim, o mesmo do caso Watergate – testemunhou na segunda-feira (14/11). Segundo matéria publicada no Washington Post [por Jim VandeHei e Carol D. Leonnig, 16/11/05], jornal que lhe paga o salário, Woodward teria afirmado durante o depoimento de duas horas que soube a identidade secreta de Valerie Plame por um funcionário do governo um mês antes da informação aparecer em artigo do colunista Robert Novak, em 2003. O jornalista declarou ter dito a Fitzgerald que o funcionário falou casualmente em uma conversa em junho daquele ano que a ‘mulher de Wilson’ trabalhava como analista de armas de destruição em massa na CIA.


Fonte confidencial


Woodward e representantes do Post alegaram não poder revelar a fonte do jornalista por causa de um acordo de confidencialidade com ela – segundo o qual ele estaria livre para testemunhar, mas não poderia divulgar informações em público sobre suas conversas.


Fitzgerald foi informado do envolvimento de Woodward no caso pelo próprio funcionário do governo – que contou a ele uma semana após o indiciamento de Lewis Libby, ex-chefe de gabinete de Dick Cheney, por mentira e obstrução à justiça.


Woodward contou ter entrevistado Libby no fim de junho de 2003, quando preparava um livro sobre a ida de Bush à guerra. Em suas anotações, há uma lista de itens a serem perguntados a Libby, entre eles ‘mulher de Joe Wilson’, mas o jornalista não se lembra de ter mencionado o assunto durante a conversa.


Relatório questionado


O testemunho de Woodward parece ter mudado alguns pontos da cronologia estabelecida por Fitzgerald em seu relatório. Pelas datas, o funcionário em questão – e não o ex-chefe de gabinete – seria o primeiro funcionário governamental a revelar o trabalho de Valerie Plame a um repórter. Isso também faz com que Woodward tenha sido o primeiro jornalista a saber a identidade secreta dela por um membro do governo.


As declarações de Woodward, entretanto, não ajudam a estabelecer a culpa de Libby no caso ou explicam algo sobre o papel do estrategista político Karl Rove na história. Rove, que é amigo do presidente, continua sob investigação.


Porta-voz de Rove afirmou que ele não é a fonte de Woodward. Um dos advogados de Libby declarou que o testemunho do jornalista do Post mina as acusações públicas de Fitzgerald a seu cliente e levanta questões sobre o que mais o promotor ainda não sabe sobre o caso que investiga há tanto tempo.


Mistérios


Não foi explicado o que teria levado a fonte secreta de Woodward a contar ao promotor, apenas agora, sobre a conversa que teve com o jornalista em 2003. Também não se sabe por que a única pessoa para quem Woodward afirma ter contado sobre a identidade de Valerie diz que não se lembra. O jornalista afirmou, em seu testemunho, que teria conversado com o repórter do Post Walter Pincus sobre o assunto, sem revelar sua fonte.


Pincus, que na época escrevia uma matéria sobre Joseph Wilson, disse em entrevista não lembrar da tal conversa. ‘Está brincando? Eu com certeza lembraria disso’, afirmou, completando que Woodward pode ter se confundido. E a história continua.