Dizem que “uma imagem vale mais que mil palavras”. Injustiça com literatos e cronistas, mas é o que dizem. De imediato, discordo e mantenho minha posição: uma grande foto, além da qualidade do fotógrafo, necessita, sim, de um texto que a acompanhe. E de um pouco de sorte – a sorte do momento nevrálgico. O texto, produto cujo prazo é mais dilatado para confecção, depende de vários fatores. O principal deles? A qualidade das informações prestadas.
Tanto no texto quanto na foto, é preciso estar ali, sentir a imensidão do local e disparar o gatilho da criação quando algo inusitado acontece. Desse modo, grandes imagens percorrem o mundo, ganham prêmios e entram para a história. Textos também, em diferentes formatos, contribuem de forma detalhada aos receptores. As duas plataformas, hoje, contam com um cartel completo de recursos para sua formulação e propagação.
Equipamentos, lentes, formatação de luzes… tantas formas diferentes de registrar a realidade. As futuras gerações terão uma visão mapeada de como a vida se desenrolou em nossa era. Destaquem-se: casos de beligerância, guerra, intolerância religiosa. E muitas histórias de superação num mundo desigual. Não existe critério definido para o torvelinho imagético. É preciso estar atento a todo fato relevante que nos rodeia.
Os textos já foram mais bem apreciados em épocas nas quais os jornais representavam a melhor forma de comunicação – um “espelho do mundo”. As pessoas se reuniam para folhear as páginas do impresso, recitavam em voz alta, discutiam e debatiam notícias sugeridas pelos veículos. Hoje, grandes textos assumiram a formatação de vídeo, programas radiofônicos, esquetes teatrais, enfim, não ficaram enclausurados no papel, algo que dificulta a sobrevivência dos veículos de comunicação analógicos.
O objetivo é um receptor indefinido
O texto pode ser informativo, divertido, interpretativo. Varia conforme a intenção do escritor. Jornalistas expressam, em palavras, o resultado de suas investigações. Nesse contexto, os jornais tentam permanecer relevantes em tempos digitais. Falar apenas de trivialidades constituiria uma afronta à função social do jornalismo. A foto não se permite o pragmatismo da construção em parágrafos. Foto é interpretação. Olhar e olhar de novo, tal qual assentiram os grandes pintores do passado.
Texto e imagem caminham de mãos dadas e devem manter equilíbrio constante. A falta de um ou de outro afrontaria os propósitos de bem comunicar. Marido e mulher de religiões diferentes, mas não opostas. Parceiros da informação. Nos moldes atuais, as mídias se fundem, e do relacionamento de texto e imagem, novas tecnologias ambicionam espaço na praça. Faz parte do jogo.
Destarte, comunicar é usar todos os recursos possíveis para desenvolver um produto de qualidade. Escritos, fotos, seja qual for o canal, você usa esses instrumentos com o objetivo de propagar um pouco de si, um pedacinho da sua visão de mundo, mesmo que o fato não lhe toque diretamente. A bem da verdade, tanto faz o pragmatismo do texto ou o grau interpretativo da imagem. O objetivo é o mesmo: em conjunto, atingir um indefinido receptor.
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Gabriel Bocorny Guidotti é jornalista e escritor