Quanto riso, quanta alegria no partido de reguladores da mídia: exultam ao citar como exemplo as medidas que a Inglaterra tomou para domar seus tabloides amalucados. E, com o cinismo que os caracteriza, querem usar isso como exemplo de que países democráticos, sim, regulam a mídia e que quem resiste a medidas semelhantes no Brasil é um renitente reacionário.
Esquecem de algumas pequenas diferenças: na Inglaterra, os tabloides (notadamente os de Rupert Murdoch, como o News of The World, que acabou sendo fechado ) usaram métodos criminosos para adulterar ou forjar informações. O que provocou as reações da sociedade e as medidas anunciadas não foram informações desabonadoras ao governo, mas o uso de práticas criminosas.
Noticiar o mensalão, denunciar casos de corrupção e criticar medidas do governo não têm nada a ver com uso de chantagem, espionagem através de grampos ilegais ou extorsão que os tabloides, e mais especificamente o News of the World, foram acusados de praticar.
Onde está a diferença
Delitos são delitos e não consta que a imprensa brasileira esteja sendo acusada de praticar ações criminosas que motivem medidas voluntárias de “regulação” como as que estão sendo adotadas na Grã-Bretanha.
O órgão regulador criado na Grã-Bretanha é independente, de adesão voluntária, prevê a criação de um código de normas, pedidos de desculpas por eventuais erros publicados e direito de resposta às pessoas que eventualmente sejam envolvidas de forma equivocada no noticiário. Uma solução britanicamente civilizada que não tem nada a ver com vingança rancorosa por diferenças políticas.
Agora leia e compare as medidas britânicas com esse item da proposta encaminhada pela CUT e pela FNDC (Fórum Nacional de Democratização da Comunicação) e endossada pelo diretório nacional do PT:
“O FNDC reivindica que este Marco Regulatório leve efetivamente à regulação da mídia, e contenha, também, mecanismos de controle, pela sociedade, do seu conteúdo e da extrapolação de audiência que facilita a existência dos oligopólios da comunicação que desrespeitam a pluralidade e diversidade cultural.”
Há alguma dúvida a respeito do que possa significar o pedido de “mecanismos de controle, pela sociedade, do seu conteúdo (…)? É isso mesmo que está escrito: mecanismos de controle de conteúdo. Por quem? Por que motivo? Que espécie de controle? Quem decide ou define o que é a sociedade, o que é e como ela pretende controlar conteúdos? E quais são os conteúdos bons e os maus para ela?
É aí que mora a diferença entre o caso britânico e o caso brasileiro, que os petistas, com ar de inocência, preferem fingir que ignoram.
Como se nós – e Paulo Bernardo, o ministro deles, que sabe muito bem quais são as intenções – fossemos idiotas.
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Sandro Vaia é jornalista, autor do livro A Ilha Roubada (Editora Barcarolla), sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez