As teles podem ficar com espaço menor para implantar banda larga de alta velocidade em, ao menos, três grandes cidades do país. O ministro Paulo Bernardo (Comunicações) admitiu à Folha que o governo enfrenta dificuldades para fazer a digitalização dos canais de TV em Campinas, em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. É por meio da retirada dos canais analógicos da faixa de 700 MHz, que ocupam atualmente, que as empresas de telefonia poderão expandir o serviço de internet 4G – dez vezes mais rápido que o 3G.
Nessas três cidades, entretanto, questões técnicas e o grande número de canais fazem com que o espaço destinado à reacomodação das TVs seja insuficiente. Uma saída em estudo seria usar parte da faixa que receberá a web para acomodar esses canais. Isso, no entanto, limitaria a implantação da internet de alta velocidade. Segundo Bernardo, outra possibilidade é alterar o modelo de digitalização, acabando com o pareamento de algumas emissoras.
Pareamento
Pelo acordo original com os radiodifusores, o governo teria de manter no ar um canal analógico e um digital para cada TV até o desligamento definitivo dos analógicos. Mas, se a saída para acomodar o grande número de canais for acabar com esse pareamento, alguns serão convertidos para a tecnologia digital apenas na data-limite. “Estamos com muita dificuldade de fazer a atribuição de dois canais em algumas capitais. Então é possível, se houver a concordância da presidente, que quem quiser fazer a digitalização pule direto”, explicou o ministro.
Essa saída, por exemplo, será usada em São Paulo, onde também havia problemas para encaixar as emissoras. Os principais responsáveis por fazer o plano dar certo são os canais pequenos. Eles veem vantagem em não manter dois canais, com a mesma programação, no ar. Ter um só representa economia. Com a aplicação da medida, o governo acredita que o problema da capital paulista esteja superado.
Como a estratégia ainda não se provou suficiente para solucionar o problema das outras cidades, a saída, muito provavelmente, pode vir por meio da redução da faixa que receberá a internet 4G. Em outras palavras, as empresas de telefonia terão de disputar mais, entre elas, para conseguir vitória no leilão, que pode ter menos blocos disponíveis.
Arco e flecha na mão
Além disso, fica em parte reduzida a quantidade de clientes que poderiam ser atendidos com entrada da nova frequência.
“Se em um lugar for impossível colocar todas as emissoras existentes, vamos cortar um pedaço da faixa de 700 MHz para manter os canais no ar”, disse. “O importante é que não vamos tirar nenhum do ar. Achamos que não vai ser preciso, mas é uma opção.”
As soluções discutidas pelo governo ainda não foram suficientes para acalmar as TVs e as teles, que ainda brigam para não serem prejudicadas. “Nesse conflito está todo mundo como índio: com arco, flecha e tacape na mão”, disse Bernardo.
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Júlia Borba, da Folha de S.Paulo