Claro, o não voo de Edward Snowden para Cuba, seu paradeiro na Rússia e pedido de asilo no Equador estão atraindo a maior atenção da mídia esta semana. Mas, em meio a todo o alvoroço, o noticiário de segunda-feira nos trouxe também esse pequeno mas intrigante detalhe da matéria do New York Times sobre como Snowden planejou sua saída de Hong Kong em torno de um conspirativo jantar com pizzas.
“O sr. Snowden”, observou o jornal, “usava boné e óculos escuros e insistiu para que os advogados reunidos escondessem seus celulares na geladeira da casa onde estava, para bloquear qualquer escuta indevida.” O velho truque do celular na geladeira é apenas uma das medidas típicas da profissão que sabemos que Snowden tentou desde que fugiu.
Ele forrou a porta de seu quarto de hotel com travesseiros, por exemplo, e usou um capuz enquanto digitava senhas de computador. Mas qual é mesmo a utilidade de colocar celulares na geladeira? Usar um capuz enquanto se usa um laptop impede alguém de observar o que se está fazendo? Em outras palavras: será que Edward Snowden sabe o está fazendo no que se refere a operações secretas? Contatamos nosso colaborador da Foreign Policy, David Gomez, um ex-agente especial e administrador do programa de contraterrorismo do FBI, para dar a sua opinião. Quando Snowden agiu com proficiência e quando pareceu que ele simplesmente assistiu a filmes de espionagem demais?
Celulares na geladeira
Embora seja verdade que os celulares podem ser facilmente invadidos e transformados em dispositivos de gravação, Gomez diz que é improvável até que alguém com o histórico de Snowden use um celular. Se alguém quisesse fazer uma escuta ilegal, explica Gomez, ele mais provavelmente teria usado um grampo escondido no corpo. Ou, se agentes de um governo estivessem tentando ouvir de fora do quarto, eles poderiam ter utilizado um microfone de longo alcance, entre outras técnicas.
Conclusão: um celular refrigerado provavelmente não impediria de verdade alguém que quisesse muito ouvir – embora deva ter prolongado a duração da bateria do telefone.
Forrar a porta do hotel com travesseiros? Embora não seja particularmente eficaz para impedir alguém tentando espionar Snowden, os travesseiros poderiam ter abafado os sons de qualquer conversa em seu quarto de hotel de Hong Kong, o suficiente para que uma pessoa insuspeita que estivesse passando não ouvisse nada de alarmante, diz Gomez.
Usar um capuz enquanto se digita senhas de computador para evitar câmeras ocultas? O perigo de digitar senhas de computador dificilmente virá de uma câmera oculta plantada no hotel, diz Gomez, mas de softwares que registram os toques do teclado, contra os quais um capuz oferece pouca proteção.
Sinalizar sua identidade a repórteres carregando um Cubo de Rubik por um hotel? Embora espiões às vezes empreguem sinais para se identificar entre eles, a ideia de fazê-lo é não atrair atenção para si, explica Gomez.
Assim, ao arranjar uma reunião como Snowden fez com um grupo de jornalistas em Hong Kong, é tanto infeliz como desnecessário carregar algo tão fora de lugar como um Cubo de Rubik. Teria sido melhor, acrescenta Gomez, Snowden ter simplesmente descrito, por exemplo, suas roupas detalhadamente.
Em geral, diz Gomez, as empreitadas de Snowden no ofício parecem trabalho de amador – “aquela coisa de estarei ali, usando um chapéu de feltro cinza, fumando tal marca de cigarro”. “Nunca achei que ele realmente compreendesse o que é uma atividade secreta”, observou.
Mas Snowden passou tempo suficiente na comunidade de inteligência para saber uma coisa ou duas sobre o braço da lei americana – além do que, é um homem muito procurado. Isso é o bastante para inspirar uma paranoia considerável – do tipo que pode fazer a pessoa mais pé no chão esconder um celular na geladeira. /
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Alicia P. Q. Wittmeyer é jornalista do Foreign Policy