Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Sem debate sobre espionagem, Snowden vira vilão nas TVs

As denúncias de invasão de privacidade foram colocadas de lado na cobertura da TV e de boa parte da imprensa americana. O foco agora é a caça ao delator Edward Snowden, chamado em várias reportagens de “espião” e “traidor dos EUA”.

Até o jornalista que lidou com Snowden virou vilão.

No dominical “Meet the press” (23/6), o apresentador David Gregory questionou o jornalista Glenn Greenwald sobre as denúncias escritas por ele no “ Guardian”. “Se você ajudou e foi cúmplice de Snowden, não deveria também responder criminalmente?”

Greenwald defendeu o jornalismo investigativo. Depois, no Twitter, escreveu: “Quem precisa do governo para tentar criminalizar o jornalismo quando se tem David Gregory para fazê-lo?”

A polêmica levou Jeff Jarvis, professor de Jornalismo da Universidade da Cidade de Nova York, a lançar: “Gregory, você está ajudando e sendo cúmplice do governo?”.

O colunista do “New York Times” Andrew Ross Sorkin disse na TV que “quase prenderia” Greenwald junto com Snowden. “Ele deve estar ajudando na fuga.”

Greenwald retrucou, citando crítica feita nos EUA a Snowden de que ele estaria pedindo asilo a países repressivos, como Rússia e Cuba. “Que horrível que Snowden viaje a países sem liberdade. Mas jornalistas americanos devem ser presos?”

Ontem [segunda, 24/6], a CNN usou como manchete “Snowden provoca tensão diplomática”.

No mês passado, o governo justificou grampos a jornalistas da Associated Press e da Fox News por “segurança nacional”. Parte da imprensa americana parece aprovar a espionagem governamental em detrimento da investigação jornalística.

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Raul Juste Lores é correspondente da Folha de S.Paulo em Washington