Saturday, 21 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Governo beneficia sites ‘progressistas’ com verbas

Pela primeira vez, o governo federal divulgou a lista dos 20 sites que mais receberam verbas publicitárias na internet brasileira em 2012. Os dados, publicados pelo blog Vi o Mundo, revelam que a audiência é o principal, mas está longe de ser o único critério para a distribuição de recursos.

A ministra Helena Chagas, responsável pela Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência), afirmou que seguiu o critério da audiência para a alocação do dinheiro para publicidade das ações governamentais. A reportagem do UOL cruzou o total de recursos distribuído pelo governo com a audiência medida pelo Ibope durante o ano passado. O resultado está na tabela abaixo, que desmente esse argumento.

Comparação entre verba do governo e audiência na internet

PORTAL/SITE VERBA PUBLICITÁRIA (2012) MÉDIA MENSAL DE AUDIÊNCIA (em page views)
Terra R$ 9.819.564,55 1.979.352.000
UOL R$ 9.734.216,46 4.612.599.000
MSN R$ 9.078.014,97 5.796.725.000
Globo.com R$ 7.752.803,12 3.027.912.000
IG R$ 5.738.331,76 1.872.384.000
Yahoo R$ 4.933.706,33 3.256.665.000
R7 R$ 4.042.953,59 819.949.000
Facebook R$ 3.394.960,95 39.601.056.000
Viajeaqui Online R$ 1.770.665,58 3.778.000
Estadão.com R$ 1.498.298,19 85.835.000
Casa.com R$ 1.375.235,67 15.586.000
EBand R$ 1.316.163,91 43.486.000
Google R$ 968.150,81 12.844.913.000
Carta Maior R$ 830.132,92 808.000
Hotwords R$ 829.275,55 1.292.000
Folha Online R$ 780.359,55 127.211.000
Conversa Afiada R$ 628.806,14 4.038.000
Abril.com R$ 586.041,77 251.798.000
Bolsa de Mulher R$ 580.377,38 11.405.000
Ópera Mundi R$ 573.875,62 514.000

Fonte: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República e Ibope

 

Um exemplo extremo é o Facebook, líder disparado de audiência no Brasil, mas que está no oitavo lugar neste ranking da verba do governo, atrás do R7, mesmo tendo 48 vezes mais páginas visitadas que o portal ligado à TV Record.

Por outro lado, o portal Terra lidera a lista da verba estatal, mesmo estando em sétimo no ranking feito com dados de audiência divulgada pelo Ibope.

“Nosso interesse na audiência é levar a nossa mensagem a um número máximo de pessoas. Até hoje não surgiu um critério mais eficiente em relação a esse objetivo principal, que é dar acesso a todos os brasileiros a esta mensagem, do que o critério da mídia técnica”, afirmou Chagas em entrevista ao “Vi o Mundo”.

Em sua argumentação, a ministra só abriu uma exceção, quando diz que o critério regionalização é mais importante que a audiência. Um caso claro é o gasto com carros de som ou em rádios pequenas para divulgar campanhas de saúde em cidades distantes do Norte e Nordeste.

Mas um critério político parece também desequilibrar a balança com o dinheiro estatal. Páginas com viés ideológico de esquerda, como Carta Maior, Conversa Afiada e Ópera Mundi (este, parceiro de conteúdo do UOL), foram agraciadas com um dinheiro público que não corresponde a quantidade de pessoas que passam por seu conteúdo.

A Carta Maior, por exemplo, recebeu mais verba publicitária que a Folha, que tem 157 vezes mais páginas visitadas por mês. Já blog Conversa Afiada, que faz parte da autodenominada “blogosfera progressista”, ganhou mais em propaganda estatal que o portal da Abril, que tem 62 vezes mais audiência que a página comandada pelo jornalista Paulo Henrique Amorim.

A reportagem do UOLquestionou a Secom sobre o assunto e recebeu a seguinte resposta:

“A audiência é, sim, o principal critério norteador da programação publicitária para qualquer veículo de comunicação, incluindo sites e blogs, por parte do governo federal, administração direta, indireta e estatais. A relação dos veículos do meio internet com os maiores valores planejados para as ações publicitárias em 2012 segue este critério. Porém, esta lista pode também ser influenciada pelas especificidades e necessidades de comunicação de cada órgão do governo federal e do volume de recurso de cada órgão destinado às ações de publicidade do meio internet, o que interfere no ranking final. Não se espera de uma campanha destinada a estimular o aleitamento materno, por exemplo, o mesmo perfil de veiculação de uma campanha de estatal destinada a promover um tipo de óleo lubrificante.

Cabe esclarecer que a Secom, desde 2008, torna disponíveis em seu site todos os dados globais do planejamento dos investimentos de mídia publicitária (Fonte IAP) do governo federal, por meio e por órgão da administração direta. A partir da implantação da Lei do Acesso à Informação esse processo de divulgação vem sendo aprofundado e detalhado. Devido à grande quantidade de veículos e à necessidade de checagem e consolidação de dados, esse trabalho de divulgação vem sendo feito gradativamente.”

Leia também

Governo desconcentra verbas publicitárias, diz ministra– Conceição Lemes