Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornalismo público, como assim?

As discussões em torno da existência de um sistema de comunicação essencialmente democrático e genuinamente cidadão tem evidenciado o uso repetitivos de termos como “jornalismo público”, “jornalismo cívico” e “jornalismo cidadão”. Mesmo já tendo empregado particularmente, por várias vezes, tais termos no exercício do ofício do magistério, confesso que, no âmago, sempre me senti intrigado com essa dicotomia, no mínimo, intrigante. Há tempos tento compreender essa pluralidade neologística que separa do ofício jornalístico esse que é o seu atributo mais essencial, o caráter de interesse público.

Para além da questão de complexidade conceitual, cujas raízes históricas se encontram arraigadas num movimento desenvolvido nos EUA nos anos 90 como tentativa de resgatar a credibilidade dos jornais americano perante os cidadãos, o uso repetitivo de tais termos evidencia o agravamento de uma crise que se propaga no jornalismo, colocando em xeque-mate, cada vez mais, a práxis das organizações e profissionais que representam esse valioso campo de intervenção social.

Assim, à medida que termos como “jornalismo cidadão”, “jornalismo público” e outros similares se legitimam, se fortalece também de forma paralela a reprovação do que se denomina simplesmente de jornalismo, cujo sentido original parece se diluir em meio à descrença de um público consumidor cada vez mais crítico e exigente. Trata-se aqui de um fenômeno que tem nas transformações por que passa a sociedade civil na contemporaneidade e, em especial, dos serviços de comunicação a que essa tem tido acesso, o cerne da questão.

Ocaráter público da comunicação

Nesse contexto, a discussão em torno de tais subcategorias jornalísticas vem migrando para uma outra questão de dimensões ainda maiores, da qual, o jornalismo na condição de instituição social é uma das partes integrantes. Trata-se da discussão sobre a regulação do sistema de comunicação pública, algo que só recentemente vem ganhando corpo no Brasil e avançando, embora ainda muito lentamente.

Por “comunicação pública”, é bom destacar, entende-se comunicação enquanto um bem público e indispensável à democracia. Algo que, como se pode enxergar, está para além dos interesses meramente mercadológicos de que se vale, por exemplo, a indústria jornalística e seus múltiplos modelos de enquadramento comercial da informação. Um sistema processual em que a comunicação possa efetivamente ser concebida como um processo básico da vida em sociedade e essencial ao desenvolvimento humano em qualquer parte.

Este, sim, se configura, como se pode perceber, o legítimo espaço de reflexão e discussão em torno do caráter público da comunicação, indo para além da questão meramente conceitual e restrintiva. Algo que, vale ressaltar, está acima do jornalismo e suas dicotomias conceituais apresentadas como esforços de resgate àquilo que ficou restrito à sua filosofia, deontologia e manuais de redação.

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Rosildo R. Brito é professor e jornalista, Campina Grande, PB