Em meio à disputa judicial pela aplicação da Lei de Meios, o governo da presidente argentina Cristina Kirchner voltou à carga com a denúncia da suposta venda ilegal da empresa Papel Prensa, principal fornecedora de papel de jornal do país, administrada pelo Clarín (49%), La Nación (22,6%) e o governo (28%). O encarregado de reiterar as acusações da Casa Rosada contra os dois principais diários da Argentina foi o ministro da Defesa, Agustin Rossi, que revelou a descoberta de documentos até agora secretos da última ditadura argentina (1976-1983), entre eles registros de reuniões das altas autoridades militares da época que mencionam a operação de venda da Papel Prensa como “uma questão de grande importância”. “A quantidade de documentos relacionados à Papel Prensa demonstram que era uma questão de grande importância para a ditadura naquele momento e a forma em que tratam esta questão demonstra que a detenção da família Graiver (antigos donos da companhia) está diretamente relacionada (à venda da empresa para Clarín, La Nación e La Razón, jornal que depois vendeu sua parte)”, declarou o ministro.
A Papel Prensa foi vendida pela família Graiver em 1977. Em 2010, o governo Kirchner apresentou uma investigação sobre a operação e assegurou que os três jornais envolvidos eram cúmplices dos militares na perseguição a membros da família Graiver (vários foram sequestrados). No entanto, a versão oficial da História foi negada por Isidoro Graiver, irmão de David Graiver, que era o dono da companhia. De qualquer forma, o governo abriu um processo nos tribunais de La Plata, capital da província de Buenos Aires, e desde então espera que a Justiça condene os donos do Clarín e La Nación por violação dos direitos humanos.
Rossi disse que os novos documentos encontrados no portão de um edifício da Força Aérea serão entregues à Justiça. Paralelamente, a disputa pela aplicação da Lei de Meios parece longe de terminar. Ontem, a Corte Suprema rechaçou um pedido de deputados da oposição que semana passada solicitaram a suspensão da medida, “já que eles não são parte do expediente”.
A Autoridade Federal de Serviços Audiovisuais (AFSCA) continua avaliando o plano voluntário de adequação apresentado na última segunda-feira pelo grupo Clarín e, segundo o diretor de Gestão, Administração e Desenvolvimento do organismo, Daniel Larrache, a proposta de criar seis unidades de negócios diferentes “estaria dentro do que permite a Lei de Meios”. “Estamos analisando”, disse Larrache.
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Janaína Figueiredo é correspondente do Globo em Buenos Aires