O ex-analista de sistemas da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês) e ex-funcionário da CIA Edward Snowden recebeu mais de 70 perguntas elaboradas por blogueiros brasileiros. A afirmação é do jornalista Glenn Greenwald, responsável pela primeira reportagem publicada no jornal britânico The Guardian sobre programas de espionagem dos EUA. As questões foram enviadas por ciberativistas, desconfiados de suposta “parcialidade” na divulgação dos dados que dizem respeito aos órgãos espionados.
A ideia da entrevista partiu de uma conversa pelo Twitter entre um ativista e Glenn Greenwald, no dia 23 de dezembro de 2013. A formulação do questionário então foi aberta a blogueiros, hacktivistas e jornalistas de mídias alternativas. Primeiramente foi proposto que as questões fossem respondidas por meio de videoconferência, mas essa possibilidade foi descartada para evitar que uma possível interceptação pudesse levar à localização exata de Snowden. Por isso, as perguntas foram selecionadas, traduzidas e enviadas para o e-mail de Greenwald, que as repassou ao advogado do ex-analista.
Ao Jornal do Comércio, o jornalista confirmou que as perguntas já foram recebidas por Snowden e seu advogado, Ben Wizner. “Eles têm as perguntas e estão trabalhando nisso”, afirma. Questionado sobre quando serão enviadas as respostas, Greenwald diz que não há previsão. “Há um grande número de perguntas enviadas, por isso leva tempo.”
Futuras revelações
Baiano residente em Porto Alegre, o filósofo e ciberativista Adriano Ribeiro foi o encarregado de organizar o movimento para recolher as perguntas na internet. Segundo ele, muitos ativistas desconfiam de uma suposta parcialidade nas reportagens feitas pela Rede Globo, que divulgou as primeiras revelações sobre a espionagem feita pela NSA à presidente Dilma Rousseff e seus principais assessores e à Petrobras. Ribeiro diz que houve garantia do próprio Greenwald de que as revelações sobre a espionagem no Brasil foram tratadas de maneira isenta pela emissora. Porém, crê que possa ser feito um trabalho jornalístico com mais imparcialidade. “Acreditamos que a mídia livre e independente é mais indicada do que a corporativa para divulgação de informações tão delicadas, como as obtidas por Snowden”, salienta.
Outro desejo dos ciberativistas é entender quem realmente é o homem que está por trás das revelações. “É importante saber se Snowden está divulgando as informações da NSA porque é um ativista ou se está sendo usado para prejudicar outros países. A agência espionou para combater o terrorismo ou para fins comerciais?”, indaga Ribeiro.
Entre as cerca de 70 perguntas enviadas, estão dúvidas com respeito ao conteúdo de outras supostas futuras revelações e a quantidade de dados que o ex-analista possui. Uma vez respondidas, as questões deverão ser publicadas na blogosfera por ciberativistas, como Ribeiro, e jornalistas como Luis Nassif e Zeca Peixoto. Não se sabe, no entanto, se todo o material terá resposta. “Eu não sei se ele (Snowden) pode responder a todas as perguntas”, afirmou Greenwald. As revelações divulgadas por Snowden provocaram um dos maiores escândalos de espionagem dos últimos tempos. Indiciado pelo governo dos EUA, ele chegou a pedir asilo a mais de 20 países, incluindo o Brasil, mas acabou recebendo abrigo temporário na Rússia.
******
Leonardo Pujol é estudante, Porto Alegre, RS