Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A fritura de Helena Chagas

O comissariado fritou a ministra Helena Chagas. Pela primeira vez em quase um século, desde que o jornalista Lourival Fontes foi cuidar da imagem de Getúlio Vargas, o funcionário encarregado da comunicação do Palácio do Planalto caiu por causa de dinheiro, acusado de não atender aos objetivos políticos do governo. A jornalista, com 32 anos de carreira, teve no seu ofício um desempenho muito superior à média do comissariado petista. Não a fritaram porque divulgou o que não devia, ou deixou de divulgar o que devia. Muito menos porque suas opiniões políticas divergiam do governo. Na raiz do mal-estar estavam apenas verbas, o dinheiro da Viúva.

Seja qual for o governo, sempre haverá alguém reclamando porque não recebe dele verbas publicitárias proporcionais à fidelidade com que o defende. O patrono dessa espécie deveria ser o jornalista Alexandre von Baumgarten. Amigo de generais da ditadura, queria reerguer uma revista falida e buscava no Planalto perdões de dívidas e verbas publicitárias. Acabou-se em 1982, com uma bala na cabeça, e deixou um dossiê acusando o Serviço Nacional de Informações pela sua morte.

Em 2012 a máquina de propaganda do palácio moveu R$ 1,9 bilhão. Esse é o dinheiro que Brasília promete repassar ao governo do Estado Rio para enfrentar desastres naturais. Noutra conta, R$ 1,2 bilhão é o total dos financiamentos brasileiros para obras e serviços em Cuba. Vale lembrar que esse tipo de munificência não foi inventado pelo PT, nem é exclusivo do governo federal. Ele apenas inflou-o, pois em 2000 o tucanato torrou R$ 1,2 bilhão.

Balcão aberto

Em 2012 o Planalto gastou mais em publicidade que a Ambev (R$ 1,6 bilhão), que vive de vender cervejas e refrigerantes. Com R$ 1,7 bilhão, a Caixa Econômica (cujas despesas não estão na caixa do Planalto) gastou mais que o Bradesco e o Itaú, somados.

A conta de R$ 1,9 bilhão expande-se para uma cifra difícil de ser calculada. Nela entram outras campanhas promocionais, como as de ministérios, empresas estatais e contratos com agências de relações-públicas que se superpõem às burocracias do Estado. Num cálculo grosseiro, esse aparelho federal pode custar até R$ 4 bilhões por ano.

Quando um governo desenvolve a mentalidade do sítio, julgando-se injustiçado pelos meios de comunicação, a arca torna-se um saco sem fundo, capturada por um círculo vicioso: se estão contra nós, precisamos ajudar quem nos defende e, se alguém nos defende, nada mais natural que ajudá-lo. Num outro estágio, o hierarca federal, estadual ou municipal, seja qual for seu partido, confunde deliberadamente a divulgação de políticas públicas com a exaltação de suas próprias atividades (leia-se candidaturas). Como fica feio fazer isso com o aparelho do Estado, privatizam a ambição política e estatizam seu custo. Em 2013 o Ministério da Saúde gastou R$ 232 milhões e Alexandre Padilha disputará o governo de São Paulo.

Pedir que os governos parem de gastar dinheiro com publicidade num ano eleitoral é um exercício fútil. Precisamente porque este é um ano eleitoral, o balcão está aberto para candidatos capazes de se comprometer a reduzir drasticamente esse tipo de despesa. Basta contar ao público quanto seus antecessores torraram e dizer quanto e como pretendem gastar.

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Elio Gaspari é jornalista