Entidades patronais e sindicatos que representam empresas e trabalhadores dos meios de comunicação impressos da Venezuela organizaram na terça-feira (11/2), em Caracas uma manifestação reivindicando do governo de Nicolás Maduro permissão para obter dólares para a importação de papel-jornal. De acordo com a imprensa local, a polícia tentou – sem sucesso – impedir o protesto.
Cerca de 600 profissionais dos veículos impressos venezuelanos marcharam da Praça Venezuela, no centro da capital, até a sede do Centro Nacional de Comercio Exterior (Cencomex), que designa as divisas destinadas às importações no país – no qual o câmbio é controlado pelo governo desde 2003.
Dirigentes políticos de oposição e representantes de ONGs que defendem a liberdade de expressão também participaram da manifestação. O jornal El Universal afirmou, sem entrar em detalhes, que “um contingente da Polícia Nacional Venezuelana tentou impedir o início da manifestação”. “Do ato de protesto participaram jornalistas e trabalhadores de diferentes meios de comunicação”, publicou o diário em seu site.
Anteriormente, o destino da marcha era as instalações da Comissão de Administração de Divisas (Cadivi), organismo que tem a função de controlar o câmbio oficial venezuelano e administrar a entrada e a saída de dólares do país, assim como o acesso dos venezuelanos à moeda americana.
“Sem papel não há emprego! Liberdade de expressão!”, gritavam os manifestantes, que conseguiram chegar ao local pretendido, apesar do destacamento policial que, segundo a agência France Presse, “os obrigou a modificar sua rota”.
Sob o forte sol caraquenho, as frases nos cartazes dos manifestantes exigiam divisas – distribuídas pelo governo após um burocrático trâmite – para importar o insumo que alimenta pelo menos 136 rotativas. “A imprensa agoniza na Venezuela” e “Liberdade de expressão em xeque”, afirmavam algumas faixas dos manifestantes.
Um cartaz levado por um funcionário do jornal El Nacional, de linha editorial crítica ao governo de Maduro, afirmava que “700 empregos estão em jogo” na empresa, que foi obrigada a reduzir o número de páginas nas últimas semanas.
De acordo com informações do Universal, Marcos Ruiz, secretário do Sindicato Nacional de Trabalhadores de Imprensa, declarou que a manifestação teve intenção de pressionar o presidente do Cencoex, Alejandro Fleming, para que “sejam outorgadas as divisas aos meios de comunicação para a aquisição de papel-jornal”.
Denúncia
“As únicas armas que temos são o papel e uma câmera”, disse o presidente do Colégio Nacional de Jornalistas, Tinedo Guía, prometendo que, caso o governo não atenda às reivindicações da categoria, mais manifestações deverão ocorrer. Os manifestantes e a oposição afirmam que até “30 mil postos de trabalho” na imprensa venezuelana poderão desaparecer em razão da crise de importação de papel-jornal.
A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol) apoiou o protesto. A entidade afirmou que pretende se reunir com as entidades venezuelanas. O relatório anual da ONG Repórteres sem Fronteiras, divulgado hoje, declarou que a liberdade de imprensa continua deficiente na América Latina, apontando Venezuela como um dos países mais problemáticos.