Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

‘Os EUA não têm mais a supremacia da internet’

Ele foi uma das estrelas da NetMundial 2014, a cúpula internacional sobre a governança mundial da Internet, realizada durante dois dias em São Paulo, e não é para menos. Vinton Cerf (Connecticut, 1943) criou há 41 anos, com Robert Kahn, em um hotel de Palo Alto (Califórnia), um sistema de redes de computadores que seria o embrião da Internet. Vice-presidente do Google e presidente do ICANN, o órgão encarregado de determinar nomes e números na Rede, ele agora tenta salvar sua criatura e é firme partidário da neutralidade da Rede, um dos mantras da reunião.

Pergunta: O que acha da decisão da FCC (a Comissão Federal de Comunicações dos Estados Unidos) de abrir a porta para uma Internet com duas velocidades, o que acabaria com a neutralidade?

Resposta: Não me parece acertada e foi surpreendente. Está certo que haja uma Internet de alta velocidade, mas não sei quais serão as consequências. Por exemplo, acho que pode criar problemas para as startups tecnológicas que não possam oferecer esses serviços de ponta, privilegiando as empresas que de fato possam oferecê-los.

P: Como vice-presidente do Google, o que achou do andamento da cúpula e da Lei do Marco Civil aprovada pelo Governo brasileiro?

R: Eu respondo em caráter pessoal, não como representante da empresa. Reuniões como esta significam uma grande oportunidade, discutem-se princípios e oportunidades e não há tantas ocasiões em que empresas, Governos e membros se reúnam em um mesmo lugar. Mas se trata de um roteiro, estamos somente no princípio de um processo e este não é o final da história. Temos de ser capazes de construir um processo e de criar novos incentivos e oportunidades para esses 4 bilhões de pessoas que ainda não podem ter acesso à Internet.

P: Parece haver uma divisão entre aqueles que propõem uma governança da web multissetorial (Governo, empresas e sociedade civil) e os que defendem um sistema multilateral (só dominado pelos Estados).

R: Essa é uma ideia terrível. Em mãos de Governos pouco democráticos como os da Rússia e da China, e poderia conduzir à fragmentação e à balcanização [divisão conflituosa] da Rede.

P: Muitos argumentam dentro e fora da cúpula que os Estados Unidos continuam tendo a supremacia na Rede.

R: Isso não é correto. É um mito. Eles a tiveram há 40 anos, mas agora há muitos atores e muita concorrência.

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Cecilia Ballesteros, do El País