Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Conexão com o exterior com velocidade dobrada

Os pesquisadores no Estado de São Paulo poderão receber e enviar dados pela internet para colegas do exterior com maior velocidade de transmissão a partir de 2015.

A Rede ANSP (Academic Network at São Paulo), que interliga pesquisadores de São Paulo com os de outros países, planeja instalar no próximo ano um link de 100 gigabits por segundo (Gbps) até Miami, nos Estados Unidos, trafegando por 10 mil quilômetros de cabos de fibra óptica submarinos já existentes entre as duas cidades.

Com isso, a velocidade de comunicação das universidades e instituições de pesquisa integrantes da Rede ANSP com as redes acadêmicas dos Estados Unidos e de outros países – atualmente de 40 gigabits – poderá ser 2,5 vezes maior e 50 mil vezes mais rápida do que o acesso em banda larga mais comum no Brasil, de até 2 megabits por segundo (Mbsp).

“Estamos em fase de testes e esse link deverá começar a funcionar no primeiro semestre de 2015”, disse Luis Fernandez Lopez, coordenador geral da Rede ANSP, à Agência FAPESP. “Será a primeira conexão de internet acadêmica de 100 gigabits entre os hemisférios Sul e Norte.”

De acordo com Lopez, o primeiro link de internet de 10 Gbps conectando São Paulo a Miami foi instalado em 2009. Posteriormente foram instalados mais três links entre as duas cidades, também com 10 Gbps cada.

O problema é que essa velocidade de transmissão começou a ficar saturada. “Para transmitir um pacote de dados de 15 gigabits por segundo, por exemplo, é preciso juntar dois links de 10 gigabits por segundo e fazer uma série de adaptações para conseguir enviá-lo”, disse Lopez.

Ao aumentar a velocidade de transmissão de dados entre a rede acadêmica paulista e a norte-americana para 100 Gbps, será possível obter um fluxo de dados muito maior nos próximos anos, quando entrarão em operação novos supertelescópios e o Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), na Suíça, rodará com maior energia (leia mais sobre megatelescópios em construção em agencia.fapesp.br/19478).

A partir de 2015, começarão a ser testados os sistemas de transmissão de dados do Large Synoptic Survey Telescope (LSST) – um telescópio de 6,4 metros de diâmetro, de grande campo, que está sendo construído por um consórcio norte-americano em Cerro Pachon, no Chile (leia mais sobre o LSST emagencia.fapesp.br/9085).

No mesmo ano, o LHC deverá iniciar a operação com maior energia, de entre 13 e 14 teraelétrons-volt (TeV), em comparação com os 8 TeVs com os quais rodou nos últimos anos. O aumento de energia será acompanhado pelo aumento do número de eventos no colisor (leia mais sobre os experimentos do LHC em 2015 em agencia.fapesp.br/19661).

“Quando esses projetos estiverem em operação, o tráfego de dados entre São Paulo e Miami, da meia-noite às 4 horas da manhã, deverá ser de 80 gigabits por segundo”, estimou Lopez. “O link de 100 gigabits por segundo será capaz de suportar esse aumento do fluxo de dados e permitirá transmiti-lo de uma só vez.”

Lopez afirma que o aumento da velocidade na Rede ANSP para Miami beneficiará não somente pesquisadores das áreas de Astronomia, Física de Altas Energias e Mídias Digitais, que costumam trabalhar com pacotes de dados maiores, mas também de outras áreas. Isso porque, atualmente, há dias em que é utilizada quase que integralmente a capacidade de transmissão de 40 Gbps da rede entre São Paulo e Miami.

“Independentemente do início da operação dos grandes projetos de Astronomia e de Física de Altas Energias, já era preciso mais banda larga para atender à demanda dos pesquisadores do Estado de São Paulo”, disse Lopez.

Conexão mundial

No começo deste ano, as redes acadêmicas dos Estados Unidos (Internet2) e da Europa (Géant2) iniciaram testes de um link de 100 Gbps entre Nova York e Amsterdã, na Holanda.

O link deverá ser estendido nos próximos meses pela Internet2 de Nova York para Miami e São Francisco, nos Estados Unidos, onde haverá em 2015 um outro link com o Japão, mantido pela rede acadêmica asiática – a Asia Pacific Advanced Network –, também com velocidade de transmissão de 100 Gbps.

Assim, a velocidade de comunicação pela internet entre pesquisadores do Estado de São Paulo com os da Europa e da Ásia, além dos Estados Unidos, também será mais que duplicada em 2015.

“Teremos a partir do próximo ano um backbone [rede principal de tráfego de dados pela internet] em T de 100 gigabits por segundo entre Brasil, Estados Unidos, Canadá, Europa e Japão”, disse Lopez. “E já estamos discutindo tecnologias para links de 400 gigabits por segundo.”

A Rede ANSP mantém desde 2004 um ponto de presença em Miami, no ponto de tráfego chamado de NAP das Américas, onde é feita a conexão tanto com as redes acadêmicas internacionais como com a internet comercial internacional.

O ponto de tráfego é mantido pela rede acadêmica paulista em colaboração com a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), de abrangência nacional, e o Center for Internet Augmented Research and Assessment da Florida International University (Ciara-FIU), por meio de acordos internacionais.

A parceria com o Ciara-FIU para estabelecer um link da rede acadêmica paulista com Miami começou a ser planejada em 2002, quando a internet comercial brasileira – nascida e administrada inicialmente pela Rede ANSP – passou a ser gerida pelo governo federal. A rede acadêmica paulista retomou, então, sua finalidade inicial, de prover infraestrutura de rede para pesquisadores do Estado de São Paulo.

“Nessa fase de transição percebemos que, como a colaboração em pesquisa estava se tornando cada vez mais internacional, era fundamental prover aos pesquisadores de São Paulo uma boa conectividade de internet; para isso, precisávamos ter um bom acordo de cooperação com um grupo de pesquisadores no exterior”, contou Lopez.

“Como todos os cabos submarinos do Brasil vão para Miami e a Universidade Internacional da Flórida estava disposta a colaborar com países da América Latina, Miami acabou se tornando um ponto ideal para estabelecermos um link”, contou. 

Expansão do atendimento

A Rede ANSP foi criada em 1989, pela FAPESP, com o objetivo de conectar pesquisadores do Estado de São Paulo dentro do próprio estado, com os de outros estados brasileiros e com outros países.

Inicialmente, a rede acadêmica paulista conectou grupos de pesquisadores da área de Física de Altas Energias das Universidades de São Paulo (USP), Estadual Paulista (Unesp) e Estadual de Campinas (Unicamp), além do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), com o Fermi National Accelerator Laboratory (Fermilab) em Chicago, nos Estados Unidos.

Hoje, passados 25 anos de sua criação, a Rede ANSP conecta sete universidades públicas paulistas e mais de 40 instituições de pesquisa situadas em São Paulo à rede mundial de computadores. E viabiliza grandes projetos de pesquisa colaborativos em áreas como Genômica, Biodiversidade, Astronomia, Física de Altas Energias e Fotônica, entre diversas outras.

“A Rede ANSP viabilizou e continua a viabilizar a realização de pesquisas científicas que não poderiam ser feitas de outra forma a não ser por meio de redes de colaboração”, avaliou Lopez.

A rede acadêmica paulista presta dois importantes serviços à comunidade de pesquisa do Estado de São Paulo. Em primeiro lugar, fornece um ponto de troca de tráfego para que as universidades e instituições de pesquisa de São Paulo se conectem tanto entre elas como com as redes acadêmicas de outras partes do mundo e com a internet comercial brasileira e internacional.

O segundo serviço é o provimento de links especiais para grupos de pesquisadores que necessitam de uma conectividade própria e específica, como os do Centro de Pesquisa e Análise de São Paulo (Sprace), abrigado no Núcleo de Computação Científica da Unesp e apoiado pela FAPESP.

A estrutura computacional do Sprace integra a colaboração Solenoide Compacto de Múons (CMS, na sigla em inglês), do LHC, e conecta os pesquisadores do grupo de Física de Altas Energias da instituição a colegas em Genebra, na Suíça.

“Também mantemos circuitos virtuais, de bandas muito largas, entre São Paulo e Chile, para possibilitar o acesso de pesquisadores daqui ao telescópio Soar [sigla de Southern Observatory for Astrophysical Research]”, contou Lopez.

Segundo Lopez, alguns dos principais desafios tecnológicos para a rede acadêmica paulista são garantir a segurança e a não interrupção na transmissão de dados entre os pesquisadores que participam desses grandes projetos de pesquisa colaborativa.

“Temos que ampliar cada vez mais a capacidade das nossas redes de modo a não causar nenhum problema para a realização das pesquisas científicas. Um cientista envolvido em um grande projeto de astronomia não pode se preocupar com a maneira como o seu pacote de dados será transmitido de La Serena, no Chile, para São Paulo, por exemplo”.

Entre os dias 25 e 27 de julho, a Rede ANSP realizou, no teatro central da Faculdade de Medicina da USP, sua 6ª Reunião Semestral. A programação do evento foi composta por cursos e simpósios sobre cibersegurança, novas tecnologias de redes e sobre os 25 anos da ANSP. 

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Elton Alisson é repórter da Agência Fapesp