Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Eleições, ciência e tecnologia

Um tema sempre fica fora do debate eleitoral: ciência e tecnologia. Até o momento, apenas Marina Silva divulgou seu programa de governo completo, onde dá para ver como o tópico é desenvolvido. No programa do PSB, o termo “ciência” aparece 62 vezes e boa parte do texto desenvolve suas conexões com educação e cultura. Nada mal para uma candidata frequentemente estigmatizada por suas convicções religiosas.

O fato é que o Brasil vai mal nessa área. O número de publicações científicas aumentou, mas a qualidade caiu (em termos de impacto, fomos de 31º para 40º lugar entre 2001 e 2011). Além disso, alunos brasileiros não estão preparados para fazer ciência. O último ranking da OCDE coloca o país em 59º lugar dentre 65 países pesquisados no desempenho em ciências (em matemática ficamos em 58º de 65).

Além disso, conquistas feitas na área de ciência e tecnologia estão ameaçadas. Em abril deste ano o Brasil marcou um gol ao realizar em São Paulo o evento chamado NetMundial. Em um momento em que o controle da internet está em jogo, especialmente após o caso Snowden, o país aproveitou a oportunidade. Convocou representantes globais e ensaiou tornar-se protagonista desse debate.

Só que até isso agora está em jogo. O FEM (Fórum Econômico Mundial), com conhecimento do governo brasileiro, decidiu criar a chamada NetMundial Initiative (Iniciativa NetMundial). Com isso, tomou das mãos do país o protagonismo construído com enorme esforço em abril passado. Até o nome, em português, foi solapado. Representantes do governo assentiram e até participaram do encontro realizado em Genebra há duas semanas para sacramentar essa sutil “passagem de bastão”.

É como se fossem lá para ouvir: “Obrigado por terem levantado a bola, mas agora quem continua o jogo somos nós”. Não é nem o caso de recriminar o FEM, que apenas faz seu papel. Quem não fez sua parte nesse tema tecnológico crucial foi o Brasil, que largou a bola.

Mercado relevante

Há também um tema ausente de todos os programas de governo em ciência e tecnologia. Nos próximos anos, haverá uma inclusão digital massiva da base da pirâmide social global. Isso vai acontecer principalmente por meio dos smartphones.

O Google, por exemplo, acaba de anunciar o Android One, aparelho de baixo custo a ser vendido em países de baixa renda. A Mozilla (empresa da qual, vale dizer, faço parte do Conselho de Adminstração) faz o mesmo, e vende seu smartphone a menos de 30 dólares.

Com isso, o que o país precisa é direcionar esforços para se tornar um laboratório de mídia voltado para a produção de tecnologias para países em desenvolvimento (incluindo aplicativos e outros conteúdos). Seria uma espécie de “MIT Media Lab” focado nas necessidades dos países pobres.

Quem fizer isso antes, herda um mercado de 5 bilhões de pessoas.

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Ronaldo Lemos é advogado e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro