Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Brasil está capenga em banda larga

Na semana passada [retrasada] saíram dois relatórios fundamentais para quem quer entender a importância da conexão à rede em alta velocidade para o desenvolvimento.

O primeiro foi publicado pela Unesco e pela UIT (União Internacional das Telecomunicações). Com o título “O Estado da Banda Larga em 2014”, ele traz um comparativo entre os países sobre o acesso à internet de alta velocidade. No ranking, a posição do Brasil não é animadora. Apesar de fazermos parte do clube de países que possuem um Plano Nacional de Banda Larga, o resultado não é alentador.

A cada 100 habitantes, temos apenas 10,1 assinaturas de banda larga fixa, ficando na 73ª posição mundial. Somos batidos por países como México (11,1), Chile (12,3), ou Rússia (16,6). Com relação ao percentual de domicílios com acesso à rede ficamos 34º lugar com 42,4%. Perdemos para Chile (49,6%), Uruguai (52,7%) e Argentina (53,9%). Mesmo em internet móvel, estamos na 37ª posição, atrás da Tailândia e de Botsuana.

Perdemos também no percentual absoluto de pessoas conectadas à rede. Nessa disputa o país fica em 74º lugar, com 51,6%. Hermanos latinos estão à frente: Colômbia (51,7%), Venezuela (54,9%), Uruguai (58,1%) e Argentina (59,9%).

Uma das razões para essas posições é o percentual comparativo de investimentos. Enquanto o Brasil investiu 0,13% do PIB no plano de banda larga, a Argentina investiu 0,4%. A Colômbia criou um programa ambicioso chamado Vive Digital, envolvendo a construção de redes de fibra ótica e a ampliação de serviços governamentais on-line, aplicando para isso 0,62% do PIB.

Debate prioritário

Números assim ficam ainda mais dolorosos em vista de outro estudo publicado semana passada, chamado “Internet e Pobreza: Abrindo a Caixa Preta”. Trata-se de trabalho de fôlego liderado por Hernán Galperin, professor da Universidade de San Andrés na Argentina. Ele demonstra que acesso a internet rápida não é luxo nem perfumaria. Há uma conexão direta entre conectividade e alívio da pobreza, educação e desenvolvimento.

Baseando-se em ampla análise de dados, o estudo demonstra que o acesso à banda larga tem impacto positivo com relação ao crescimento, redução da desigualdade e inclusão social. Por exemplo, mostra que a internet nas escolas reduz as taxas de evasão e de repetência.

A banda larga tem impacto positivo também sobre a renda. O acesso à rede rápida aumentou em até 7,5% a renda dos locais estudados. O mais interessante: banda larga melhora a renda do entorno, até de quem não tem acesso direto a ela, comprovando estudos anteriores.

Com isso, não tem desculpa. Em meio à campanha eleitoral, banda larga deveria ser prioridade no debate. Até o momento, só Marina Silva apresentou seu plano de governo com propostas sobre o tema (entre elas, levar banda larga para as escolas). O que pensam os demais candidatos? Números como os acima querem saber.

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Ronaldo Lemos é advogado e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro