Lamento informar que sei mais sobre o que andou fazendo na remota Jordânia John Kerry, o secretário de Estado norte-americano, do que sobre o que faz o chanceler do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo, instalado em um hotel-bunker a umas seis quadras do meu hotel em Brisbane.
Falha minha? Antes fosse. O único prejudicado seria eu mesmo, porque deixaria de cumprir meu dever de trabalhar para que você, leitor, fique informado.
Mas a falha é do primitivo e amadorístico sistema de comunicação da Presidência da República/Itamaraty quando opera no exterior.
Simplesmente não está na regra do jogo de ambos prestar contas ao público, por meio dos jornalistas que cobrem tais deslocamentos, ao contrário do que fazem todos os governantes de países democráticos e até de alguns países não democráticos.
Exemplo: no momento em que escrevo (sábado, 15, de manhã aqui em Brisbane), está para começar entrevista coletiva do vice-ministro chinês de Finanças, Zhu Guangyao.
Já Guido Mantega, que é ex-ministro mas continua em atividade, não deu as caras até agora. Nem Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, que continua em funções.
Repito: não é problema meu. Com séculos de estrada, fiz fontes suficientes no Itamaraty e no Planalto para recuperar, pelo telefone, as informações que o governo teria a obrigação de dar ao vivo.
Ou, pelo menos, por e-mail, como os que abarrotam minha caixa postal com informações da Casa Branca e do Departamento de Estado.
Pior dos mundos
Da janela do hotel, vi a passagem da comitiva presidencial norte-americana, bem cedinho. Pouco depois, chega por e-mail a agenda de Obama aqui em Brisbane até domingo.
Já a de Dilma mostra apenas os compromissos oficiais no G20 e com os Brics. Nada sobre seus encontros bilaterais.
O prejudicado com o amadorismo na comunicação é o próprio governo brasileiro. Ninguém sabe, porque ninguém informa, quais são as posições brasileiras sobre a rica agenda do G20.
Ninguém sabe, porque ninguém aparece para falar, o que pensa a presidente a respeito do tsunami que engolfa a Petrobras. Ninguém fala porque não há um porta-voz autorizado a portar a voz da presidente (defeito aliás também de Presidências anteriores), ao contrário do que acontece em países civilizados.
O “site” do Itamaraty parece mais pobre do que o de Burkina Fasso, se é que esse pobre país africano mantém um “site”.
Não há nem sequer um “quem é quem”, com os respectivos telefones, ao contrário do que ocorre em quase todos os outros ministérios.
O pior é que o Itamaraty tinha uma rica tradição de “brifadores”, como o jargão diplomático/jornalístico chama os que fazem relatórios sobre dada atividade com o compromisso de que seu nome não será mencionado.
Isso permite que ele tenha liberdade para entrar em detalhes que o ministro e/ou a presidente não poderiam revelar.
Agora, vive-se o pior dos mundos: não há porta-voz com rosto e nome nem há porta-informação anônimo. E, como bem sabia o Chacrinha, quem não se comunica…
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Clóvis Rossi, da Folha de S.Paulo