Thursday, 07 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Internet, plágio e comodismo na rede

O sítio noticioso O Globo, do Rio de Janeiro, publicou na segunda-feira (1/12) uma notícia que qualquer um qualificaria como mais uma “pegadinha” da rede: “Perfil do Ministério do Turismo no Instagram publica montagem como se fosse a Marina da Glória”.Além de verídica, a notícia é mais uma prova de que, no Brasil, não é incomum práticas ilegais serem adotadas pelas próprias instituições públicas. No corpo da matéria, vê-se que a montagem em questão é também plágio, pois o autor da montagem não havia liberado a imagem à instituição.

Além de promover uma falácia, o Ministério do Turismo ofereceu uma justificativa pouco convincente. Afirmava que as imagens na rede social faziam parte de um “projeto de conteúdo colaborativo no Instagram, que consiste em estimular o uso de hashtags e, assim, alimentar a rede com esse material”. Terminava a “justificativa”, afirmando que “era a primeira vez que isso acontecia”.

O tema diz respeito às diversas práticas criminosas que ocorrem na rede. Neste campo, a internet tornou-se terra sem lei. Escritores, letristas e poetas são constantemente afrontados com plágios de suas obras, com um agravante: com a distribuição instantânea e ilimitada da web, torna-se impossível reverter o quadro. Poemas e textos de Mário Quintana, Luís Fernando Veríssimo e Martha Medeiros são alguns exemplos notáveis desta onda que avança sem controle. A pior parte: os plágios tornam os textos muito ruins. Geralmente, adulterados por aproveitadores. Ou, em outros casos, poemas e textos são atribuídos a outros autores, que não os verdadeiros.

Prática criminosa

Não há nenhuma lei brasileira que enquadre este tipo de adulteração como crime. Sabe-se que “plágios” desta ordem ainda não são devidamente investigados, nem os infratores punidos. Enquanto isso, tais condutas praticadas por leigos e profissionais continuarão a ser difundidas na internet, tendo como justificativa a pressa e o desejo de “informar em primeira mão, sem pesquisa, sem comprovação, sem checagem das informações divulgadas”.

É necessário levar em consideração o ciberespaço como um ambiente de transformação, com distribuição, consumo e produção de informações. As redes sociais são, além de espaços personalizados, ambientes virtuais em que atores sociais são, ao mesmo tempo, consumidores e produtores da cultura da mídia (SANTAELLA, 2007).

Qualquer conduta que se afaste dos paradigmas que regem o processo de comunicação em qualquer tipo de mídia constitui prática criminosa que, a bem da informação, da cultura e da civilização, deve ser rechaçada. A internet não é e não pode ser tratada como espaço onde vale tudo, terra de ninguém.

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Paula Pires é jornalista