Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Direitos de autor, direito à vida

Quando menino eu perguntava para a minha avó Charloth, que fora violonista na Alemanha: para que serve um maestro? Eu queria saber o porquê daquela figura estranha que não toca instrumento algum.

Não raro, cineastas somos fulminados por essa dúvida. Para que servimos se, com roteiro em mãos, o produtor levantou o dinheiro, o elenco conhece os personagens, o fotógrafo rege a luz? O que fazemos nós, parecendo autênticos “figurantes invisíveis”, antes, durante e depois das filmagens? A pergunta é pertinente, mas o que deve ficar claro é que sem diretor não há filme!

Por que agora os diretores de cinema e do audiovisual resolveram se mobilizar coletivamente para reivindicar sua chancela de autor?

Os profissionais de cinema e TV brasileiros se diferem dos demais da América Latina e do resto do mundo, onde quem assina audiovisual veiculado em cinemas, TVs, blue-ray, celular, streaming e holograma é remunerado por aquilo que desde sempre se chama criação, talento, cultura e conhecimento.

Nós, diretores, somos órfãos dos proventos autorais de filmes que dirigimos, recurso inextricável de nossa própria sobrevivência.

Hiato civilizatório

Para reparar essa defasagem histórica, protagonistas do audiovisual de várias pegadas estéticas preparamos a criação de uma entidade específica para a garantia dos respectivos direitos sobre suas criaturas. Ou seja, está se formando uma empresa, inexistente hoje no país, desde já batizada DBCA (Diretores Brasileiros de Cinema e do Audiovisual) pelos seus incentivadores, egressos da diretoria da Abraci (Associação Brasileira de Cineastas).

É a partir do lastro moral dela, cuja fundação remonta a 1975, então sob a presidência do mestre Nelson Pereira dos Santos, que retomamos o ideário de concretizar a “arrecadação e defesa do direito autoral dos cineastas”, projeto que vingou até o fechamento da Embrafilme, em 1990, pelo governo Collor.

A DBCA é uma sociedade de gestão coletiva, sem ecos gremistas nem laivos políticos e/ou partidários, mas, inspirada e explicitamente apoiada pelas maiores e mais atuantes entidades do mundo: ADAL (Alianza de Directores Audiovisuales Latinoamericanos), DAC (Argentina), Directores México, DASC (Colômbia), ATN (Chile), Writers & Directors Worldwide (França) e CISAC –confederação de profissionais da Inglaterra, Itália, Alemanha, Áustria, Espanha.

Outra pergunta sobre a esdrúxula falta de retorno pecuniário pela veiculação pública de nosso audiovisual que deve ser feita por quem nos assiste é esta: quando não filmam, como sobrevivem os diretores fora da preparação e do set de filmagem ou das ilhas de edição?

No Brasil, acumulamos a função de produtor e de diretor, expediente crucial para respirar em uma cinematografia sempre em construção, ao contrário das redes de TV, que são indústria. Cada um se vê, então, compelido a engendrar sua própria indústria, provocando o terrível interregno de três a cinco anos a separar cada filme do próximo.

Por isso estamos articulados para, com a DBCA, preencher esse hiato civilizatório pela defesa da vida, tanto a nossa como a dos nossos rebentos audiovisuais.

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Sylvio Back, 77, cineasta, roteirista e poeta, é autor de 38 filmes, entre curtas, médias e 12 longas-metragens. Está em fase de preparação de “A História É Teimosa”, docudrama sobre a Guerra do Paraguai