Comemora-se na sexta-feira (13/2) o Dia Mundial do Rádio, data instituída pela Unesco para celebrar o rádio como um meio para melhorar a cooperação internacional entre as emissoras e incentivar as grandes redes e as rádios comunitárias a promover o acesso à informação, a liberdade de expressão e a igualdade de gênero sobre suas ondas.
Para marcar a data, J&Cia pediu a Hamilton Almeida, biógrafo do padre-cientista Roberto Landell de Moura, inventor brasileiro do rádio, para que contextualizasse o nosso ainda pouco conhecido inventor nessa comemoração. Confira o depoimento dele a seguir:
O Dia Mundial do Rádio (World Radio Day – WRD 2015), comemorado neste dia 13 de fevereiro, é uma celebração do rádio como meio de comunicação. É também uma oportunidade para lembrarmos do ainda pouco conhecido e injustiçado padre gaúcho Roberto Landell de Moura, primeiro no mundo a fazer uma transmissão por ondas eletromagnéticas entre dois pontos.
Mais que uma fonte de informação e entretenimento, o rádio tem um poder único: é o veículo que atinge mais pessoas e chega a mais lugares em todo o mundo. É uma ponte de comunicação para as comunidades distantes, as regiões em desenvolvimento e as populações vulneráveis. O rádio é apontado também o meio melhor adaptado para navegar pelas novas fronteiras digitais.
O tema do evento deste ano, promovido em sua 4ª edição pela Unesco, é Juventude e Rádio. A iniciativa marca a união das nações através do rádio, destacando o papel dos jovens na vanguarda das tendências tecnológicas. Mas a Unesco considera que os menores de 30 anos, que representam mais da metade da população mundial, não estão suficientemente representados nos meios de comunicação e esta exclusão é, frequentemente, um reflexo da exclusão social, econômica ou democrática.
Esse olhar para o futuro não deve, entretanto, esquecer o passado. A história mundial do rádio foi construída com o trabalho de diversos cientistas. Começou no século XIX com a descoberta da indução, por Michael Faraday, a teoria eletromagnética de James Clerk Maxwell, as experiências de Heinrich Hertz, e os estudos de Branly, Calzecchi-Onesti, Lodge, Popov, Marconi, Ruhmer, Tesla, Fessenden, Fleming, De Forest…
Não menos relevante foi a participação nessa história de um brasileiro, o padre-cientista Roberto Landell de Moura. Figura ainda pouco conhecida dos jovens e da população em geral, padre Landell foi pioneiro das telecomunicações ao realizar a mais antiga transmissão ponto a ponto e de radiodifusão que se tem notícia em todo o mundo. No domingo 16 de julho de 1899 ele fez uma experiência pública, na capital paulista, em que se comunicou do Colégio Santana, em uma colina da rua Voluntários da Pátria, na zona norte, até a Ponte das Bandeiras, em uma distância aproximada de 3,8 km.
– Toquem o hino nacional –, ordenou o padre-cientista, através do tubo do aparelho. E, em seguida, ouviu-se o som pátrio.
Essa pioneira experiência foi testemunhada pelo fundador e diretor da Escola Politécnica de São Paulo, Antônio Francisco de Paula Souza, o gerente da Companhia Telefônica, J. Miranda, empregados do Telégrafo Nacional, empresários e jornalistas. Seis jornais divulgaram o fato inédito: O Estado de S.Paulo, O Commercio de São Paulo, Correio Paulistano, Jornal do Commercio (RJ), A Imprensa e Jornal do Brasil.
Logo, padre Landell fez outras experiências – entre a Avenida Paulista e o alto de Santana, por exemplo, e também patenteou as suas invenções no Brasil. Apesar de todos os esforços, não recebeu o apoio nem o patrocínio de ninguém e ainda amargou a destruição dos seus incríveis aparelhos por um grupo de fiéis ensandecidos que acreditavam ser ele um padre que se comunicava com o demônio… Firme em seus propósitos e consciente do valor científico que dispunha nas mãos, foi para os Estados Unidos e lá obteve três patentes, no final de 1904.
De volta ao Brasil, acreditando que o novo momento lhe seria favorável, tentou convencer o Governo Federal a utilizar os seus aparelhos nas fortalezas do Rio de Janeiro e não foi atendido. Solicitou recursos ao Governo de São Paulo para industrializar o rádio e também não foi atendido…
Injustiçado em seu próprio país, padre Landell assistiu à instalação da rede de telegrafia marítima e ao início da radiodifusão. Tudo com tecnologia importada. Ficou à margem da história oficial, embora o seu nome seja destacado como o pioneiro na invenção do rádio por um livro italiano – Tu piccola scatola. La radio: fatti, cose, persone, de Laura de Luca e Walter Lobina –, pela Encyclopedia of Radio, edição editada nos EUA e na Grã-Bretanha, e em obras alemãs – Pater und Wissenschaftler, de Hamilton Almeida, e Göttliche Geistesblitz, de Eckart Roloff. Com o passar do tempo, suas patentes norte-americanas foram citadas nas referências de outros seis inventos lá patenteados; além disso, o texto de uma carta-patente de 2012 reconhece o seu pioneirismo na transmissão da voz humana sem fio.
Como que imitando o próprio rádio, a obra do padre Landell sempre ultrapassou as fronteiras nacionais. Por isso, o WRD também é um dia em que ele deve ser lembrado, na esperança de que, um dia, seja celebrado no Brasil como o verdadeiro Pai do Rádio.
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Hamilton Almeida é jornalista