O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, disse não ter visto nenhum problema na moção aprovada pelo 4º Congresso do PT pregando a regulamentação da mídia. Mesmo assim, afirmou que as posições do partido e do governo não se confundem. Para Bernardo, a discussão sobre o assunto está muito “apaixonada” e é preciso esclarecer que nem o governo nem o PT querem controlar o conteúdo da imprensa. “Ninguém vai bisbilhotar a mídia”, insistiu. “Agora, assim como a mídia pode criticar o PT, o PT pode criticar a mídia.”
O governo ainda não tem data para enviar o projeto de lei sobre o assunto ao Congresso, mas Bernardo já prevê mais polêmica à vista. “Vamos mandar a proposta para consulta pública e deixar, entre aspas, o pau quebrar”, disse o ministro.
“O que há é uma polêmica”
O que o sr. achou da moção do PT que pede aos militantes do partido o engajamento na luta pela democratização dos meios de comunicação?
Paulo Bernardo– Não vi nada de extraordinário na moção aprovada. Está dentro dos marcos democráticos.
Na resolução política, o PT diz que o “jornalismo marrom” deve ser responsabilizado toda vez que falsear os fatos e difamar. Isso não virou uma discussão ideológica?
P.B. – A discussão política tem de ser encarada com naturalidade e o PT tem legitimidade para fazer os seus congressos. É importante separar a posição do partido da posição do governo. O PT tem suas posições e o governo tem um programa. A presidenta Dilma declarou com veemência em seu primeiro discurso, logo que foi eleita, que era defensora da liberdade de expressão. Aliás, a Constituição veda qualquer tipo de censura e controle do conteúdo jornalístico.
Mas então por que o PT parece querer revanche com a mídia?
P.B. – Convenhamos que a resolução do PT não fala nada de controle da mídia. Não há ali nenhum tipo de atentado à liberdade de expressão jornalística. O que há é uma polêmica com meios de comunicação. Assim como a mídia pode criticar o PT, o PT pode criticar a mídia.
“Devemos submeter a consulta pública para deixar o pau quebrar”
Quais os principais pontos do projeto que estabelece o marco regulatório da comunicação?
P.B. – O ministro Franklin Martins (do governo Lula) coordenou a elaboração de um anteprojeto que temos a preocupação de aperfeiçoar. Havia, anteriormente, a opção de duas agências setoriais: uma para as telecomunicações e outra para fazer a regulação, por exemplo, do conteúdo de produção nacional, conforme porcentuais estabelecidos em lei. Estamos achando dificuldade em separar as funções. A tendência, agora, é que seja uma única agência. Mas o projeto não trata de jornal nem revista ou internet. Trata de TV e rádio. O marco regulatório diz respeito à comunicação eletrônica.
Mas o objetivo é controlar a programação…
P.B. – De jeito nenhum. E nós somos contra. Nós podemos colocar na lei que determinada programação não pode ser exibida em determinado horário – e já há uma classificação para isso. Então, essa agência deve fazer a aferição das obrigações das empresas de veicular conteúdos locais, não fazer discriminação racial nem atentar contra os direitos das crianças e adolescentes. Ninguém vai bisbilhotar a mídia. Ninguém irá a uma emissora bisbilhotar o que vai sair no telejornal nem o comentário que alguém fará na rádio.
Políticos e ocupantes de cargos públicos serão proibidos de ter concessão de radio e TV?
P.B. – Sou a favor de colocar isso no projeto. Temos de separar o sistema de radiodifusão do sistema partidário e eleitoral. Ninguém tem ilusão de achar que rádio e TV não têm visão política. Mas, se não estiverem envolvidos diretamente com partidos, em eleição, acho melhor.
E quando o projeto será enviado ao Congresso?
P.B. – Estamos fazendo a revisão do texto e a ideia é discutir com outros ministros. Acho que, antes de mandar ao Congresso, devemos submetê-lo a consulta pública para deixar, entre aspas, o pau quebrar. Fazer o projeto de afogadilho pode nos levar a erros e aí a discussão ficará ainda mais apaixonada.
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[Vera Rosa é jornalista do Estado de S.Paulo]