Setembro, mês do Dia do Rádio e do Dia do Radialista, terminou bem para a Rádio Capital AM, de São Paulo, e para todo o rádio brasileiro. A Rádio Capital está salva.
Um mês atrás, escrevi para este Observatório um artigo em que alertava que não havia notícia positiva para se comemorar o aniversário da chegada do rádio ao país, ocorrida há 87 anos (ver ‘O rádio aos 87 anos, a má notícia‘). De fato, no início de setembro era dado como quase certo o arrendamento ou venda da Rádio Capital para o pastor David Miranda, da Igreja Pentecostal Deus é Amor. Uma vez que pastores de igrejas eletrônicas e suas pregações costumam ocupar todo o tempo das emissoras por eles controladas e não abrem espaço para programas de músicas, jornalismo e esportes, a Rádio Capital, segundo lugar em audiência entre as AMs na região metropolitana de São Paulo, estava condenada à extinção. Além da perda de 60 empregos de diferentes atividades, entre os quais 20 de jornalistas, a provável mudança do controle daquela rádio significava prejuízo para os ouvintes e para o veículo rádio.
O último dia de setembro, porém, consolidou uma completa virada: na quarta-feira (30/9), o diretor-geral da Rádio Capital, Francisco Paes de Barros, convocou todos os chefes de departamento da emissora e pediu-lhes que transmitissem aos demais funcionários a informação de que a Capital não será mais vendida ou arrendada. Alguns minutos antes, ele havia tido uma reunião com o dono da rádio, Nelson Morizono, que, ao lado de assessores, lhe garantiu: nos últimos meses surgiram vários grupos interessados em adquirir o controle da emissora, mas o empresário, depois de muito refletir, decidiu conservar esse patrimônio em seu poder.
Ao mesmo tempo, o alto comando da empresa autorizou Francisco a prosseguir todos os projetos em andamento nas áreas comercial, técnica, jornalística, artística, esportiva e administrativa. Está confirmado, por exemplo, o apoio da Rádio Capital à tradicional Missa da Padroeira, na Praça da Sé, no feriado de 12 de outubro. Desta vez, haverá duas novidades: a missa será celebrada pelo cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, e marcará os 40 anos de carreira de Eli Corrêa, o comunicador de maior audiência do rádio do país.
Sol de primavera
A notícia positiva se espalhou pelo prédio de cinco andares da Rádio Capital, devolvendo o entusiasmo a toda a corporação. Por mais que os profissionais dissessem que tentavam trabalhar normalmente em setembro, havia um evidente sentimento de preocupação com os rumos da emissora e com o futuro de cada integrante da equipe.
A reação começou em 7 de setembro, quando Francisco Paes de Barros distribuiu aos funcionários um comunicado com um título que deixava interrogação: ‘A Rádio Capital foi vendida para o missionário David Miranda?’ No texto, ele ressaltava que a rádio passou por completa reformulação nos últimos quatro anos e meio, tornando-se lucrativa e ampliando seu prestígio junto aos ouvintes: ‘Neste período, a Rádio Capital AM tem colocado em prática um estilo de rádio popular com responsabilidade social, valorizado por comunicadores e pelas equipes de jornalismo e de esportes. No campo da fé, a Capital é uma rádio ecumênica.’ Ao final, o diretor ressaltou que ‘o serviço de radiodifusão, embora conduzido por particulares, na essência e na imanência, é público e de relevante interesse social’.
Duas semanas depois, na noite de 21 de setembro, foram festejados, na Assembléia Legislativa de São Paulo, o Dia do Rádio e o Dia do Radialista. Uma sessão solene convocada pelo deputado Eli Corrêa Filho prestou homenagem a vários comunicadores e aos radialistas de modo geral. Alguns pronunciamentos ao microfone da Assembléia foram caracterizados pela defesa da Rádio Capital. Paralelamente, os portais e sites de internet voltados para o dia-a-dia do rádio no país também focalizaram a situação e deram voz a quem alertava sobre os riscos de São Paulo perder uma grande emissora.
Entre as informações mais fortes sobre a possível venda da Rádio Capital e a recente notícia do afastamento da ameaça, transcorreu um mês inteiro. Foi um mês de tensão, de batalha e de esperança. E tudo terminou bem.
Terminou bem apenas por enquanto? Nunca se sabe. Empresário busca lucro, seja fabricando pão ou remédio, seja bancando uma emissora de rádio que faz a alegria e soluciona problemas de tanta gente das classes C e D. De qualquer modo, uma vez que nada é eterno, sabe-se que Morizono pode mudar de idéia no futuro. Mas este setembro de 2009 está destinado a entrar para a história do rádio brasileiro. Era um mês tão chuvoso e sombrio… E terminou com o brilhar do sol da primavera.
******
Jornalista, professor de Jornalismo na PUC de São Paulo