O DiBEG (Digital Broadcasting Experts Group) foi criado em 1997 para ‘promover o ISDB-T [padrão japonês da TV digital] no mundo’. A vice-presidência do DiBEG é ocupada pela NEC Corporation, que também coordena o grupo de trabalho de demonstração do DiBEG.
Foi a NEC que financiou a montagem do laboratório de TV digital na Universidade Mackenzie, que ficou responsável pelos testes do grupo Abert-SET sobre a qualidade da recepção dos diferentes padrões de modulação. Estes testes ainda hoje são citados como os que têm demonstrado a melhor qualidade de recepção do ISDB.
Com a saída de SBT, Bandeirantes e Record, a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) é hoje completamente hegemonizada pelas Organizações Globo.
Também a SET (Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão e Telecomunicações) é uma entidade que sofre bastante influência da Globo, que ocupa a vice-presidência (Liliana Nakonechnyj) e a diretoria de TV aberta (Fernando Bittencourt). O professor Gunnar Junior, coordenador do Laboratório de Rádio e TV digital da Universidade Mackenzie, é coordenador de ensino da SET.
Ocorre que a NEC do Brasil S.A. foi controlada durante 13 anos pela GloboPar, holding da família Marinho. A compra da NEC do Brasil pelos Marinho ocorreu em 1986 e chegou a provocar a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados.
Contrato sigiloso
A NEC do Brasil pertencia a Mario Garnero, que não queria vender a empresa para Roberto Marinho, apesar de ser esse o desejo da matriz japonesa. Foi, então, que o ministro das Comunicações, Antonio Carlos Magalhães, determinou que a operadora de telecomunicações Telebrás (monopólio estatal) suspendesse as compras da NEC do Brasil.
Sem ter compradores para seus produtos a empresa quase faliu e foi adquirida pelos Marinho por um preço simbólico. Imediatamente a Telebrás voltou a comprar equipamentos da NEC do Brasil. Em retribuição, menos de um mês depois a Globo rompeu o contrato com sua afiliada baiana (TV Aratu) e passou a ser retransmitida pela TV Bahia, de propriedade de ACM.
Em 1999, a GloboPar vendeu o controle da NEC do Brasil de volta para a NEC Corporation. Como o contrato não foi tornado público, até hoje não se sabe se a família Marinho ainda possui ações da NEC do Brasil.
Produção de transmissores
Enquanto a NEC do Brasil (ex-controlada da GloboPar) patrocina os testes que afirmam a melhor qualidade do ISDB japonês (do qual a NEC é parte integrante), a Câmara de Comércio Exterior (Camex) reduziu a alíquota de importação de determinados bens de informática e telecomunicações para apenas 2%. Na lista divulgada pela Camex podemos encontrar ‘transmissores digitais de televisão em VHF e UHF’ (NCM 8525.10.39 – BIT – Ex 001).
Segundo afirmações do próprio ministro das Comunicações, Hélio Costa, em texto publicado na Folha de S.Paulo, 28/4/2006, a NEC já anunciou o desejo de produzir os transmissores digitais caso o Brasil venha a escolher a tecnologia japonesa ISDB.
******
Jornalista, mestre em Comunicação, coordenador-geral do Instituto de Estudos e Projetos em Comunicação e Cultura (Indecs) e integrante do Coletivo Intervozes