Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

A ética como elemento essencial

O ser humano que vive das necessidades dos demais de seu grupo deve propor-se em deter considerável conhecimento das realidades morais e éticas desta sociedade a fim de manter sua imagem preservada e aceita, sendo esse parâmetro elemento essencial para sua sobrevivência enquanto empresário.

Os indivíduos que convivem têm a idéia de ambiente favorável, com base na sua rotina de vida. Quando as condições de vida são alteradas, bruscamente ou não, a tendência é que haja uma reação por causa do desconforto que essa alteração pode causar e o estudo das causas dessas alterações por organizações de controle social ou outras organizações aderentes ao bom viver humano. São estas alterações que provavelmente servem de objeto de análise para a avaliação da atuação de determinadas empresas exploradoras dos recursos dispostos na natureza ou das necessidades do ser humano.

Se o objeto de análise para uma efetiva investida empresarial são as alterações na vida humana, então, cabe ao empreendedor ou explorador prever as alterações possíveis, causadas pelo seu ato comercial, a fim de prevenir-se, evitando ranhuras na imagem e no relacionamento seu e de sua empresa com a sociedade.

Empresário é definido na lei como o profissional exercente de ‘atividade econômica para a produção ou a circulação de bens ou de serviços’ (CC, art 966).

Mundo competitivo e auto-condicionador

Este conceito também abarca certas relações e atribuições características do empresário como sendo ele responsável em saber de ocorrências da sociedade alcançadas pelo seu ato comercial ‘porque o profissional, o empresário tem o dever de conhecer estes e outros aspectos dos bens ou serviços por ele fornecidos, bem como o de informar amplamente aos consumidores e usuários’ (COELHO, 2004). Cada empresário deve ter a consciência de que é responsável pelos possíveis danos causados à sociedade, através de seus atos comerciais, não apenas por questões ligados à possível repressão e retaliação da sociedade quanto ao seu produto, mas porque a sobrevivência de sua gestão empresarial depende da forma com que esta sociedade passará a ver a imagem da empresa ou de seu produto, sabendo que a possibilidade de escolher, entre uma diversidade de produtos produzidos por uma infinidade de empresas, contribui como arma de defesa do consumidor. Observando ainda que este modelo de comportamento da sociedade limita-se às sociedades que vivem num país democrático e com liberdade de expressão, o que não acontece nos países totalitaristas.

Srour (2000) dedica sete páginas do livro à questão de um ‘por quê?’ da necessidade da ética nos negócios, citando o exemplo da J&J (Johnson & Johnson, empresa de analgésico dos Estados Unidos, responsável pela fabricação de analgésicos), quando teve um de seus produtos contaminados com cianeto; o quanto investiu para recuperar o mercado e restaurar a imagem e reputação da empresa junto à sociedade e à imprensa. As vendas do produto chegaram a cair mais de 12% por mês (de acordo com publicação em revista, revista Exame de 08/11/1995).

Há uma grande justificativa para atitudes como estas; fatores que tem uma justificativa econômica e pessoal, uma empresa com o porte da Johnson & Johnson não gastaria milhões de seus cofres por uma causa que não viesse a lhe dar retorno no futuro, é tanto que hoje, não se pode negar que ela mantém-se no mercado com uma imagem ainda de respeito comercial. Apesar dos fatos não terem acontecido no Brasil houve uma exposição em toda a imprensa. O que se dá a entender pode ser uma idéia sumária da necessidade da ética como elemento essencial apresentada por Bocatto (2005), um consultor de empresa e mestre em mercado e comunicação, ‘a falta de ética poderá derrubar a imagem de sua empresa’. Está aqui, talvez, um fundamento para a observação de todas as reações do mundo interno e externo às empresas para que se tenha vitalidade num mundo competitivo e, de certa forma, auto-condicionador das relações humanas.

Observando o comportamento

A presença da Imprensa, como agente denunciadora, apelando para os órgãos fiscalizadores da qualidade de serviços e produtos, a fim de orientar a sociedade, tanto no consumo quanto da vigilância ao adquirir esses serviços ou produtos, é um aliado fortíssimo da sociedade. A única coisa que preocupa é que vemos sendo denunciadas marcas de produtos quase que desconhecidas, ou de pouca representação. Há três possibilidades para esse evento. Uma delas é que as grandes marcas respeitam todas as exigências que a lei requer, e a sociedade está profundamente satisfeita com elas. Outra é que não há fiscalização, ou a fiscalização é escassa ou ela negocia a fiscalização antes de entrar dentro dessas empresas. Por fim, a imprensa pode está comprometida comercialmente com essas empresas a ponto de sofrer sanções nas prestações de serviço de marketing dessas empresas.

Alem dos aspectos legais de controle, aqueles que asseguram legalidade, licitude, atribuição criminal além de regras e sanções para prevenir a concorrência predatória como a dos cartéis (SROUR, 2000), e de toda essa conjuntura de possibilidades mencionada acima, há fatores da concorrência que dependem do comportamento das empresas e dos empreendedores mais que os aspectos legais. A moral empresarial, no trato e no respeito com os seus consumidores, ou dependentes do seu serviço, que reflete uma postura ética, é elemento que as normas estatais atribuem a uma certa voluntariedade das empresas. Não se deve desprezar que a conservação da imagem da empresa e do empresário reflete diretamente nos produtos e ou serviços prestados por ela e, sendo assim, o comerciante deve primar-se por um comportamento socialmente responsável.

Ajustar comércio e sociedade reporta para a junção do capitalismo com a sociedade, realidade expressa com o surgimento dos direitos que a sociedade adquiriu através de luta e reações comportamentais. Elementos como as redes de proteção ao cidadão, aos consumidores, aos usuários de serviços públicos, aos contribuintes, às vítimas e as testemunhas de crimes, embora prestando um serviço sem muito apoio das agentes fiscalizadores e autoridades públicas, demonstra que, de alguma forma alguém está observando, ainda que superficialmente, o comportamento de quem explora as necessidades sociais para sobreviver.

‘Cura’ para um mal já feito

Essa participação da sociedade no conjunto das relações universais, incluindo o comércio, vem sendo as bases de um capitalismo social (SROUR, 2000), que revela uma postura ética mais consistente. Não seria uma forma de suprimir o capitalismo, mas socializa-lo, a fim de, futuramente, a sociedade ter corporativismo e mais coletividade. O corpo empresarial deve ser elemento ativo nesse processo, ter lucro excessivamente e imediato pode ser a perda dos consumidores e extinção no mercado. É preciso uma compreensão da ética e da responsabilidade social, que envolve essas relações entre sociedade, empresa e comércio. A responsabilidade social empresarial, de que nos propomos a descrever nesse momento, diz respeito à tomada de decisão orientada eticamente, não encerrada à satisfação monista, mas, além disso, condicionada à preocupação com o bem-estar da coletividade. Seguindo às premissas que envolvem o mundo de vivência humana, considerado também como o locus das relações, como: respeitar os interesses da população, preservar o meio ambiente e satisfazer às exigências legais (SROUR, 2000), para, a partir daí, sugerir-se como parceiro social, não seguindo um caminho que faz um mal e depois cria um bem, entendendo que esse bem irá ‘curar’ um mal já feito.

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Cientista da Religião, especialista em Psicopedagogia e Docência para o Ensino Superior