Desventurada hora em que queremos escutar uma boa música no rádio e, depois de percorrer exaustivamente várias estações, tudo o que conseguimos sintonizar são aquelas dez melhores canções que tocam todos os dias ou uma voz que estimula incansavelmente a que compremos tal produto e tenhamos qual serviço que vai eliminar nossas pretensas frustrações materiais e deixar-nos mais felizes, bonitos e satisfeitos.
Em horário comercial, é o que se encontra na maioria das estações de rádio. Os idealizadores desta tecnologia no século 19 não imaginavam o alcance que esta invenção teria, que já foi usada para fazer propaganda política em tempos de guerra. É mister destacar que a finalidade do rádio não é só tocar música como se poderia esperar, uma vez que este meio de comunicação serve até de forma de contato no transporte aéreo e marítimo.
Quanto ao conteúdo musical, o repertório de uma rádio é escolhido em função do segmento de audiência que ela quer alcançar e das diretrizes da indústria de fonogramas que determinam quais canções devem compor a lista das mais tocadas. O espectador é cúmplice de uma trama comercial quando pede uma canção pelo telefone. A música é apenas um aspecto, que me parece fator de isca criado por algumas emissoras para outros fins.
Poucas propostas de intervenção
Entendo a liberdade de empreendimento e expressão como importante e necessária para o desenvolvimento do país e de uma cidadania global, mas lamento que os que mais deveriam ouvir e apreciar os programas educativos da rádio, quando e onde os tenha de qualidade, são os que menos o fazem por cair na trama publicitária das ’10 mais ouvidas’ que eles mesmos solicitam por telefone.
As finalidades do rádio são tão diversas, porém, que, enquanto um número de emissoras depende de propaganda e outras formas de incentivo privado para divulgar, lucrar e sobreviver, há também as que dedicam seu tempo ao jornalismo responsável e à programação de melhor qualidade educativa. Dependendo de sua fonte de financiamento e orientação ideológica, algumas dedicam também minutos a conselhos religiosos e preces.
A famosa Voz do Brasil, por muito tempo ofereceu alternativa compulsória ao avanço da rádio privada e tentou aproximar o cidadão brasileiro da política, embora sofresse resistência de alguns setores. Trata-se do programa de rádio mais antigo do país e que informa sobre as atividades dos poderes federais. Aproveito a oportunidade para recordar a função social de rádios comunitárias, que sofrem de travas burocráticas para licença de emissão.
Seja no rádio AM, cujo sinal chega mais longe e de qualidade inferior por ser modulado por amplitude, ou no FM, cujo sinal tem menor alcance e qualidade superior devido à modulação por frequência, as opiniões e propostas críticas de intervenção na sociedade são escassas, a menos que alguma rádio comunitária dê voz aos excluídos. Antes que se reprima a falta de papéis pela burocracia, que poucas vezes lhes dá o direito de falar.
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Analista de relações internacionais